Cinco amigas e suas mentes criativas
High Five Stories
- "Não voltou a falar com ela?" – questionou Kurt, jogando as cascas de maçã na sacola de lixo e dando para Finn as frutas para que ele cortasse. Finn se assegurou de que não tivesse ninguém perto antes de responder.
- "Deixei uma mensagem quando soube que Hiram estava hospitalizado, mas não me respondeu." – disse apenado. Kurt olhou para ele por um segundo, como se observasse algo muito complicado.
- "Não entendo o que aconteceu. Há umas semanas Blaine e eu esperávamos o momento em que nos anunciaria a data do casamento. Nunca pensamos que se... separariam assim." – murmurou, claramente sem compreender.
Finn não se incomodou em responder. Fazia dois dias que havia chegado em Lima e havia desejado se encontrar com Rachel desde o momento em que ouviu que seu pai estava grade de saúde. Amy entrou na cozinha, carregando uma sacola de mercado e falando animadamente com Burt.
- "Então acho que vou começar com o ballet quando puder, porque quero dançar bem e Sammy já começou e podemos ir juntas." – lhe disse, dando a ele uma pequena sacola e se sentando no colo de seu pai.
- "Encontramos com Sam Evans no mercado. Está de volta pelo feriado." – comentou Burt com seus filhos, se sentando com eles na mesa.
- "Poderíamos nos reunir todos. Sei que Mercedes voltou e Rachel está aqui também." – Kurt se arrependeu de ter nomeado ela quando viu os olhos de sua sobrinha se encher de ilusão e os de Finn lhe dando uma olhada cheia de ódio.
- "Papai, devemos ir ver ela! Sinto muita saudade! Por favor, vamos!" – rogou, juntando suas mãos em sinal de súplica.
- "Não podemos incomodá-la, pulga. Rachel não está passando um bom momento e não acho que tenha tempo para nos ver." – lhe disse, acariciando a bochecha. Amy desceu do colo de seu pai e saiu correndo para o velho quarto de Finn, em que ambos dormiam.
- "Acho que vou levar ela para o parque. Talvez assim se canse um pouco e deixa de fazer perguntas." – propôs Burt pegando seus agasalhos.
- "Realmente espero que saiba o que está fazendo, Finn. Porque, sinceramente, não vejo que estar sem Rachel seja nem uma milionésima parte do maravilhoso que é estar com ela." – lhe disse Kurt, limpando a mesa antes de sair para seu quarto, deixando ele uma vez mais na nuvem de suas dúvidas.
-oo-
Nas últimas semanas, Rachel havia recebido mais golpes do que nos últimos dez anos juntos. Havia terminado com uma relação que achava definitiva e sem mais, havia regressado para sua casa para se deparar com que seu pai requeria uma operação. A neve que encontrou ao sair do hospital só conseguiu aprofundar sua depressão. Ajustou um pouco mais seu casaco, abraçando a si mesma e deixando que seus pés a levassem para algum lugar.
Queria ligar para Finn. Queria falar com ele e lhe pedir que a encontrasse em algum lugar. Queria ter ele a seu lado, sentir seus braços a rodear e o som de sua voz chamando seu nome. Mas não podia: havia entendido que agora ele tinha outras prioridades e havia entendido, porque ela também tinha. Quando pode passar o mal momento da separação, Rachel compreendeu que ninguém mais do que ela sabia quanto doía perder uma mãe, a uma que havia desejado ter toda a vida.
Não podia permitir que isso acontecesse com Amy se ela e Finn não podiam confiar um no outro. E então, ouviu sua voz e todas as barreiras que havia se formado nesses dias se derreteram com a suave neve que caía sobre o casaco.
- "Mais alto, vô!" – gritou Amy, enquanto Burt fazia um esforço sobre-humano para empurrar o balanço.
- "Não posso mais, buneca! Devemos voltar para que tome meus remédios." – lhe explicou.
- "Eu posso fazer isso, tenho bastante experiência." – disse Rachel, se aproximando deles.
- "Rachel..." – murmurou Amy, pulando do balanço e correndo até ela. Ela a abraçou forte, enquanto a menina enchia a bochecha de beijos.
- "Como está, pequena?" – disse ela, também a beijando.
- "Fica com ela, assim posso voltar?" – questionou Burt.
