Cinco amigas e suas mentes criativas
High Five Stories
Estavam tão perto que Rachel podia sentir sua calorosa respiração na comissura de seus próprios lábios. Isso era um sonho por acaso? Uma brincadeira, alguma espécie de aposta? Como era possível que Finn Hudson, o Finn Hudson estivesse ali, segurando ela pela cintura, se recostando sobre ela? Sentiu seus lábios se chocarem mais uma vez, doces porém firmes e pela primeira vez em sua vida sua mente parou, como se alguma espécie de inseto tropical tivesse lhe injetado um veneno bizarro. Aquilo porém, estava longe de ser um tormento, uma tortura. Beijar Finn Husdon era simplesmente o melhor que havia lhe acontecido na vida. Era ainda melhor que cantar com ele, que falar com ele, ou que rir com ele. Beijá-lo era como fazer tudo isso em conjunto. E então quando se permitia da corda solta, o sentiu se afastar estrepitosamente. Balbuciou umas respostas as inseguras perguntas que ela conseguiu formular, para deixá-la ali sozinha no auditório, que pouco a pouco a assolava em suas infantis dúvidas.
Ainda dez anos depois, Rachel podia sentir a vergonha subir pelas extremidades ao pensar no quão tonta havia sido. Esse primeiro beijo seria para sempre o melhor que havia recebido e odiou o... 'problema' de Finn mais que tudo no mundo por ter arruinado aquele momento. Porém, naquela manhã, se sentia quase tão enganada e decepcionada como naquela tarde no auditório. Fazia duas semanas que ela e Finn haviam se reencontrado e em todo esse tempo ele não tinha voltado a aparecer. Havia saído duas vezes para almoçar com Kurt e na realidade isso não estava mal. Havia sentido falta deles horrores e escutar os planos dele e Blaine a simpatizava tanto como contar os seus próprios. Porém, Kurt se recusava a falar de Finn e sempre se desculpava dizendo que seu irmão lhe contaria as coisas, quando considerasse necessário. A essas alturas, Rachel havia formulado tantas suposições ao redor da história de Finn que começava a pensar que a história real seria uma estupidez ao lado de muitas de suas ocorrências. Se levantou da cama para sua rotina matinal e quando estava por ligar a rádio, sentiu o ruído do interfone.
- "O que passa Barry?" – perguntou no interfone.
- "Rachel, tem um tal de Finn Hudson aqui, que quer subir. Deixo?" – respondeu a voz monótona do porteiro.
- "Sim! Sim, Barry. Diga que suba." – gritou ela entusiasmada (talvez demasiado entusiasmada). Se apressou para o banheiro para se arrumar um pouco, mas se deu conta de que não havia muito o que fazer. Recordou que Finn gostava de ver ela assim, natural e rezou para que essa parte dele se mantivesse intacta. Teve que reprimir um gritinho de alegria quando ouviu o ruído de uma mão batendo na porta.
- "Olá." – contestou quando abriu. Se olharam por um momento, como naquela primeira vez há duas semanas atrás, como se certificando de que não fossem as pessoas equivocadas.
- "Olá." – respondeu ele, com um sorriso, lhe entregando um lírio branco que tinha nas mãos. "perdão por vir sem avisar e por demorar tanto, mas passava por aqui e..." – Rachel o silenciou com um beijo na bochecha.
- "Me alegra que tenha vindo. Já estava pensando que não era um homem de palavra." – explicou Rachel, colocando a flor em um jarro. Finn fechou a porta e entrou no iluminado apartamento. Rachel perguntou a ele se desejava alguma coisa para café da manhã e Finn contestou que qualquer coisa que ela preparasse estaria bem. A ouviu cantarolar entusiasmada enquanto revirava os armários e buscava utensílios de cozinha, pensou que possivelmente nunca tinha visto ela tão linda. Com o cabelo levemente desajeitado, uma calça de ginástica e uma camiseta velha como pijama. Fez Finn recordar aquelas manhãs em que acordava cedo para tomar café da manhã com ela antes de ir para a escola (ou nessas poucas vezes em que conseguiam dormir juntos a noite inteira e não somente uns breves minutos antes de que algum de seus pais dessem conta de que haviam escapado).
- "O lugar é genial Rachel. Tem uma varanda e... dá pra ver o parque." – lhe disse, tratando de afastar sua mente daquelas imagens de suas vidas passadas.
- "Bom, quando comprei não era grande coisa. Mas com um pouco de engenharia, alguns fins de semana submergida em pintura e vários presentes de meus fãs, ficou bastante apresentável." – explicou, claramente orgulhosa. Finn sentiu seu estômago rugir diante o cheiro das panquecas de Rachel que pouco a pouco começou a inundar o lugar. Deus, havia sentido falta delas! Essas simplicidades, como o cheiro da cozinha e o som de sua voz, ainda lhe enchia o peito de um calor incrível.
- "Eu adoro quando faz isso." – soltou sem se dar conta. Se corou por um minuto quando os confusos (e extremamente ternos) olhos de Rachel lhe devolveram o olhar.
- "Isso o que? Panquecas?" – lhe perguntou, atuando de forma desinteressada.
- "Não. Quando faz mil coisas de uma vez, quando está concentrada." – se explicou. 'Quando canta enquanto cozinha ou quando sorri dessa forma. Ou a pequena ruga que se forma na testa quando te dou um elogio.' Penso para si mesmo, convencido de que dizer tudo isso era ir muito longe.
- "Bom, espero que continue gostando das panquecas , porque fiz muitas."
- "Nunca são demais para Finn Hudson." – brincou ele, metendo a primeira interia na boca e soltando um suspiro. Havia se esquecido que eram ótimas, em primeiro lugar. Ficaram em silencio um tempo, compartilhando o café da manhã sem conversar. Rachel sentia que eram tantas as coisas que queria lhe perguntar que não sabia por onde começar.
- "Uau, A-Rach... é verdade que consome!" – disse Finn ao ver que Rachel tomava de uma só vez um punhado de comprimidos de diferentes tamanhos e cores.
- "São vitaminas, F-Rod e das reais. Não dessas que eu costumava consumir no segundo ano." – Finn riu tão forte que um par de pedaços de panquecas escaparam da boca dele. "Bom... sim, aí está você." – agregou Rachel, em tom carinhoso.
- "Você está bem? Estive aqui todo esse tempo." – inquiriu Finn, claramente desconcertado.
- "Quando sorri, como agora, ainda posso ver o garoto de dezesseis anos que conheci uma vez."
– se explicou ela.
- "Então você sentiu minha falta tanto como eu senti a sua?" – perguntou ele, atacando outra panqueca. Rachel não contestou: se limitou a terminar o chá e olhar ele pelo canto do olho.
Voltaram a ficar calados e ela pensou que o mais estranho era que nem nos momentos de confissão, nem naqueles de silencio, as coisas ficavam incomodas. Sentia, pensando melhor, que os anos para ela e Finn nunca haviam passado. Que aquele não era mais que um café da manhã de segunda, quando esses dez anos haviam sido, como muito, um longo fim de semana. Estava mal desejar tanto beijá-lo, se acomodar em seus braços, se sentar com ele embaixo do calor do sol de outono que se filtrava pelas janelas? Estava mal que gostasse tanto a forma encantadora em que Finn engolia um e outro pedaço de panqueca? Ou que a fizesse sorrir com cada coisa que saia de sua boca? Pensou que não estava ruim se podia controlar, se podia guardar tudo isso até que Finn desse sinais claros de que ele também tinha esse tipo de pensamento na cabeça.
- "Me estranha de tal maneira..." – disse Finn, se limpando com um guardanapo. "... que ainda não tenha retomado os interrogatórios do outro dia."
- "Já te disse. Estou pronta para escutar quando você estiver pronto para contar." – respondeu ela, enquanto colocava os pratos sujos no lava-louças. Aquele simples gesto, essa simples cena cheia de uma cotidianidade nova e natural ao mesmo tempo, deu a Finn a coragem necessária para lhe explicar as coisas, essa coragem que havia esperado durante suas semanas.
- "Ok, estou pronto. Uma pergunta para cada um, o que acha?" – propôs. Rachel concordou com a cabeça e Finn soltou a primeira pergunta.
- "Quem é Roger?"
- "Como sabe dele?" – soltou Rachel, claramente surpreendida.
- "Seu porteiro me perguntou se eu era Roger. Supus que deve ser seu namorado ou algo assim." – se explicou. Rachel riu tão forte que Finn pensou que os pulmões iriam entrar em colapso.
- "Roger é um fã um pouco... excepcional. Foi me ver praticamente em todas minhas funções e disse estar apaixonado por mim. Tem... alguns problemas mentais, por isso geralmente devo trata-lo com cuidado. Sua mãe me manda cartas de desculpas todas as semanas e já está começando a ficar tão assustadora como o próprio filho. Mas é um bom garoto. Só acho que não sabe distinguir entre minha personagem e eu mesma. Já passará." – finalizou.
