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Rachel Berry pode ser muitas coisas. Um pouco controladora, um pouco ciumenta, um pouco obsessiva e bastante perfeccionista. E mesmo que durante seus anos de adolescente aquela qualidades lhe causasse mais problemas que bons momentos, agora as coisas eram de forma diferente.

Vejam, se combinam seus controlados defeitos com suas incríveis qualidades (como seu calor, sua tolerância, sua paciência, sua lealdade e suas infinitas vontades de dar e receber amor) conseguem o protótipo mais próximo do perfeito de uma mãe (e uma esposa).

Finn, por sua vez, não fica atrás. Criar Amy sozinho por um par de anos havia dado a ele moderação e desenvoltura que lhe faltavam na adolescência. Continua sendo inseguro, continua sendo um pouco descrente e por momentos se sente o maior idiota do mundo (sobretudo quando convive com Rachel, Kurt e sua própria filha, que costuma ultrapassá-lo na maior parte do tempo).

Aquelas qualidades que o fazia tão único e inigualável aos olhos de Rachel continuam ali, tal como estavam anos atrás. Continua sendo compassivo, carinhoso, leal, amoroso e incondicional, o que o converte no protótipo mais próximo do perfeito de um pai (e de um esposo).

Porém. O que Rachel custa a entender é que o mundo da maternidade não é o mundo do espetáculo. Sendo pais (e em seu próprio caso, mãe de primeira viagem) os erros e as dúvidas estão permitidos e isso é algo com o que Rachel Berry não está familiarizada.

- "Por acaso não podiam chegar a um consenso? Não tem dois livros que digam o mesmo sobre a quantidade de semanas em que é normal sentir o bebê se mexer." – se queixou uma tarde, enquanto ela e Finn liam a montanha de material que Rachel havia adquirido na livraria.

Finn sorriu: a Rachel hormonal (que começava a aparecer mais frequente) lhe recordava a Rachel nervosa, essa que aparecia anos atrás nas semanas anteriores a alguma apresentação do Glee Club.

- "Bom, a maioria dos que eu li dizem que a partir de doze semanas. Estamos ainda em tempo." – lhe explicou ele, jogando no chão o exemplar de 'Guia rápido para pais de primeira viagem' que estava lendo e repousando na cama.

Rachel soltou uma bufada: fazia um par de dias que estava nervosa. O bebê de Mercedes, que já estava com quase cinco meses de gravidez, chutava constantemente e Rachel não podia esperar para sentir o seu.

- "Não é justo. Por que os únicos indícios da minha gestação são essas náuseas constantes e meu maldito mal humor?" – voltou a se queixar.

- "Se esqueceu da sua incessante vontade de tirar minha roupa." – agregou Finn com um sorriso, enquanto recostava sua cabeça no colo dela.

Rachel também sorriu.

- "Isso não passa só porque estou grávida." – lhe disse, com um sussurro sensual, lhe acariciando distraidamente uma das bochechas.

Finn esticou o braço, fechando o livro e jogando também no chão e Rachel se recostou sobre ele, entendendo que o momento da leitura havia terminado.

- "Deve se acalmar um pouco, carinho. Tudo passa eventualmente. Além do mais, em uns dias iremos ver o doutor Rawson e poderá perguntar a ele todas suas dúvidas. Até lá, só desfrute." – ele a consolou, a abraçando.

Rachel suspirou.

- "O que acontece... o que acontece se não sou boa para isso?" – lhe perguntou, aterrorizada.

Finn soltou uma gargalhada.

- "Rachel Berry, por acaso está me dizendo que está duvidando de você?" – ele disse, com tom de brincadeira.

- "Não zoe, Finn, estou dizendo em sério. O que acontece se sou má, péssima? Você claramente, é altamente capaz de fazer isso. Mas eu... não sei. Não sei se tenho o que me falta. E se o bebê não me amar? E se esqueço... a que temperatura deve estar o leite, ou a data das vacinas ou... o sabão que ele é alérgico?" – continuou, realmente apenada.

Finn se virou na cama, para olha-la diretamente nos olhos.

- "Possivelmente não vamos ser perfeitos, mas isso está bem. Duvido que existam pais perfeitos nesse mundo." – lhe disse, acariciando a bochecha. "Sim, talvez esqueceremos a data das vacinas ou... o que for. Mas eu sei que é capaz disso, Rachel. Eu sei porque te conheço, porque conheço as qualidades únicas que possui e porque te amo por todas e cada uma delas. E deve acreditar em mim Rach, não tem chance alguma de que nosso filho vá te odiar. Não viu como a Ame te olha, como te adora, o quão orgulhosa está de que seja mãe dela? Ela... te imita todo o tempo. Só tem olhos para você. Você só... seja você mesma. E eu estou aqui para compensar todos seus erros, assim como você está para compensar os meus. Não posso... não posso esperar para que esse bebê saia, para que possamos mostrar ao mundo quão incríveis somos quando trabalhamos juntos." – finalizou, limpando as lágrimas que caiam pelas bochechas de sua esposa.

Rachel o beijou nos lábios, deixando-se invadir pelo momento, se aproximando de seu marido tanto quando era possível.

- "Tem o maior coração do mundo, Finn Hudson. E isso não tem nada a ver com o fato de que mede mais de dois metros." – murmurou, enquanto se acomodava no especo do pescoço dele e deixava que ele a envolvesse em seus largos braços e entrelaçassem as pernas.

Pensou que aquilo não era Broadway, que ali não devia enfrentar apenas uma multidão de expectadores que julgavam seus dotes. Não, ali era dois. Ela e Finn. Tal como em seus anos no Glee Club, ele estava a respaldando em caso de que ela errasse a nota, assim como ela o respaldaria. Rachel sorriu a pensar que, talvez, nesse momento ambos nunca desafinavam simplesmente porque o outro lhe dava a coragem necessária para soltar a alma em cada música.

Ela e Finn havia sido gloriosos capitães do Novas Direções e agora estavam encarregados da brilhante e incrível tarefa de capitanear sua própria família. Juntos, porque assim sempre é melhor.

-oo-

- "Sim, eu sei mamãe. Não, para isso tem que esperar um pouco mais. Sei que tem mais tecnologia, mas não saberemos o sexo até dentro de umas semanas. Sim... sim, te ligarei quando sairmos. Eu também de amo. Ok, direi a ela. Adeus." – disse Finn, terminando a ligação e guardando o telefone celular no bolso. "Mamãe te envia os cumprimentos e Hiram também. Estavam tomando um chá e disseram que vão ficar esperando as novidades." – explicou para sua esposa, que lia uma das revistas de maternidade da vazia sala de espera do doutor Rawson.

- "Oh, isso é genial." – contestou ela, de forma breve.

Finn sorriu um pouco: podia notar que Rachel estava nervosa, sobretudo porque não havia tomado o chá e quase não havia conversado na última meia hora. Esticou seu braço por trás do sofá, a abraçando, tratando de acalmá-la um pouco (não a culpava, afinal ele também estava bastante nervoso).

- "Vocês são os Hudsons?" – perguntou a enfermeira.

Rachel assentiu e ambos entraram na pequena sala adjunta ao consultório, aonde o Dr. Rawson tinha a máquina do ultrassom.

Finn viu como Rachel tirava a roupa para ficar de roupa intima e colocava a bata que a enfermeira havia deixado no pequeno trocador e por um segundo os primeiros acordes de Jesse's Girl soava em sua mente. Pegou a mão de sua esposa quando ela se sentou na cadeira reclinável e ela sorriu de forma nervosa.

- "Os Hudsons. Sim senhor!" – disse o Dr Rawson, enquanto ele e sua cara infantil entravam no quarto.

Estendeu a mão para cada um e sorriu de forma entusiasta para Finn.

- "Que estatística! Doze jogos ganhos, duas derrotas. Uma temporada esmagadora!" – disse, claramente emocionado e Finn sorriu. Revisou as fichas, voltando a se colocar no papel de profissional e ligou a máquina enquanto se sentava ao lado de Rachel. "Ok, Rach... como estamos levando a gravidez?"

- "Bom, tenho um pouco de náuseas, sobre tudo pelas manhãs. E meu humor está... variando bastante."

- "Isso é totalmente normal."

- "Nos perguntávamos, na realidade, se era normal que o bebê ainda não tivesse... chutado ou algo assim. Os livros que lemos não são muito específicos." – lhe perguntou.

- "Acabam de entrar na décima segunda semana, então é comum que não sinta atividade ainda. Não deve se assustar. Pelo que estou vendo, seus exames de sangue estão perfeitos, então não deveríamos nos preocupar por hora. Sei que estão ansiosos, mas tudo corresponde a um ciclo. E agora necessitamos que esteja calma, livre de estresse e muito consentida." – explicou, olhando para Finn com um meio sorriso. Espalhou o gel sobre a barriga de Rachel e apoiou o pequeno dispositivo, olhando para a tela. Finn segurou com mais força a mão de sua esposa e lhe deu um beijo na testa. "Vejamos o que tem aqui!" – disse o médico.