- "Sim, fique tranquilo. Levarei ela antes que o sol se for." – prometeu Rachel, se sentando no balanço e colocando Amy em suas pernas.
- "Senti muitas saudades. Passaram muitas coisas nesses dias." – murmurou Amy, acomodando sua pequena cabeça no peito de Rachel, buscando que ela a abraçasse.
- "Bom, estamos aqui. Me conte o que aconteceu." – contestou ela, apoiando sua própria cabeça na da menina.
- "Sammy começou as aulas de ballet e realmente quero ir, mas quero ir nesse lugar que você queria me levar. E meu coelho se manchou com suco outra noite e papai não sabia como você tinha limpado. Tentou fazer, mas não cheira como você fazia. E ele está muito triste. Quase não fala e ontem nem sorriu uma só vez quando assistimos Madagascar." – confessou a menina, realmente apenada. Se virou um pouco para olhar Rachel nos olhos e a segurou pela bochecha com suas pequenas mãozinhas. "Você também está triste." – lhe disse, franzindo um pouco a testa.
- "Sim, estou triste. Meu papai está doente e isso me deixa triste." – lhe explicou, tratando de não chorar. Amy a abraçou mais forte.
- "Tem alguma coisa que eu posso fazer?" – lhe perguntou, claramente apenada. Rachel já não pode conter as lágrimas.
- "Isso. Ser minha melhor amiga de cinco anos." – respondeu, a abraçando tão forte como pode. Não falaram por um bom tempo, se limitando a fazer o que duas amigas que se gostam e que se necessitam fazem: estar juntas, recuperar o tempo perdido.
Rachel sentiu a inconfundível som da caminhonete de Burt se aproximando e apertou mais a Amy, sabendo que provavelmente não voltaria a ver ela por muito tempo. Porém, não foi a voz de Burt que se ouviu.
- "Devem estar congelando aqui fora." – disse Finn, caminhando lentamente até elas, com as mãos nos bolsos. Quando Rachel o olhou, todas as desculpas que havia formando na cabeça contra ele perderam o sentido. Se incorporou deixando Amy no chão e caminharam juntas para se encontrar com ele. Finn limpou as lágrimas dela com o dorso da mão e Rachel se aproximou mais dele, buscando continuar a carícia. "Por que não vamos para casa, Amy assim Rachel e eu podemos conversar?"- lhe ordenou.
Subiram no carro e Amy ligou o rádio. Quando os primeiros acordes de The Only Exception começou a tocar, Finn e Rachel não puderam evitar se olhar brevemente.
- "Eu gosto dessa música." – disse Amy, segurando a mão de Rachel.
- "Eu também gosto." – respondeu Finn, segurando as mãos das duas mulheres que estavam entrelaçadas. Quando chegaram na casa de Rachel, Finn ordenou a Amy que esperasse no carro, enquanto ele a acompanhava até a entrada.
- "Está sozinha essa noite?" – lhe perguntou, ao ver que a casa estava escura e vazia.
- "Sim. Operam o papai amanhã, então papi ficou no hospital com ele. Eu irei quando acordar amanhã." – lhe explicou, brincando com as chaves. Finn voltou a lhe acariciar a bochecha, chamando a atenção.
- "Nos prepare um chá, eu voltarei logo. Não pense que vou te deixar sozinha." – murmurou para ela com um sorriso conciliador. Rachel lhe devolveu o gesto, acariciando ela a limpa bochecha dele.
- "Continua sem a barba." – lhe disse.
- "Continua sem gostar." – respondeu ele, enquanto caminhava até o carro, aonde Amy cumprimentava animadamente com sua pequena mão.
-oo-
- "Quão grave é a situação?" – perguntou Finn, entrando na calorosa cozinha e pendurando o casaco no cabideiro.
- "Segundo o médico, tem muito poucas possibilidades de que algo saia errado. Mas ainda assim não posso evitar me preocupar." – lhe explicou Rachel. Ele ficou em silencio uns segundos, a olhando com determinação, enquanto ela preparava as xícaras de chá e esquentava uns sanduíches.
Se incorporou para se aproximar dela, a abraçando pela cintura. Rachel se virou, buscando todo o conforto que não tinha conseguido nos últimos dias, se perdendo nas profundezas de Finn, na sensação de sua mão lhe acariciando o cabelo e seu inconfundível perfume penetrando nos poros. Se separaram um pouco, para se olhar nos olhos e Finn tentou beijá-la.
