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Eu sinceramente gostaria de sair do meu corpo, por alguns segundos. Queria entrar no corpo de outra pessoa, e fazer ela olhar o meu vestido e dizer se está realmente bom ou se está muito vulgar. Queria que ela fosse sincera. Falasse como eu realmente estou. Esse pessoal de New York não é nem um pouco sincero. Olhe aquela velhinha que acabou de passar por mim. Perguntei como eu estava, e ela disse que eu estava divina, me dando uma piscadela depois. Quem em sã consciência diz que Rachel Berry está divina? Eu nunca estou divina. Quero apenas estar adequadamente sexy para meu "encontro" com o Finn. Eu considero um encontro, apesar de não ser.

Estou sinceramente quase "demitindo" Kurt e Santana. Eles estão escolhendo cada roupa e maquiagem para eu usar. Me sinto cada vez mais uma piranha. Quem saiba eu trabalhe melhor sozinha nesse plano. Quem saiba eu arranje alguém novo para me ajudar? Não...acho que eu nunca vou conseguir algo com o Finn sem um empurrãozinho de Santana Lopez e Hurt Hummel. Mesmo não me sentindo nada confortável nesse vestido( quase uma blusa), parece que está dando certo. Estou chamando atenção.

Está frio, e a idiota aqui esqueceu o casaco. Já está de noite, e eu decidi ir até a boate a pé, somente pra ver se as pessoas me olhariam com outros olhos. Gente metida é outra coisa. Sinceramente, talvez eu não esteja gostando dessa nova eu. Ela não parece nem um pouco como eu gostaria de ser. Caseira, simples e nem um pouco vulgar. Andando de noite com esse vestido e essa maquiagem, eu mostro totalmente o contrário.

Parei na entrada da boate, entregando o bilhete que Finn havia me dado mais cedo. Algumas pessoas me olhavam de cima a baixo, e alguns homens chegavam a assobiar. É, eu era uma total piranha. Pra não dizer pior. Entrei no local, e quase dei meia volta. Que merda era aquilo? Dei alguns passos e senti que tinha pisado em algo. Vômito. Esfreguei os pés em um tapete que havia ali perto e fui entrando mais naquela boate que já me enjoava. O cheiro, a música, o ambiente...não me agradavam nem um pouco. Fui até o bar, aonde Finn e eu tínhamos combinado de nos encontrar. Foi fácil achar um gigante no meio daquela multidão.

–Rach!-Ele me abraçou, pressionando meu rosto sobre seu peitoral. Por favor, ele andava malhando?

–Desculpa a demora...tive que vir a pé.

–Você veio a pé? Com essa roupa? Alguém fez algo com você?-Ele disse, parecendo preocupado. Aquele era um dos lados de Finn Hudson que eu adorava.

–Ninguém fez nada comigo. Mas senti que muita gente me encarava. Esse vestido tá muito feio, ou muito curto?-Perguntei, dando uma volta.

–Está lindo no seu corpo, mas...eu sinto que não é você. Não é e nunca foi seu estilo usar vestidos assim. Foi o Kurt ou a Santana que te obrigaram a usar isso?-Ele perguntou, sentando-se em uma cadeira.

Mordi os lábios, sentando-me também. De repente, um flashback veio em minha cabeça. É, acho que vai ser preciso demitir Santana e Kurt.

Flashback on

–GENTE! Olha esse vestido, que perfeito! Todo florido, na altura do joelho, e combina com meu sapato preferido! Vou levar...-Eu disse, mostrando um dos vestidos mais lindos que vi na vida para Kurt e Santana.

–Cristo amado, você já ouviu falar em moda, Rachel Berry? Porque me parece que não.-Santana disse, arrancando o vestido da minha mãe e entregando para Kurt.

–Isso é um vestido ou uma toalha de mesa que Carole vive comprando? Quem saiba, eu leve essa de presente para ela de Natal.-Kurt disse, jogando o vestido em um canto da loja.

–É esse, Rachel...-Santana disse, me entregando um vestido roxo, curto e apertado. Kurt bateu palminhas, e eu dei um sorriso forçado. Aquilo não tinha nada a ver comigo.

 

Flashback off

 

–Foram eles, sim. Me desculpa Finn. Se quiser, eu vou embora. Não quero que passe vergonha.-Eu disse, me levantando. Porém, ele segurou de leve um meu braço, me fazendo virar.

–Você nunca me fez ou vai me fazer passar vergonha, pequena. Ter você do meu lado é um prazer enorme. Agora vem, vamos dançar e achar a mulher perfeita para o gatão aqui.-Finn disse, pegando na minha mão e me guiando até a pista de dança.

Finn Hudson nunca teve coordenação para dançar. Mas isso é uma das coisas que me fizeram me apaixonar profundamente por ele. Ver ele se mexendo, como aqueles bonecos de posto, é uma alegria para mim. Ele tentava seguir os meus passos, mas era quase impossível. Me rodava algumas vezes, pisando no pé de outras pessoas. Ele nem ligava, apenas curtia a música e não tinha medo de mostrar quem ele realmente era.

"Não tinha medo de mostrar quem ele realmente era."

Eu estava fazendo totalmente o contrário disso. Eu tinha medo de mostrar a verdadeira eu. Tinha medo que Finn não gostasse do meu jeito antigo. Parei de dançar, dizendo que iria até o banheiro, e corri até um canto daquele lugar. Me sentei, encostando a cabeça na parede. Tinha um casal do meu lado quase se comendo, mas nem liguei. Eu estava fingindo ser quem eu nunca quis ser. Tudo isso pra finalmente ter uma chance com Finn.

-Somente agora que eu mudei ele parece estar me olhando com outros olhos. Eu não quero continuar com isso, mas é preciso. Finn gosta da nova eu, não da antiga eu. Preciso continuar.-Disse baixo, para mim mesma, me levantando. Senti uma mão segurar a minha, e gelei. Não se parecia com a mão do Finn.

–Deixa que eu te ajudo.-A pessoa disse, e deduzi pela voz que era um homem. O olhei, e fiquei hipnotizada pelos seus olhos. Eles pareciam brilhar. Sorri, levantando de uma vez.

–Obrigada. Sou Rachel Berry.-Eu disse, estendendo minha mão novamente.

–Blaine Anderson.-Ele falou, estendendo a mão também, me puxando para a pista de volta. Era impressão minha ou um homem desconhecido havia me tirado pra dançar?

A música que tocava era lenta, então ele colou nossos corpos, colocando a mão sobre minhas costas. Ele podia ser um assassino, ou coisa assim, mas ele seria minha chave para dar mais um passo no meu plano. Mais ciúmes. Eu tentei avistar Finn, mas nada. Eu e Blaine não trocávamos uma palavra sequer, apenas balançávamos de um lado para o outro. Senti uma mão tocar meu ombro. Finn.

–Eu estou te procurando há um tempão.-ele disse, lançando um olhar furioso para Blaine. Sorri um pouco, me desgrudando de vez de Blaine.

–Me desculpa. Mas e o nosso plano...como anda?-Perguntei, ansiosa para a resposta.

–Invés de investir em alguma mulher, fiquei te procurando, né? Você está aqui para achar alguém pra você ou pra mim?-Finn disse, rolando os olhos. Ele estava dizendo aquilo mesmo? Finn Hudson tinha atiçado a minha fera interna que estava escondida há um bom tempo.

–Eu nunca saio de casa. Nunca venho para lugares assim. Eu sei que disse que iria te ajudar, mas posso, pelo menos, dar uma chance pro meu coração também? Você vem nesses lugares quase todos os dias, e precisa que alguém venha aqui com você pra o senhor finalmente achar a sua, digamos, alma gêmea? Por favor Finn, aprenda a viver um pouco sem a ajuda dos outros.-Disse, e senti meus olhos tremerem. Isso sempre acontecia quando eu ficava brava ou irritada. Eu fico realmente bizarra quando faço isso.

–Quem sabe eu não queira mais participar desse seu plano de achar a mulher perfeita pra mim. Quem sabe, não exista uma. Eu nunca vou amar alguém como eu amei...-Finn falou, e travou na metade. Quem era essa mulher, afinal? Eu sou a melhor amiga dele, e não sei quem é essa vadia que ele amou, ou ama? Que tipo de amigo ele é?

–Diz quem é, Finn. Diz!-Gritei, e senti vários olhares sobre mim. Eu estava realmente chamando atenção aquela noite.

–Quem se importa com o que eu penso, Rachel? Eu amei essa pessoa sozinho, ninguém me mostrou ela, ninguém me aconselhou em dizer pra ela o quanto eu a amava. E eu me ferrei. Nunca disse isso pra ela e agora é tarde demais. Eu só quero alguém para amar de volta, Rachel. Mas eu não quero fazer isso sozinho, de novo. Eu quero a sua ajuda.-Ele falou, parecendo mais calmo.

O encarei por alguns segundos, e voltei a dançar com Blaine, sem nem ao menos lhe dar uma resposta. Estava muito brava por ele não ter me contado quem era a pessoa. Sempre fui a melhor amiga dele, e eu nunca soube que ele já amou alguém, até esse momento. Finn saiu dali, batendo os pés. Ignorei, simplesmente.

–Sinto muito pela briga entre você e seu amigo.-Blaine falou, me olhando nos olhos.

–Está tudo bem.-Disse, mesmo me sentindo horrível por dentro. A razão pela qual eu estou fazendo tudo isso é para ficar com Finn. Mas parece que só está piorando.

–Por sinal...você é amiga de Kurt Hummel, não é?-Eu sussurei um sim, confusa.-Pode me apresentar ele?

–Espera...você é gay?-Perguntei, e ele deu de ombros. Como ele sabia que eu era amiga do Kurt?

Soltei-me dele, sem dar uma resposta. Perdi meu tempo dançando com um gay. Parabéns, Rachel Berry. Procurei por Finn, já que me sentia arrependida pelo que tinha feito e dito. O encontrei aos beijos com uma morena perto do bar. Fechei os olhos, evitando ver aquela cena. Enquanto meus olhos estavam fechados, me imaginei pulando em cima daquela mulher, puxando seus cabelos, enquanto Finn me tirava de cima dela, me carregando para fora daquele lugar escroto, e me levando para casa, enquanto me enchia de beijos.

Mas a realidade não é a mesma. Ela é cruel, e nojenta. Somente vi Finn aproximando-se de mim, sussurando várias vezes a palavra "desculpa."

–Você nunca vai tomar jeito. Vai continuar galinhando até o dia que morrer. Talvez você até durma com a enfermeira que estiver te dando soro no hospital, quando estiver bem velhinho.-Disse, dando um sorriso cínico.

–Rachel...-ele disse, baixinho. Mas sinceramente, já tinha cansado de Finn Hudson por hoje.

–Idiota.-Eu disse, saindo finalmente daquele lugar.

Porém, sem Finn me carregando no colo e me enchendo de beijos. Mas sim, apenas sentindo o vento gélido de New York e as minhas doces lágrimas descendo pelo meu rosto.

Cap. 3: "Alguém para amar" 

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