-"Bom, por experiência digo, não é fácil te esquecer. Se apaixonar por você sim, mas esquecer... é outra história. É impossível." – soltou Finn. O que lhe acontecia? Por que não podia estar com ela sem terminar parecendo um tonto? "Por que não me pergunta você?" – pediu, tratando de passar o momento.
- "Sim... bom..." – não podia pedir para Rachel formular nada nesse momento.
Por acaso Finn acabava de implicar que anda, em algum lugar, continuava sentindo algo por ela? Finn a olhou quase suplicante, como desejando com todas suas forças que aquela confissão ficasse pelo menos em segundo plano e Rachel não pode fazer mais do que obedecer.
- "Como se converteu em pai solteiro? Está divorciado ou..."
- "Melhor... estou viúvo." – respondeu. Lhe disse de forma tão simples e tão clara que Rachel custou a entender o que aquilo resultara, um efeito, tão simples e claro. "Como chegou a Broadway?" – perguntou ele rapidamente, dando por entender que aquela ia ser toda a informação sobre o tema que Rachel ia obter.
- "Sinto muito Finn, eu..." – não se incomodou em lhe responder a pergunta: sua carreira, nesse momento, era algo frívolo e sem sentido ao lado do que ele acabara de lhe contar. Se levantou do tamborete que estava sentada e se aproximou dele. Se olharam por um segundo, até que Rachel o abraçou pelo ombro, apoiando sua cabeça no ombro de Finn. Por um momento lhe pareceu estranho, como abraçar a um desconhecido, mas então Finn a rodeou pela cintura e... encaixaram. Como duas peças únicas de um quebra-cabeça pouco complicado. Tratou de apertá-lo forte, de transpassar tudo aquilo que não podia formular naquele momento e Finn pareceu entendê-la, porque lhe devolveu o abraço com a mesma força e calor. Notou que oi pequeno suéter que vestia começava a se molhar com as lágrimas que Rachel derramava e sentiu como se algo nele se quebrasse, como se ver ela chorar por ele o fizesse se conectar com sua própria dor, aquela dor que por anos havia escondido em algum lugar remoto de sua alma. Ficaram assim durante vai saber quanto tempo, chorando e se abraçando, sem falar e com a certeza total de que as palavras naquele momento sobrariam.
- "Não chore... por favor..." – pediu ele, quando a dor dela já se fazia insustentável.
- "Não Finn, não entende. Eu... não posso acreditar que algo assim te aconteceu e que eu não estive lá para você, que meus estúpidos sonhos tenham me afastado de todos você, de suas vidas. Finn... qual é o preço que paguei, deixando a todos, vivendo apenas para mim?" – estava tão angustiada e chorava com tanta paixão que outra pessoa teria pensado que exagerava, que era demais. Mas para Finn, que a conhecia perfeitamente, aquela simples reação valia uma imensidão.
- "Rachel, não seja tão dura com você mesma." – suplicou ele. "Se te acalmar, se nos sentarmos e prometer não chorar e manter calada, vou te contar tudo. Eu prometo." – ela concordou e o segurou pela mão para guiá-lo até o sofá. Se limpou com a camisa o suor e com as mãos as lágrimas que ainda tinha no rosto e lhe deu um aperto como sinal de inicio.
- "Laura e eu nos conhecemos na universidade." – começou. "Ambos éramos calouros, mas ela tinha uns anos a mais, já que avia iniciado com várias profissões, mas nunca durava mais de um ano nelas. Durante um tempo eu não... não prestei atenção nela. O Futebol ocupava grande parte do meu horário e sinceramente não queria ter uma relação com ninguém. Em algum ponto acho que ainda nesse momento esperava que algum de nós dois se arrependesse de ter nos separado e tratar de solucionar as coisas." – lhe explicou, como se confessar que ainda depois de terminar de forma fraudulenta ele continuasse a amando, era a coisa mais natural do mundo. Rachel pensou, então, que era assim como Finn via o mundo e que para ela também havia sido difícil superar a ruptura. "De todas formas..:" – continuou ele. "...entrando no segundo ano Blaine e Kurt me convenceram de que deveria deixar de... te esperar. Então convidei Laura para um par de encontros. A verdade seja dita, não funcionou muito. Melhor, não funcionou nem um pouco! Discutíamos por tudo, desde o mais pequeno para o maior e nunca conseguíamos avançar. Eu acho, em retrospectiva, que buscava nela as coisas que havia conseguido em você. Coisas que, sabia com total certeza, nunca ia encontrar em outra mulher." – Rachel sorriu um pouco, lisonjeada. Finn lhe devolveu o sorriso, contente de que ela não chorara. "Também no segundo ano me escolheram como o Quarterback e era muito difícil manter os horários e as práticas em conjunto com uma relação, então nos separamos após poucos meses de termos começado. Durante dois anos fui... bom, o que se pode esperar de um jogador estrela de Futebol Universitário." – lhe explicou, com um meio sorriso.
- "Já te imagino. Festas com líderes de torcida, fraternidades e todas as mulheres chorando por ter uma jaqueta do jogador." – bradou Rachel e Finn não pode evitar sorrir.
- "Sim, algo assim. Enfim..." – continuou e Rachel se aproximou mais dele inconscientemente, tanto que se viu obrigada a colocar suas mãos (que ainda estavam entrelaçadas) em sua própria saia. "Esses anos foram o que qualquer um poderia pedir de seus anos universitários. Kurt já trabalhava em algumas obras universitárias e Blaine e eu o ajudávamos e juntávamos dinheiro para... bom, realmente não seu para que guardávamos, mas ali estava. Nosso apartamento era um desfile do orgulho gay e sendo sincero, não me importava. Me ajudava muito com as mulheres." – Rachel voltou a rir fortemente e Finn pensou que nunca ia se cansar desse riso. Ficou em silencio, a contemplando e ela aproveitou o momento de proximidade emocional para se aproximar mais dele fisicamente. Era como se seus corpos desejassem se sentir, estar perto, comprovar que quem tinha em frente não era um estranho, mas aquele personagem familiar ao que durante tanto tempo haviam ansiado.
- "E o que aconteceu então?" - perguntou Rachel, o convidado a continuar.
- "Então tive um acidente." – ela se sobressaltou e abafou um grito com a mão que tinha livre. "Nada muito grave." – explicou ele, tratando de acalmá-la. "Uma parede falsa da casa de Dorian Gray caiu em cima de mim. A universidade se viu obrigada a me pagar a operação do joelho, operação que saiu mal, por isso os cirurgiões tiveram que me compensar economicamente, o que me converteu em um jovem de 23 anos, com muito dinheiro e nada para fazer da vida. Verá..." – a forma em que apertou a mandíbula antes de falar lhe deu a entender a Rachel, que aquilo tinha um gosto amargo. "... o único que eu havia planejado para mim, era ser jogador de Futebol. O canto, as obras de teatro, a construção de cenários... isso eram passatempos. O que realmente me apaixonava era... lançar essa bola oval em grande velocidade pelo campo." – ela lhe deu um aperto na mão, de forma carinhosa e Finn se atreveu a olhá-la.
- "Sei o que sente. Bom... não é que eu saiba realmente, mas intuiu o que poderia chegar a me passar de perco a voz." – lhe disse e Finn encontrou em seus olhos aquele ponto de entendimento que não havia conseguido encontrar em mais ninguém. Aquilo lhe deu coragem para continuar.
- "Laura e eu voltamos, então. Ela havia conseguido se formar em fotografia e eu a acompanhava nas viagens que costumava fazer. Blaine e eu começamos com o curso para treinadores e por um tempo achei que as coisas estavam bem. Gastei cada centavo em medicinas, consultas, doutores, massagistas... o que fosse. Mas nunca encontrei uma só pessoa que me prometesse soluções. E então, em um outono, me dei por vencido. Recordo perfeitamente o dia: estava sentando no centro do campo, ouvindo um pouco de música e vi esse garoto passar com o uniforme de jogador. Me lembrou a mim, Rachel! De como o uniforme me fazia sentir seguro, protegido de quem sabe o que. Entendi... entendi que eles não me necessitavam. Que eles não era os Titãs, ou o Novas Direções. Que no mundo real não nos esperam com ânsias se chegamos um pouco tarde para as seletivas do Clube Glee." – disse isso com um meio sorriso, como se buscasse cumplicidade. Recordou então que isso poderia ser necessário com outras pessoas, mas não com Rachel. Ela o entendia sempre. "Voltei para o apartamento decidido a ir, a regressar para Lima, a abandonar tudo... e então a encontrei. Estava tão emocionada e gritava tão forte... que me custou uns segundos me dar conta do que era que dizia. 'Estou grávida', me disse mais calma e por um minutos pensei em Quinn Fabray, no tão fácil que havia me enganado ou no pouco inteligente que eu tinha sido então. Mas me bastou processar para saber que isso... isso era real. Que era lógico o coincidente que aquele dia em que eu havia pensado em abandonar tudo, algo assim me acontecia. Eu estava pedindo para encontrar meu lugar no mundo, minha especialidade, minha... profissão. E aí estava. Ia ser pai." – só então ambos se permitiram chorar. Esse choro, porém, era diferente. Era desse tipo de choro que te alcança quando sente que fez as coisas bem, que não poderia pedir nada mais.
- "Finn..." – murmurou ela, o abraçando de novo. Ele se perdeu durante um segundo no cheiro de seu cabelo, no contato da respiração de Rachel em seu pescoço. Sentia como se essa fosse sua medicina, como se a dose de Rachel que havia lhe negado nesses anos começasse a fazer efeito.
- "Por um tempo nos queríamos. Acho que, ao final do dia, já a amava. A amava porque ela tinha me devolvido parte de mim, isso que estava me faltando. Continuamos discutindo e as vezes ela ia e não voltava por um par de dias, mas o importante era que sempre voltava. Até que um dia não o fez." – explicou, novamente dotando tudo com uma simplicidade incrível. Rachel se aproximou dele com mais força, lhe acariciando as costas em pequenos círculos. "Morreu na mesa de cirurgia. Quando os médicos me chamaram, já não havia muito que pudessem fazer. Nunca entendi, por mais que me explicassem, o que era que havia acontecido. Eu apenas sabia que ela não estava, que minha filha corria perigo e que tudo o que me faltava era esperar. Amy... era muito pequena quando os médicos tiraram ela. Tinha apenas seis meses. Lembro que cabia perfeitamente em apenas uma mão minha. O dia em que tirei ela do hospital começou a chorar muito forte e recordo que olhei direto nos olhos dela e lhe pedi que se calasse um segundo... como se ela fosse o suficientemente inteligente para entender. E sabe de uma coisa? Não chorou nunca mais. Não dessa maneira, pelo menos." – finalizou. Voltaram a ficar em silencio pela milionésima vez naquela manhã e Rachel mediu com um pouco de cuidado as palavras que ia dizer.
- "Eu acho..." – começou se separando um pouco para olhá-lo nos olhos. "Eu acho que essa menina é a mais sortuda do mundo. Primeiro porque ter você como pai e já te disse que estou segura de que isso só pode ser bom." – Finn sorriu e Rachel pensou que isso era um bom sinal. "E segundo porque ninguém melhor do que você sabe o que é crescer sem um pai ou uma mãe. Você vai entender ela, a acompanhar e cuidar dela melhor do que ninguém por esse mesmo motivo. Você e Kurt e toda sua família. Porque sabem o quão doloroso é perder a um ser querido, especialmente um que não nos deram a oportunidade de conhecer." – explicou. Finn entendeu então o quanto de sua história havia ali, o quanto daquela história compartilhada. Rachel não tratava de consolá-lo com palavras vãs ou não pretendia mentir para ele. Ela estava lhe dizendo que se ele, Kurt e ela mesma haviam conseguido... sua própria filha poderia. Pensou em beijá-la. Pensou que só assim poderia lhe transmitir tudo aquilo que havia pensado nessa semana (e nessas duas semanas em que não havia feito outra coisa que pensar nela). Mas então sentiu seu telefone vibrar e reprimiu uma reclamação ao sentir como Rachel se afastava dele para lhe entregar o aparelho.
- "Não quis olhar, mas é Blaine."
- "Sim... devo atender." – disse ele saindo para varanda para falara. Rachel dedicou esse segundo para tratar de voltar tudo o que havia acontecido nessa última hora, mas claramente os pensamentos lhe batiam de tal forma que não foi capaz de tirar um veredito de tudo aquilo.
- "Tenho que ir. Blaine quer repassar umas planilhas antes do treino, então..." – claramente não encontrava contente com a ideia de ir e Rachel notou pelo tom de sua voz.
Isso lhe deu ainda mais vontade de lhe pedir para ficar.
- "Sim... eu também tenho coisas para fazer então... não se preocupe." – inventou, tratando de não parecer desesperada. Finn pegou sua jaqueta e caminhou até a porta.
- "Acha que... se incomodaria se eu voltar a passar aqui amanhã? – lhe perguntou, esperançado.
- "Não se você trouxer o café da manhã." – contestou ela, com o mesmo tom.
- "De acordo, é um trato." – disse. Se aproximou para beijá-la, mas mudou de opinião no último minuto e a beijou na testa.
- "Até amanhã, Finn." – murmurou ela.
-"Até amanhã, Rachel." – respondeu ele. Enquanto fechou a porta, ambos soltaram um suspiro.