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- "Finn Hudson!" – murmurou Rachel, deixando que as palavras gravassem no córtex cerebral.

- "O próprio!" – respondeu ele. Estendeu seus braços, quase como chamando por ela e Rachel se enrolou instantaneamente neles. Não havia dúvidas de que esse era Finn, de que esses eram seus braços, de que esse era seu sorriso.

- "Está..."

- "Mudado? O que acha, devo emagrecer?" – perguntou ele em tom risonho.

- "Não... nem um pouco. Está perfeito." – contestou ela, batendo carinhosamente no peito ele.

Finn voltou a sorrir.

- "Você está linda. E esteve fantástica lá em cima Rach. Sério! Me senti... muito orgulhoso." – murmurou quase como lhe contando um segredo.

- "Ok! Aonde vamos?" – perguntou Kurt entusiasmado.

- "Bom... eu convido vocês, me sigam!" – propôs Rachel, enquanto cumprimentava a Blaine antes de entrar no seu próprio carro.

- "Eu vou com você." – agregou Finn. Rachel sorriu. Isso sim colocaria a prova suas habilidades como condutora.

- "Lindo carro. Hibrido, né?" – perguntou Finn tratando de iniciar uma conversa. Rachel explicou que o carro havia sido um presente da companhia ao descobrir seu compromisso com o meio ambiente. Ficaram em silencio um tempo, quase como tateando o terreno. Rachel estava por perguntar o que era exatamente que Finn estava fazendo em Nova York quando o telefone dele começou a tocar. O rosto de Finn se iluminou ao ver o nome de quem falava.

- "Olá preciosa!" – disse ao contestar. Rachel colocou todas suas forças em dissimular sua intriga. "Sim, já vimos a obra. Esteve incrível, devo te trazer para ver. Agora iremos jantar com uma velha amiga, então te verei amanhã, está bem? Adeus, eu também te amo!" – só então Rachel notou o anel que Finn tinha em sua mão esquerda e sentiu como se tivessem lhe jogado um balde de água fria na cabeça. Como poderia ter lhe ocorrido que uma pessoa tão incrível como Finn não estaria, a essas alturas, com alguém? O olhou por um segundo e reconheceu imediatamente o sorriso que agora ele portava: era o mesmo sorriso que costumava lhe dar de vez quando, quando eram mais jovens. Um sorriso cheio de... amor. Finn olhava distraidamente pela janela e Rachel pensou que quem quer que fosse essa mulher, deveria se sentir a pessoa mais sortuda do mundo.

- "Então... o que faz na cidade? A que se dedica?" – perguntou, tratando de sair daquele estado de desconcerto em que se encontrava.

- "Sou treinador das equipes menores dos Jets. