Cinco amigas e suas mentes criativas
High Five Stories
Olhou o relógio pela milionésima vez naquela manhã, convencido de que o tempo havia parado de alguma forma e tomou o último gole do café que havia servido em um copo plástico.
- "Senhor Hudson? O Doutor Rawson disse que pode entrar para vê-lo." – lhe indicou a secretária.
Finn murmurou um obrigado, enquanto jogava o copo no lixo e entrava no consultório.
- "Olá Finn, um prazer te ver." – o cumprimentou o médico, estendendo uma mão, que Finn apertou.
- "Lamento ter te incomodado doutor, mas não podia... necessitava..."
- "Entendo, te entendo. Se sente, por favor." – lhe ordenou, apontando uma cadeira. Se sentou atrás da mesa, arrumando os papeis que Finn reconheceu como aquele que ele mesmo havia deixado uma semana atrás. "Te incomodaria me repetir um pouco quando é seu temor?" – lhe pediu.
- "Bom... como sabe, eu tenho uma filha de seis anos, Amy e ... a mãe dela morreu no parto. Nunca entendi o que foi que aconteceu com ela realmente, e eu queria... queria saber se existe a possibilidade de que Rachel..." – Finn não pode terminar e o doutor pareceu entendê-lo, já que tirou os óculos e olhou para ele de forma tranquilizadora.
- "O que essa moça tinha... como era o nome dela?"
- "Laura."
- "Laura, obrigado. O que Laura tinha era uma deformação congênita das paredes do coração. Era quase imperceptível (me custou bastante encontrá-la de fato) mas basicamente essa pequena má formação lhe provocou uma parada cardiorrespiratória, possivelmente impulsionada pelo trabalho de parto." – lhe explicou. Buscou uma das pequenas maquetes que tinha no consultório para ilustrar mais para Finn a ideia, porque ele claramente não estava entendendo. "Suponhamos que eu tenho essa bola que inflo sempre do mesmo tamanho. Digamos... uma bola de baseball." – lhe disse, enchendo o balão do tamanho dito. "Tendo assim, essa bola me serve e não teria porque ter problemas com ela. Mas um dia me ocorre que, talvez, poderia inflar do tamanho de uma bola de basketball." – prosseguiu, inflando o balão desse tamanho e fazendo com que ele estourasse com um barulho estrondoso. Finn se sobressaltou. "entende o que digo?"
- "Sim." – murmurou Finn.
- "Rachel é uma mulher saudável e forte. Não possui nenhuma enfermidade, nem sequer similar a essa. Existe riscos? Sim, claro que sim. Em toda gravidez existem. Mas, sabe o que ela mais necessita agora, Finn?" – perguntou para ele.
Ele sorriu, intuindo a resposta.
- "De mim." – contestou, com total segurança.
- "Sim, de você. E de roupa um pouco maior." – brincou o médico, ficando de pé e acompanhando ele até a porta.
-oo-
- "Assim mesmo, Amy! Excelente!" – falou Rachel, enquanto a menina dava giros ao compasso da música que ela tocava no piano.
Amy sorriu ainda mãos, contente de que sua mãe a elogiasse. Rachel lhe entregou a toalha quando terminou de tocar a clássica peça.
- "Mamãe, quero continuar praticando!" – se queixou a menina.
- "O que a mamãe sempre diz?" – questionou ela, co tom severo, enquanto se sentava na pequena mesa que haviam colocado no estúdio e servia um pouco de leito morno em cada copo.
- "Que praticar demais é tão ruim como não praticar nada." – respondeu Amy, com voz queixosa, se sentando também e comendo um biscoito.
Rachel olhou para ela intrigada.
- "Não acha que o papai está... mudado esses dias?" – perguntou para sua filha.
- "Deixa eu pensar..." – ela respondeu, fazendo um gesto com a mão que fez com que Rachel tivesse que conter uma risada: sempre que tinha esse tipo de conversa, Amy costumava imitar Kurt ou Mercedes, tentando parecer maior. "Acho que está muito preocupado por perder o cabelo." – disse a menina, depois de uns momentos.
Rachel suspirou.
- "Sim. Tem medo de terminar careca, não?" – disse, acariciando distraidamente seu ventre, deixando sua mão parada ali. "O que você acha, pequeno?" – lhe perguntou, como um sussurro. Amy olhou para ela pelo canto do olho e Rachel não perdeu o tom ciumento do olhar da menina. Sorriu. "Por que não fala com o bebê? Sei que está esperando que sua irmã mais velha se apresente."
- "Não pode me escutar, mamãe. Ainda está dentro da sua barriga." – disse a menina, com tom chateado.
Rachel olhou para ela por um segundo, tratando de compreender a situação. Trocou de cadeira, para ficar sentada ao lado de sua filha e convidou ela para se sentar em seu colo.
- "Sabe o que eu mais queria no mundo quando tinha sua idade?" – perguntou, acariciando os pequenos cachos. Amy negou com a cabeça. "Morria de vontade de ter um irmão ou uma irmã. Supunha... supunha que assim nunca estaria sozinha, sabe? Que mesmo que eu não tivesse amigos, tendo um irmão sempre saberia que ia poder contar com alguém. Que sempre haveria alguém para mim. E rezava todas as noites para que esse irmão chegasse, porque sentia que essa era a solução para todos os meus problemas. Depois... a vida me deu muitos amigos, como o tio Kurt e o tio Blaine e Mercedes e me deu o Finn... e a Amy." – lhe disse, a abraçando. A menina sorriu, se acomodando mais nos braços de sua mãe. "Não deve ter medo, Amy. Nem papei, nem eu, nem seus tios ou seus avós vamos te amar menos porque tenha um irmão. Sempre, sempre vou te amar, carinho. Sempre seremos melhores amigas. E realmente vou necessitar que me ajude quando o ou a bebê nascer. Você terá algo pelo qual eu e seu papai pedimos a vida toda." – finalizou, chorando um pouco (os hormônios da gravidez estavam começando a afetá-la).
Ficaram em silencio uns momentos, enquanto Rachel a balançava lentamente e Amy acariciava o braço de sua mãe.
- "Podem ser gêmeos?" – lhe perguntou a menina então, com a voz carregada de emoção.
Rachel sorriu.
- "Há chances. Um dos meus avós tinha um gêmeo. Por que pergunta? Não é suficiente um?" – questionou Rachel.
- "Não, é sim. Mas se são gêmeos, talvez a gente tem uma irmã e um irmão e isso seria genial. Se é só uma menina, o papai ficaria um pouco triste e se é só menino não poderei dividir minhas coisas. Se são dois... talvez papai consiga um menino e nós conseguimos nossa menina." – lhe explicou, como se fosse o mais simples do mundo, ou como se ter bebês fosse tão fácil como tirar doce de uma máquina automática.
Porém, Rachel se encontrou pensando em quão incrível e perfeito seria se o sonho de Amy se tornasse realidade. A menina abaixou do colo de sua mãe e se ajoelhou no chão, nivelando seu rosto com o ventre de Rachel.
- "Oi, meu nome é Amy e sou sua irmã maus velha. Ainda não nos conhecemos mas a mamãe disse que posso falar com você, então vou te explicar um par de coisas. Primeiro, não deve brincar com o controle da televisão, o papai fica muito bravo e não gostamos quando ele fica bravo. Ele é muito bom, mui mas muito bom e muito engraçado e sabe um montão de jogos legais. Fala muito de futebol americano, mas tudo bem se for um menino talvez não se incomode tanto. Mamãe é genial também. Ela me ensina um monte de coisas como cantar, dançar e cozinhar biscoitos. É linda, já verá. É a mamãe mais linda de todas e me encanta sair com ela e que todos vejam ela. Não deve usar as suas pinturas e sua maquiagem sem a permissão dela. E aqui em casa temos muitos brinquedos, então acho que não vamos brigar. Acho que isso é tudo por hoje, amanhã posso te contar sobre o tio Kurt se quiser." – lhe disse, com voz animada e Rachel sentiu como duas lágrimas escapavam por sua bochecha. Amy se aproximou mais, abaixando a voz para que Rachel não escutasse. "No começou eu tinha medo, mas agora já não. Não posso esperar para você sair e nos encontrar. Vamos dividir brinquedos e biscoitos... e também o papai e a mamãe. Adeus!" – finalizou, dando um pequeno beijo.
Olhou para Rachel em seguida, buscando aprovação e ela escondeu um pouco o rosto, tratando de ocultar as lágrimas.
- "Isso foi perfeito, carinho." – lhe disse, acariciando a bochecha.
- "O que acontece aqui?" – perguntou Finn, entrando no quarto, com um sorriso.
Amy correu até seu pai, esticando os braços para que ele a levantasse.
- "Mamãe e eu estávamos falando com o bebê." – lhe explicou, quando Finn a segurou nos braços.
Rachel se aproximou deles, levando a bandeja com o lanche nas mãos.
- "Por que não ajuda Amy a entrar no banho enquanto eu preparo o jantar?" – sugeriu ela, depois de dar um pequeno beijo nos lábios dele e se retirando, antes de que Finn lhe dissesse algo.
- "Acha que a mamãe está mudada esses dias?" – questionou, colocando sua filha no chão e se dirigindo para o quarto dela, buscando os pijamas.
