Cinco amigas e suas mentes criativas
High Five Stories
Ele nunca pensou que fossem desses casais, mas claramente estava equivocado. Não, ele achou que seu casamento era único e singular e que ele e Rachel tinham seus próprios padrões. Pois, bem que eles tentam! Porque assim como os bons tempos são tão complexos e diversificados como eles, seus problemas costumam seguir a mesma lógica.
Desde a falha gravidez, Finn tem notado que ele e Rachel estão cumprindo um ciclo, passando por etapas. Sempre começa igual: durante uma semana do mês, Finn volta para casa para se deparar com Rachel preparando um jantar romântico, uma saída especial, um encontro a luz da lua. Durante essa semana, fazem amor tanto como permite a física, em todos os lugares e a toda hora. Durante essa semana, são o casal de recém-casados que todo mundo pensa que são, aquele que não pode tirar as mãos de cima um do outro e que se ama com loucura. E Finn, além de tudo, não se incomoda tanto.
Mas assim como essa semana começa, essa semana termina e durante um par de dias ambos recorrem a situações mais leves (como ver um filme ou compartilhar um livro) tratando de se recompor. Para Finn tão pouco o incomoda: geralmente é nessa semana em que ele e Rachel chegam a se conectar mais, já que costumam passar as horas falando de tudo, compartilhando tempo com Amy e fazendo o que toda família normal faz. E ele ama ser parte fundamental dessa família normal, porque durante muito tempo achou que não ia ter ela, que sempre deveria se acomodar ao que a vida lhe propusesse.
Porém um dia dessa semana regressa para casa para se deparar com que Rachel não fez o jantar e foi dormir sem sequer esperá-lo. Com total segurança, é naquela noite em que encontrará o pequena teste de gravidez no cesto de lixo do banheiro, posto que ela não esmera em ocultar (ele sabe que, inconscientemente, essa fosse sua forma de adverti-lo, de compartilhar com ele aquele momento indesejado) e sabe que dali adiante deverá lidar com a incomparável tristeza de sua esposa e com a própria. Já perdeu a conta da quantidade de vezes em que aquilo havia acontecido. Já havia perdido a conta sobre quantas vezes lhe arrancaram o coração do peito nos últimos meses, o obrigando a recompor sozinho, sem ajuda de ninguém e a tempo para recompor o dela. E não se queixa. Não se queixa porque sabe que ela está fazendo disso sua missão na vida, que deixou tudo o que havia conseguido para formar uma família com ele.
Mas essa noite, quando volta encharcado da rua depois de um longo dia de treinamento, perde a paciência. A perde no momento em que entra em seu lar com a esperança de ver ela sentada no sofá, lendo algum livro e se depara com a casa vazia e escura, habitada somente pela tênue luz que provem dos quartos lá de cima. Se próxima do quarto de Amy, para lhe dar um beijo de boa noite e para ao ver que sua filha pega em sua mão.
- "Não quero te preocupar, mas acho que a mamãe chorou." – lhe diz, em tom confidente, quase de forma culpada (como se por dizer a verdade estivesse traindo sua mãe).
Finn engole saliva, tratando de aliviar o nó de sua garganta e volta a beijar sua filha enquanto ordena que ela volte a dormir. Nem sequer necessita revisar o banheiro para saber o que é que está acontecendo. Acende a luz de noite, enquanto se senta na cama e se aproxima um pouco dela, tratando de acariciá-la. É verdade que esteve chorando e Finn se sente mais aliviado. Aquela Rachel, a que chora e recebe suas carícias, é a correta, a que se deixa invadir por seus sentimentos no lugar de guardá-los e se congelar. Sobretudo, a que deixa ele fazer seu trabalho.
- "Por que não posso, Finn?" – murmura, com a voz carregada de tristeza, sem sequer olhá-lo. "É o único que quero, sabe? O único que espero da minha vida. Poder. Poder fazer isso por você. Por que posso fazer um milhão de coisas e não posso essa? Por que posso cumprir com todos meus papeis como esposa, mas não posso realizar essa simples tarefa?" – pergunta, realmente aflita e Finn não sabe o que responder. Rachel se incorpora, se aproximando da janela e ele se aproxima dela. "Não sei... não sei porque se casou comigo. Não sei porque ainda me tolera quando não posso fazer isso por você." – confessou. Finn sentiu que podia morrer naquele instante, que a voz de Rachel o estava matando lentamente. "Por que ela pode? Por que? Por que ela pode e eu não posso, que te amo muito mais, que sou sua esposa?"
- "Rach... quero que me escute." – ele pediu, segurando nos ombros dela e a virando, enquanto se olhavam nos olhos. "Não quero te ouvir dizer essas estupidezes nunca mais. Não quero que se questione nem por um segundo se é ou não é correto estarmos casados, porque a resposta vai ser sempre a mesma: sim. Eu te amo e você me ama e isso é tudo o que eu necessito. Não deve se comparar com ela." – ele disse, severamente.
- "E por que não fazer, Finn? Ela te deu o que você mais ama nesse mundo! Como acha que me sinto? Como acha que isso me faz sentir? Estou devastada, Finn, porque não posso fazer isso! Eu, Rachel Berry, a pessoa que colocou um SIM em todos os NÃO que a vida lhe deu, não posso coseguir ter um filho com você! Como acha que me sinto a cada vez que vejo nossos sonhos desvanecerem na frente dos meus olhos por minha culpa?" – ela pergunta a ele, tratando de manter a voz baixa para não acordar Amy.
- "Não é por sua culpa Rachel, é simplesmente... a foram em que as coisas se dão."
- "Como pode dizer isso? Como pode... se manter tão frio a respeito disso?"
- "Porque um dos dois deve manter a sanidade." – ele explicou.
É assim e ele sabe porque passou os últimos meses tratando de entender essa ideia, mas sabe que Rachel não vai agradar escuta-la, que vai machucá-la. Ela se deixa cair no pequeno sofá do quarto, olhando para ele confusa.
- "E se ter filhos é uma loucura Finn, para que se casou comigo? Para ter quem cuide da casa ou... uma babá em tempo integral?" – pergunta, com a voz carregada da mesma tristeza e Finn sabe que as coisas não poderiam ficar pior.
- "Ela morreu, Rachel. Em um momento está vamos discutindo sobre a cor do quarto do bebê e no seguinte me ligaram do hospital uma manhã para me dizer que já não estava. Morreu em uma sala de cirurgia sem sequer poder conhecer sua própria filha. E se perder a Laura me doeu... te perder me mataria. Me destruiria." – disse, quase tão triste como ela, se aproximando tentativamente.
Rachel olhou para ele por um segundo e se incorporou para beijá-lo na bochecha. Porém, quando Finn quis voltar para a cama, ela o parou com um olhar.
- "O lençol do quarto de hospedes está limpo." – murmurou, como se ele devesse se conformar com isso.
Finn, porém, não colocou resistência.
-oo-
Não podia dormir. Na realidade, não recordava quando havia sido a última noite em que havia conseguido dormir por completo. Se movia na vazia cama, buscando conforto e novas posições, quando sabia que o que lhe faltava não eram mais travesseiros ou uma coberta mais grossa, mas sim seu marido.
Sentia falta dele. Sentia falta de sentir seu corpo ao seu lado. Sentia falta do som de seu riso, da doçura de seu olhar, até o tom grosso de sua voz ao telefone. E pior ainda que sentir falta dele era ver ele todos os dias, ter ele ao seu lado, mas sem sentir que estivesse ali.
Sim, ele estava ali e ela também, mas eles não. A parte dela que se complementava com a dele estava obsoleta e o resto de Rachel não conseguia nunca entrar em sintonia.
Aquela noite, porém, sentia falta dele mais do que nunca e lhe pareceu irreal estar sofrendo dessa maneira quando ele estava a alguns passos dela. Calçou as pantufas e se dirigiu para o quarto de hospedes, mas encontrou a cama vazia. Por um momento temeu que ele tivesse isso, mas depois sentiu o inconfundível som da cafeteira proveniente da cozinha e se aproximou de lá o mais rápido que pode.
- "Oi." – murmurou, quando o viu parado ali, golpeando a pequena máquina.