No mesmo instante Finn sentiu que algo estava errado.

- "Por que o coração bate tão forte?" – disse assustado, ao ouvir o ritmo acelerado.

Foi Rachel que respondeu, antes que o Dr Rawson pudesse responder.

- "Não está batendo forte... são duas batidas diferentes." – lhe disse, com um sorriso, enquanto os olhos enchiam de lágrimas.

- "Como soube?" – questionou o médico, entre risonho e intrigado.

- "Tenho ouvido musical." – respondeu ela.

Finn não podia acreditar. Ouvia de longe o doutor explicar para Rachel aonde estava cada um, quanto mediam, que tamanho tinham, quantas semanas de gestação estava. Ouvia mas não escutava. Estava mais concentrado naquele pequenos e desiguais batimentos, que soavam quase como um zumbido. Ali estavam. Tantos meses de busca, de espera, de incerteza... resumidos a isso.

Duas batidas ínfimas mas audíveis, dois pontos vibrantes na tela bicolor. Sentia como as lágrimas percorriam a bochecha e como a mão de Rachel apertava mais a sua. Só então se deu conta de que haviam ficado sozinhos no quarto.

- "Está feliz?" – ela perguntou, se levantando um pouco para nivelar seus rostos.

- "Eu... não poderia te amar mais... Não tem nem ideia do quanto..." – Finn não pode terminar.

Colapsou ali, nos braços de sua esposa, enquanto ambos choravam e riam ao mesmo tempo.

-oo-

- "NÃO POSSO ACREDITAR! MAMÃE, MEU DESEJO VIROU REALIDADE!" – gritou Amy, pulando de alegria enquanto soltava uma risada.

Rachel teve que conter as lágrimas pela décima vez na tarde: cada vez que alguém se inteirava da notícia, sentia que ela mesma voltava a reviver esse momento uma e outra vez. Recorreu um pouco o quarto com o olhar, vendo todas as pessoas que haviam se reunido para festejar com eles.

- "... e podemos pintar o quarto de forma neutra, em amarelo talvez. Podemos fazer um mural, como fiz com o quarto do seu." – disse Kurt, enquanto ele e Mercedes conversavam animadamente sobre o quarto dos gêmeos.

- "Sim, acho que deverão mudar de carro. E eu instalaria alguma porta preventiva na escada, porque quando começar a engatinhar será um pesadelo..." – explicou Blaine para Luke, o namorado de Mercedes, enquanto ambos tomavam uma cerveja.

Rachel notou então que Finn não estava e decidiu procurá-lo até que o encontrou sentado no terraço, jogando com uma pequena bola e olhando para o nada.

- "Ei. Está cansado?" – murmurou para ele, o abraçando por trás e beijando o pescoço.

- "Não, eu só... necessitava ficar sozinho por um momento." – lhe explicou, com um sussurro quase inaudível.

- "Bem, te deixarei então..."

- "Não, fique!" – rogou, convidando ela a se sentar em seu colo.

Rachel obedeceu (depois de tudo, em uns meses talvez já não poderia fazer isso). Finn a rodeou com seus braços, como sempre acostumava fazer e ela soube no mesmo instante que acontecia algo.

- "Quer me contar o que te passa?" – lhe disse, com tom carinhoso, enquanto lhe acariciava a palma das mãos.

Ele suspirou.

- "São dois. Dois. Duas... pessoas. Dupla quantidade de fraldas e de... de horas de banho e vacinas e sabonete que serão alérgicos. E a metade de horas de sono nosso, de descanso. E o dobro de choro e..." – Finn nem sequer pode terminar e Rachel se sentiu imensamente carinhosa.

Ela o entendia. Sabia que Finn não se referia ao dinheiro ou a quantidade de fraldas ou as horas de sono, mas que os bebês demandariam o dobro de responsabilidade, de compromisso.

Sorriu, sobretudo porque se deu conta de que Finn estava tendo agora a crise que ela havia tido um par de dias atrás e que esse era o momento de devolver todo o amor e o apoio que ele havia lhe dando naquele momento. Se virou no colo dele, rodeando a cintura dele com suas pernas e colocando suas mãos nos ombros de seu marido.

