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- "Sempre soube que iam se dar bem, mas nunca pensei que fariam tão rápido. Te digo, Amy não para de falar dela." – disse Finn, enquanto tratava de manter o ritmo na esteira.

As coisas estavam bastante bem: ele e Rachel costumavam sair uma vez por semana sozinhos e depois arrumavam tempo para passar uma ou duas tardes com Amy. Rachel e Amy saiam também com Kurt, as vezes e Finn começava a notar a influencia que Rachel tinha sobre sua filha. Essa mesma manhã, sem ir mais longe, Amy havia se queixado de que Finn não tinha enviado para a lavanderia sua camiseta favorita de uma forma que imitava (quase que perfeitamente) a forma em que Rachel havia repreendido ele umas noites atrás por não ter leite de soja na geladeira.

- "Nem me diga. Rachel já me mandou dois milhões de mensagens me perguntando quando é sua próxima partida, para ter outra 'noite de meninas'. Acho que quer nos levar para conhecer um par maquiadores famosos." – respondeu Kurt, fazendo o mesmo em sua máquina.

- "No sábado iremos ver o musical de A Pequena Sereia. Rachel estudou com alguns dos atores principais, então vamos ir na matine antes que ela deve começar com seu trabalho." – explicou Finn, entusiasmado.

- "Posso dizer algo?" – inquiriu Blaine, descendo do seu aparelho para se aproximar mais dos outros dois. Finn assentiu, confuso. "Espero que esteja pensando bem no que estão fazendo, Finn."

- "A que se refere?"

- "Bom..." – Blaine duvidou por um segundo, como se estivesse se arrependendo de antemão do que ia dizer. Olhou para Kurt momentaneamente e continuou. "Rachel e você não tem... bom, as estatísticas não estão a seu favor, no que se refere a relacionamento. O que eu quero dizer é que... você sabe mais do que ninguém quão difícil é perder ela e possivelmente nesse momento está seguro de que esse é um risco suficiente, de que estar com ela é o melhor. Mas Amy, Finn... já perdeu uma mãe uma vez. Não a faça passar por tudo isso se não está seguro."

- "Está me dizendo que não acha que Rachel e eu vamos durar?" – perguntou Finn, um pouco machucado.

- "Estou te dizendo que... que deve ter cuidado. Nada mais." – finalizou Blaine, voltando a subir na esteira.

- "Sim, Rachel e Finn sempre terminaram seus relacionamentos de forma tortuosa. Choraram, sofreram e perderam tempo. Mas, sabe o que é verdadeiramente importante, Finn?" – disse Kurt. Finn negou com a cabeça. "O importante é que sempre voltaram um para o outro." – Finn não respondeu e Blaine abafou uma gargalhada, ganhando um olhar assassino de seu marido.

- "Lamento, mas realmente viu muitos filmes românticos." – disse, ainda rindo.

- "A mesma quantidade de horas em que você passou vendo partidas de futebol." – finalizou Kurt. Lançou um olhar para Finn, que havia aumentado a velocidade da esteira e olhava fixamente para um ponto na parede. "Finn! Não pense muito nisso. É sério! Eu estou te dizendo que confio em vocês." – Finn assentiu, mesmo que as palavras de Blaine tivessem conseguido fixar em sua mente. Estava tão confuso como aquele Finn de 16 anos que fora.

-oo-

Os próximos meses passaram como uma estrela cadente. Rachel finalizou seu contrato com Wicked na mesma noite que Finn aceitou o trabalho de ajudante técnico e ambos celebraram com uma garrafa de champagne muito cara, que algum fã deu para ela.

Terminaram fazendo amor escondidos no pequeno chuveiro do banheiro de Finn, enquanto Amy dormia a poucos metros dali.

Ele a ama com uma loucura impensada e se encontra diariamente buscando novas formas de fazer ela saber. Assim é como Rachel encontra pequenos recados em suas gavetas, ou mensagens telefônicas gravadas no meio da noite.

Ela se convence, dia a dia, que é impossível amá-lo mais, mas se equivoca; porque ali aonde Finn brinca com sua filha e lhe diz 'Te amo' ou simplesmente pisca o olho para ela do outro lado do quarto, algo nela se acende, algo que (está começando a acreditar) será impossível de apagar.

Assim é como ele volta a cada noite para seu lar para se deparar com Rachel e Amy lhe preparando o jantar e todos se sentam para comer enquanto a menina relata, com luxo de detalhes, algumas das maravilhosas coisas que ela e Rachel fazem juntas diariamente. Mas ainda assim, quando Amy consegue dormir e ele e Rachel se despedem (as poucas noites que ela não fica para dormir ao seu lado) Finn não pode evitar sentir aquelas palavras de Blaine rondando no córtex cerebral. Se sente vazio e inseguro quando ela não está ao seu lado e Finn se pergunta o que seria deles se algum dia Rachel não estivesse, se as coisas não saíssem bem.

Ele sabe, com total certeza, que não pode dizer isso a ela. Que Rachel lhe dirá, com segurança, que ela não vai ir a nenhum lado. E porém, ainda quando as coias vão bem, Finn não pode ocultar seu temor: tudo está saindo demasiado bem. Eles nunca discutem, não gritam, não brigam. Aquela é a grande diferença entre os que eram antes, lá em Lima e os que são agora aqui em Nova York.

Estão deitados na cama, uma noite como outra qualquer, quando as coisas mudam.

- "Acho que no sábado levarei Amy e Sammy para verem o musical do Shrek. Dizem que é muito bom." – disse ela, deixando o livro de palavras-cruzadas na mesinha de luz e apagando o abajur.