- "Oi." – ele respondeu, entre surpreso e esperançado.
- "Me deixa te ajudar com isso." – propôs ela, colocando a cafeteira para funcionar.
- "Obrigado. Não podia dormir e achei... achei que talvez se visse aquele filme do Jim Carrey, que sempre me dá sono, poderia consegui." – confessou ele, sem olha-la.
Ela buscou duas xícaras na estante e preparou um prato de biscoitos.
- "Brilho eterno de uma mente sem lembranças? Não temos. Emprestei para Kurt." – mentiu ela, pensando que talvez Finn quisesse passar um tempo com ela e serviu o café nas duas xícaras. Olhou para Finn pelo canto do olho, tateando o terreno e tomou coragem para continuar falando. "Me perguntava... quais são as chances de ter uma conversa com meu melhor amigo Finn. Realmente o necessito agora."
- "Bom... ele não faz muito a essas horas. Seu esposo não ficará com ciúmes?" – brincou, enquanto ambos se sentavam na mesa.
Ela sorriu e Finn sentiu como se seu próprio coração acabasse de retornar ao seu peito.
- "Não sei se Finn terá dito algo, mas há uns dias tivemos uma discussão e... realmente quero que isso termine. Sinto muita falta dele." – confessou, sem olhá-lo, se concentrando em sua xícara de café.
- "Pelo que tenho entendido, ele está muito apenado também." – contestou ele, partindo um biscoito e comendo um dos pedaços.
- "O que nos passou?" – perguntou ela, realmente sem entender.
Ele sorriu tristemente.
- "Como seu melhor amigo posso te dizer que o problema é sempre o mesmo: ambos querem tudo demais." – respondeu, limpando as mãos. Agora foi Rachel a que desenhou um triste sorriso. "Como seu marido, porém, devo te pedir perdão."
- "Sou eu que devo te pedir perdão Finn, me comportei como uma louca."
- "Essa é a mulher que eu amo, com a qual me casei. Essa é minha esposa." – explicou ele, segurando a mão dela.
Rachel sentiu como todo seu corpo relaxava com esse simples gesto.
- "Ainda te interessa que seja sua esposa?" – questionou ela, com voz pequena.
- "Rach... eu não te amo menos por cada negativo que conseguimos. Provavelmente te amo ainda mais, se me pergunta." – confessou Finn.
Rachel danou a chorar, abandonando sua cadeira para se sentar no colo de Finn, enquanto ele a abraçava fortemente.
- "Eu também te amo, Finn. Te amo tanto que eu só... só queria te dar isso. Nada mais." – ela disse, entre choro.
- "Carinho, eu me casei com você porque te amo e porque quero passar o resto da minha vida ao seu lado. Os filhos... são um complemento. Sim, desejo eles com toda minha alma e sim... penso constantemente neles. Mas não quero que pense que ter um filho é sua... obrigação ou algo assim." – explicou Finn, desenhando círculos nas costas dela, tratando de frear seu choro.
Ficaram em silencio uns momentos, desfrutando daquela companhia que havia tirado nos últimos dias.
- "Por que não podemos ser um desses casais que brigam o tempo todo?" – perguntou ela, momentos depois, enquanto lhe rodeava a cintura com suas pernas para ficar cara a cara. "Por que devemos ser desses que só brigam uma vez, mas dessa forma?"
- "Se refere a que preferia odiar minha mãe ou discutir pela cor do tapete?" – questionou ele, sorrindo, enquanto arrumava o cabelo dela trás dos ombros.
Ela também sorriu.
- "Não poderia. Sua mãe é maravilhosa e a cor do tapete foi Kurt quem escolheu." – brincou, rodeando ele com seus braços e se recostando nele, enterrando sua cabeça no pescoço de seu esposo.
- "Me promete que as coisas voltaram a normalidade?" – pediu ele, inalando só para encher os pulmões de sua essência, enquanto beijava a cabeça dela.
- "Prometo que serão ainda melhores." – respondeu ela, beijando fortemente nos lábios dele, com toda a paixão que era possível.
Para Finn pareceu que nada podia ser melhor do que isso, mas se limitou a beijá-la só para não gerar outra briga.