Amy fez um gesto com a mão e suspirou.
- "Papai, isso do bebê e Funny Girl... é demais para ela!" – lhe disse, com um tom exasperado que fez com que Finn reconhecesse no mesmo instante que aquela frase teria sido copiada de seu próprio irmão.
-oo-
- "Perdão, perdão! Sinto muito." – se desculpou Finn, quando entrou no banheiro para tomar banho e encontrou Rachel, nua, entrando na banheira.
- "Finn, sou sua esposa. Não tem que me pedir perdão, já me viu nua centenas de vezes." – disse ela, com tom hostil, fazendo umas manobras engraçadas para entrar na água. "Poderia me ajudar, no lugar de estar aí parado me olhando." – Finn se aproximou, dando a mão para ela e ajudando ela a entrar.
Se olharam por um segundo. Quando havia sido a última vez que estiveram assim, perto, em silencio?
- "Vou tomar banho no banheiro de baixo." – disse ele, ainda ajoelhado no chão e segurando a mão dela.
- "Ou poderia... poderia entrar aqui comigo..." – propôs ela, com um tom muito mais doce.
Finn sorriu, enquanto se levantava e tirava a roupa. Rachel se moveu na banheira, colocando uns sais aromáticos e ordenando que Finn abaixasse as luzes. Ele entrou lentamente na água, deixando que ela se recostasse sobre seu peito e apoiando suas mãos no ventre de sua esposa, sentindo como ela se relaxava com esse simples contato.
- "Então... esteve atuando estranha pelos hormônios ou...?"
- "Eu estava atuando estranha porque você estava atuando estranho." – explicou ela, em um sussurro.
- "Eu?"
- "Sim, você."
- "Estranho como?"
- "Não sei. É como se me evitasse o tempo todo. Não queria me tocar, me abraçar... nem me beijar sequer. Sei que estou começando a ficar enorme e que provavelmente não me considere atraente nesse momento, mas... não sei. Sinto sua falta." – lhe disse, com uma voz pequena e carregada de amargura.
Finn engoliu em seco: teria desejado poder dar um chute nele mesmo.
- "Estava assustado... tinha muito medo de que algo pudesse te acontecer. Você sabe quão idiota sou para essas coisas, Rach..."
- "E eu não estou, Finn? Acha que não estou assustada, nervosa, aterrorizada? Claro que estou!" – interrompeu ela, tratando de não subir a voz para não acordar Amy.
- "Eu sei, carinho, e sinto muito. De verdade que sim, não sabe como. Mas devia me certificar... de que não fosse o mesmo que a Laura. Tinha medo de te machucar, de que algo saísse mal. Por isso fui ver o doutor Rawson essa tarde. Porque necessitava que ele me dissesse... que tudo estava bem." – lhe explicou, agora utilizando um murmúrio frágil.
- "Então foi tudo... um problema de comunicação?" – resumiu ela, voltando a se relaxar nos braços de seu marido.
Ele sorriu.
- "Sim... creio que sim." – disse, tirando o cabelo para lhe beijar em um dos ombros enquanto lhe acariciava distraidamente o ventre com a outra mão.
Rachel também sorriu, se virando um pouco para que Finn pudesse beijá-la nos lábios. Ele obedeceu, matando de uma vez por todas aquela vontade que havia perseguido ele durante dias.
- "Te amo." – murmurou ela quando se separaram, apoiando sua testa na de seu marido e lhe acariciando uma bochecha com a umedecida mão.
- "Eu também te amo. Muitíssimo." – respondeu ele, beijando ela novamente e sentindo como Rachel sorria contra seus próprios lábios. "E me deixa te dizer, carinho, que nunca esteve tão sexy. Que nesses momentos é o mais lindo que vi na minha vida." – murmurou, enquanto ela voltava para a posição anterior, mas dessa vez esticando um de seus braços para atrás da cabeça para acariciar o cabelo de seu esposo.
Ficaram em silencio outro tempo, desfrutando da companhia do outro, até que Finn deu uma gargalhada.
- "O que?" – questionou ela, se contagiando com o riso de seu marido.
- "É que somos realmente estúpidos!"
- "Eu sei, não posso acreditar que ambos estivéssemos bravos sem nos atrever a conversar..."
- "Não, não é por isso. Vivemos nessa casa há quase dois anos e nunca nos ocorreu usar essa banheira!" – ele disse, contendo o riso e a abraçando mais forte.
Rachel sorriu com carinho para seu marido, que quase não podia respirar após sua gargalhada. Por um segundo, todas suas dúvidas e seus medos desapareceram: ali, com Finn, as coisas só podiam sair bem.