Finn não respondeu, mas imitou o gesto, deixando os papeis do trabalho no chão e apagando sua própria luz. Sentiu o pequeno corpo de Rachel se acomodando na cama, buscando o seu e se virou para abraçar e atrair ela para ele. Finn conteve uma gargalhada ao sentir ela tremer quando o som de um trovão irrompeu no quarto.

- "Não zoe, Hudson. Sabe quanto me assustam as tempestades." – murmurou ela, enterrando sua cara no espaço entre o pescoço de Finn e o travesseiro. Ele beijou a cabeça dela, de forma conciliadora, enquanto sentiu ela se relaxar entre seus braços. Porém, quando outro trovão tremeu as janelas, não foi um grito de Rachel que se escutou. Ambos se incorporaram na cama ao sentir os pequenos passos de Amy se aproximando.

- "Se assustou, pulga? Isso é um tempestade." – lhe disse Finn, estendendo seus braços para recostar ao seu lado. Amy esquivou dele, correndo para o outro lado da cama e se acomodando nos braços de Rachel.

- "Mamãe, tenho medo." – lhe disse, contendo o choro. Finn olhou confuso para elas, se perguntando desde quando Amy considerava que Rachel era sua mãe. Porém, não foi isso o mais estranho: pela forma em que Rachel a segurou, acariciando como se nada acontecesse, Finn entendeu que aquela não era a primeira vez, que Amy vinha fazendo isso a tempos.

- "Está bem carinho, eu estou um pouco assustada também." – ela murmurou para a menina, enquanto fazia um sinal para Finn, para que voltasse a se deitar e se juntasse ao abraço. Ele obedeceu, rodeando ambas com apenas um de seus longos braços. Ficou dormindo, com o som dos leves murmúrios da música que Rachel cantava para Amy e sentindo como aquelas dúvidas e temores que havia florescido em sua mente durante as últimas semanas se materializassem.

-oo-

- "Eu te acompanho até a porta, assim não se molha com a chuva." – disse Rachel, pegando o guarda-chuva.

- "Não, eu farei isso." – disse Finn, tirando ele das mãos dela e tirando o cinto de segurança. Amy deu um beijo em Rachel na bochecha e desceu do carro com sua pequena mochila na mão.

- "Creio que essa chuva é a última da temporada. Depois teremos a neve." – explicou ela, tratando de iniciar conversa. Finn não contestou, se limitou a continuar olhando o para-brisa molhado, como se estivesse memorizando cada gota da chuva. "Estive pensando que podemos voltar para Lima no Natal." – continuou, com o mesmo propósito. "Tem um par de semanas livres, se não me equivoco e eu não estou fazendo nada, então poderíamos ir visitar nossos pais ao invés de fazer eles viajarem pra cá. Blaine e Kurt irão, assim poderia comprar as passagens essa mesma tarde e Amy já disse que quer ir..."

- "Amy já disse." – disse Finn, parando o carro na porta do apartamento de Rachel. Ela se virou para olhá-lo, confusa pelo seu tom hostil.

- "Te passa algo? Está de mal humor essa manhã." – lhe murmurou, esticando uma de suas mãos para lhe acariciar o rosto sem êxito: Finn se moveu no assento, impedindo que o tocasse. Rachel olhou para ele doída.

- "Estive pensando bastante nas coisas e não sei... não sei como dizer isso." – se explicou, passando uma mão pelo escuro cabelo. Durante uns momentos, o carro se encheu com o som da chuva batendo nos vidros e das buzinas dos motoristas nova-iorquinos nervosos.

- "A que se refere exatamente quando diz que esteve 'pensando nas coisas'?" – Murmurou ela, olhando para ele fixamente nos olhos.

Finn não foi capaz de manter o olhar e Rachel respondeu soltando um barulho molesto.

- "O que é agora Finn? Qual a desculpa? Que eu não te amo o suficiente, que te amo muito, que não passamos muito tempo juntos, que não paro de respirar? O que vai inventar agora para se desfazer de mim?" – gritou para ele, gesticulando com as mãos e contendo as lágrimas.

- "Tenho uma filha, Rachel. Uma filha que te ama quase tanto como a mim. Uma filha que está começando a te necessitar, a depender de você, a te considerar sua mãe. E não posso permitir que, dadas nossas experiências passadas, ela sofra no dia em que nos separarmos." – se explicou, tratando de manter a calma e de fazer Rachel entender que isso não tinha nada a ver com eles.

- "Quer dizer hoje, né? Essa mesma noite, quando voltar para sua casa esperando que eu lhe ensine a cantar Defying Gravity e não me encontrar." – disse ela, sem sequer tratar de conter as lágrimas. Finn segurou a mão dela, tentativamente, mas dessa vez foi ela que se negou a ser tocada. Desceu do carro, entrando na chuva e Finn a seguiu.

- "Tenho que pensar nela, Rachel! Minha obrigação é cuidar dela e a proteger..." – gritou, sobre o som da chuva.

- "E quem disse que algo vai acontecer, Finn? Achei que dessa vez era a definitiva, que não teria mais... problemas ou separação..." – o interrompeu ela, no mesmo tom. A água começava a escorrer a maquiagem e Finn achou que não poderia ser capaz de continuar com isso, se ficasse um minuto mais ali. Se aproximou um pouco, segurando ela pelos braços.

- "Terá problemas Rachel, porque já não somos uns meninos de dezesseis anos." – lhe disse.

Rachel sorriu amargamente.

- "Se equivoca, Finn. Você ainda continua sendo o mesmo garotinho assustado, alérgico ao compromisso." – respondeu ela, se virando sobre seu salto e o deixando ali, embaixo da chuva, contendo as lágrimas: ainda quando era mandona, brava e teimosa... Rachel costumava ter razão, especialmente quando se tratava dele.

Capítulo 8

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