- "Não. Não faça isso, não volte a me fazer isso." – murmurou ela, se afastando tanto quando lhe permitia a pequena cozinha.
- "Rach, não sei como te pedir perdão..."
- "Sabe o que é melhor do que me pedir perdão, Finn? Não me machucar em primeiro lugar. Não me buscar, me prometendo uma vida juntos, quando vai me deixar. Não vir tirar proveito dos meus dias vulneráveis, do momento difícil pelo qual estou passando." – disse ela, quase chorando, servindo o chá nas duas xícaras com as mãos tremulas.
- "Não vim para isso, Rachel!" – gritou ele, bravo, batendo no cesto de lixo. Rachel se virou, surpreendida e ele se alegrou que ela tivesse ficado sem fala. Aproveitou o momento de desconcerto para se aproximar dela, olhando nos olhos. "Eu te amo! Estou perdidamente apaixonado por você. Te amo tanto como naquela primeira vez em que te escutei cantar, ou nesses meses de tortura quando você passeava pela escola com Jesse St James de braços dados." – lhe disse, mais calmo, segurando ela pelos braços. "Só necessitava entender, sabe? Só necessitava me dar conta disso. De que a minha parte, que ainda é um menino assustado de dezesseis anos necessita da sua parte que é uma menina determinada. E isso não está mal, Rach. Você também continua sendo a construtora de castelos de areia que necessita de mim como cabo de aço de vez em quando." – Rachel não respondeu. Aquelas raras vezes em que Finn pensava nas coisas e fazia de acordo com o que seu coração ditava... costumava ter razão.
- "Eu não posso voltar a passar por isso. Não posso voltar a uma vida em que te tenho e depois te perder. Não suportaria." – lhe confessou, com aquela voz pequena e insegura que só usava com ele.
- "Eu te prometo que dessa vez é a definitiva. Prometo." – disse, com toda a sinceridade de que era capaz. Rachel se separou, caminhando até a mesa e se sentando lentamente em uma cadeira.
- "Quantas vezes prometeu isso, Finn Hudson?" – murmurou, esfregando os cansados olhos com a mão. Finn se ajoelhou na frente dela, segurando suas mãos.
- "Quero que se case comigo. Isso é para sempre. E essa não é uma tonta promessa de um garoto de dezesseis anos." – explicou, com os olhos cheios de esperanças e de lágrimas. Rachel demorou um segundo em entender o que Finn estava lhe dizendo. Ele continuou. "Quero que nós construamos o que nos falta do futuro juntos. Quero que se mude conosco, que seja a mãe da filha que já tenho e a mãe dos que estão por vir. Quero que compremos um gato ou um cachorro e quero que esteja em todos os meus jogos tal como eu vou estar em cada evento, em cada entrega de prêmios. Quero fazer tudo isso na ordem e no tempo que você quiser. Porque te amo, Rachel. Tanto como me é possível e as vezes ainda mais." – finalizou, com um par de lágrimas percorrendo seu rosto. Ela o olhou por um segundo, enquanto um sorriso começava a se formar em seus lábios.
- "Está bem." – lhe contestou, se ajoelhando também.
- "Está bem se casar comigo ou se mudar ou...?"
- "A tudo. Absolutamente tudo." – murmurou antes de beijá-lo.
Tinha gosto de lágrimas e a sorrisos e um pouco da bala de cereja que Finn havia mastigado em seu carro. Tinha gosto, sobretudo, de promessa. De compromisso. De amor. De duas pessoas que haviam percorrido um longo caminho para voltar ao ponto de partida, aquele em que acredita que tudo é possível se conta com o apoio de quem ama.
Só se separaram quando o cheiro de pão queimado inundou o lugar e riram um bom tempo por essa pequena estupidez. Aquela noite, enquanto Rachel entrava em sua cama de adolescente com um velho pijama listrado e Finn a acompanhava com sua camiseta do McKinley e sua cueca cinza, ela pensou que as coisas sairiam bem. Que essa noite dormiria tranquila e que na manhã seguinte, seu pai teria uma boa operação. Que compraria para Amy o tutu mais lindo que encontrasse e que pediria a Carole a receita da torta de maçã que Finn tanto gostava, para fazer quando voltassem para seu lar, só porque assim poderosa se sentia quando Finn Hudson a beijava ternamente e lhe desejava boa noite.