- "Sabe por que eu não tenho tanto medo, carinho?" – perguntou. Finn negou com a cabeça. "Porque alguém me disse há uns dias que devo ter fé. E eu tenho uma fé incondicional em nós, Finn. Acredito em nós, no que somos capazes e sobretudo no imenso amor que nos temos. Nada ruim pode sair disso. Eu sei (porque vejo todos os dias) que você é o melhor pai do mundo e te amo por isso. Porque me impulsiona todos os dias a ser a melhor mãe e esposa do mundo, a estar a altura. Confio cegamente em nós, em que amaremos a esses filhos com a mesma força com que amamos a Amy e com a que nos amamos um ao outro. E sim, vai ser difícil. Mas... não aprendemos depois de todo esse tempo que quando as coisas ficam difíceis se desfruta mais do resultado?" – lhe disse, olhando diretamente nos olhos e sentindo como ele relaxava aos poucos em seus braços.

- "Tem o maior coração do mundo, Rachel Berry. Maior ainda que seu talento." – lhe disse, a abraçando e entendendo nesse momento que não só ela estava ali, mas também estava abraçando seus próprios filhos.

- "Ei, veja assim: seremos cinco. Você, eu, Amy e os gêmeos. E cinco é seu número da sorte, afinal de contas." – brincou ela.

Finn pensou que, na realidade, sua sorte sempre vinha da mão da mulher que se encontrava em seus braços (mas não ia negar, cinco era um número malditamente perfeito).

-oo-

Um par de dias depois, a família Hudson se encontrava no ensolarado terraço de sua casa, colocando plantas em vasos e ouvindo os êxitos de Jurney, enquanto o sol da primavara reinava. Rachel se senta, cansada, em um dos bancos de madeira que Kurt escolheu e sorri ao recordar o quanto custou para Blaine e Finn amá-los. Ale estão os três, ela, Finn e Amy, conversando animadamente e desfrutando a tarde quando os primeiros acordes de Don't Stop Believing começaram a tocar e Finn sorri para Rachel de forma cúmplice.

Então sente eles. Aos dois. Sente como de repente algo em seu interior se move, tratando de chamar atenção e apenas consegue formular o nome de seu marido. Finn se aproxima, transtornado, com o rosto pálido, cheio de preocupação.

- "Não, não é nada. Só... sinta." – disse ela, colocando a suja mão de seu esposo no lugar dos chutes.

Finn se ajoelhou no chão, seguido de perto por Amy e solta um riso quando sente também.

- "Estão se movendo!" – disse Amy, entusiasmada, olhando para sua mãe com o rosto iluminado de emoção.

Rachel assente, enquanto as lágrimas caem elo rosto suado.

Sente os pequenos golpes de seus filhos, quase como se estivessem se queixando, como se quisessem sair para compartilhar aquela tarde de sol, Journey e milkshakes com eles. Finn também tem o rosto cheio de lágrimas e apoia sua testa no ventre de sua esposa.

- "Oi!" – ouve ele murmurar e não pode reprimir o impulso de acariciar o cabelo dela, se movendo um pouco para apoiar sua própria cabeça sobre a de seu marido.

Os golpes cessaram quando a música terminou, mas nenhum deles se moveu. Não é até esse momento que Finn compreende, realmente, que aqueles filhos são deles. Dele e de Rachel. Dos dois. Que possuem algo de cada um. Que escolheram a música mais icônica do mundo para se fazerem conhecer.

Levanta seu rosto para ver Rachel e se depara com ela lhe devolvendo o olhar de entendimento e amor que faz com que Finn compreenda que ambos estão pensando no mesmo.

É Amy, porém, que toma as redias do assunto, buscando novamente a música e colocando desde o começo.

- "Vamos bebês, façam novamente!" – pede a eles.

Seus irmãos respondem no mesmo instante, como se a mescla de Journey e a súplica de Amy fosse irresistível.

- "Te amo!" – Finn murmura, beijando sua esposa nos lábios enquanto ela limpa as lágrimas.

- "Eu sei. Eu também te amo!" – responde ela, entre soluços, sobre o som dos risos de Amy e a voz do cantor de Journey.

Por um segundo ela pode jurar que os pequenos golpes seguem o ritmo, quase como se batessem contra um tambor e outra catarata de lágrimas a invade.

Será assim pelos próximos meses, pelo resto de sua vida? Será assim cada vez que seus filhos sorrirem como Finn, chorarem como Finn, dançarem como Finn? Será assim quando derem seus primeiros passos, quando aprenderem sua primeira palavra, quando cantarem a primeira música? Sabe, com total segurança, que essas respostas não encontrará em um livro nem no consultório do médico.

Pela primeira vez em sua vida, Rachel Berry sorri ao entender que aquilo, realmente, está fora de seu controle.

Capítulo 8

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