Cinco amigas e suas mentes criativas
High Five Stories
Finn seguiu Rachel até uma pequena sala, que ele logo deduziu ser dela pelo tom salmão nas paredes, as flores delicadas e alguns pôsteres da Broadway.
–Vamos preparar a aula de hoje.- ela disse sem olhar para ele, pegando umas partituras e livros de uma pequena e abarrotada estante.
Finn a observava mover-se no pequeno lugar com habilidade. Ele, porém, era mito grande, ocupava muito espaço na saleta dela e não sabia o que fazer:
–Você quer ajuda?
–Não.
–Ok, acho que a gente não começou com o pé direito. - ele suspirou. – Meu nome é Finn Hudson. Tenho vinte e cinco anos. Sou de Ohio. Minha mãe é casada com o pai do Kurt.
–Atropelou Will Schuester quando estava dirigindo alcoolizado, já sei.- cortou Rachel.
Finn bufou, frustrado:
–Será que você pode ficar sem me jogar isso na cara todo o tempo?
Rachel olhou-o de cima a baixo, como se ainda estivesse o avaliando.
–Ok, vamos para a sala dos pequenos.
Os professores da Musical House chamavam carinhosamente de “sala dos pequenos” a que crianças de seis a oito anos tinham aulas. Antes mesmo de chegar ao local, Finn escutou a algazarra estridente da criançada, e ao parar à porta, entendeu motivo: uma loira bonita estava pintada quase dos pés à cabeça enquanto as crianças rolavam pelo chão, sobre ela e pulavam de um lado pro outro, ensandecidas.
–Brittany!- Rachel berrou.- O que aconteceu? Você está toda pintada, eles não deveriam estar dançando?
–É que eles me ofereceram tinta, aí eu não resisti.- a loira respondeu com um sorriso ingênuo.
–Ai, meu Deus, quem deixou a Britt sozinha com os pequenos? Ela tem a idade mental deles!- Rachel resmungou, enquanto tentava botar ordem na sala.- Tá bom, crianças! Chega! Tia Britt agora vai...vai tomar um banho, Brittany...ahn, gente, este é o tio Finn.- ela disse apontando para o homem de quase dois metros ao seu lado, formando um engraçado contraste com sua altura.
Os meninos olhavam Finn com um interesse que durou apenas alguns minutos, depois voltaram a pular, correr e gritar.
–Gente, gente!- Rachel batia palmas.- O que vocês querem fazer hoje?
–Karaokê!- berrou um ruivinho.
Todas as crianças gritaram em coro “karaokê!”, “karaokê!”
–Eu vou buscar o aparelho de karaokê, fique de olho neles, tá certo?- Rachel dirigiu-se a Finn.
–Você vai me deixar aqui com eles? – ele perguntou, aterrorizado.
Rachel apenas arqueou uma sobrancelha com desdém e saiu da sala.
“Você tá ferrado”, Finn pensou consigo mesmo. As crianças pareciam gremmilins, pulavam, gritavam, puxavam o cabelo umas das outras, zoavam, choravam, brigavam, se engalfinhavam... aquilo era pior do que estar no meio de um fogo cruzado.
{...}
–Rachel!- Santana se espantou.- Não era para você estar em sala?- perguntou a professora latina, que estava com uma caneca de café em mãos.
–Sim, mas meu ajudante está lá.- disse Rachel calmamente, recostando-se numa poltrona na sala dos professores.
–Você deixou o coitado sozinho com a turma dos pequenos? Sério?!
{...}
Finn já estava atordoado com tanta barulheira, e Rachel, ainda por cima, estava demorando mais do que era provavelmente normal. Então, ele teve a ideia de cavucar os instrumentos musicai que estavam a um canto da sala e encontrou uma gaita. “Acho que isso aqui serve”, ele pensou consigo.
–Tá legal, galera, vamos lá!- ele chamou a atenção dos alunos.- Vamos cantar!
{...}
Silêncio naquela sala. Quer dizer, não era bem silêncio, mas sons harmoniosos de vozes cantando junto e uma gaita ecoavam da sala para onde Rachel se dirigia, e não os típicos barulhos de uma bagunça generalizada.
Ela ficou parada à porta, encantada: todos estavam sentados no chão, formando uma roda em torno de Finn, que estava no meio, cantando “Love me do”, dos Beatles. A voz de Finn era rouca, boa de se escutar, quente... ele tocava gaita, cantava e sorria para as crianças. Percebendo Rachel olhando-o, ele chamou-a com o polegar, e ela se sentou ao lado dele, cantando os versos da canção:
“Love, love me do
You know I love you
I´ll always be true
So please, love me do
Oh, love me do” …
Ao final da música, em que Finn tocou a gaita nos acordes finais, o sinal tocou e as crianças se dispersaram pelos corredores afora para irem almoçar.
–Você decidiu me testar, não foi?- ele perguntou argutamente, olhando fundo nos belos olhos de Rachel.
–Sim.- ela disse sem rodeios.- E você saiu-se muito bem.
–Noooossa... ganhei meu dia.- ele disse, irônico.- Parece que finalmente a gente a tá começando a se entender.
–Bom, você já demonstrou que tem jeito com crianças e música, então, eu acho que qualquer pessoa que goste destas duas coisas ainda tem salvação.
Finn ainda a fitava de forma muito forte, como se estudasse as feições de Rachel:
– Eu preciso mudar, ok? Só espero que você não me atrapalhe nos meus planos de ser um cara melhor.
De repente, eles não paravam mais de se entreolhar, Finn sentiu-se atraído por ela, e aquela proximidade dela não ajudava em nada. Sua pele exalava um perfume doce, seus lábios vermelhos eram convidativos a um beijo, os olhos dela eram cor de avelã... e Rachel sentiu algo dentro de si dando voltas, mas era uma sensação gostosa, que se adensava mais e mais ali, próxima a Finn. Ela tinha reservas quanto a ele, mas não admitir o quanto o irmão de Kurt era sexy e bonito era praticamente um sacrilégio.
Depois de intensos segundos de olhares perscrutadores, seus rostos e corpos se aproximaram mais e mais sem que eles percebessem. Rachel colocou a mão sobre a face de Finn, ele pousou a sua em torno da cintura dela, e naquele clima, aquela atração quase palpável no ar, suas bocas colidiram em um encontro quase elétrico, vibrações de fogo, doçura e prazer perpassaram seus corpos, o gosto bom um do outro incentivando suas línguas a se encontrarem, se conheceram, expandirem seus domínios. Um beijo lento e cálido, apaixonado, surpreendente, seus corpos se juntaram, ele apertou a mão ainda mais no corpo dela, ela passeava os dedos em seu cabelo, eles estavam em transe.
–Ah...eu...almoço...vamos...refeitório.- Rachel quebrou o beijo, aturdida, sem fôlego, completamente tonta.
Finn sorriu para ela, passou os dedos sobre os lábios ainda molhados pela boca da garota. De repente, ficar ali poderia se tornar muito interessante.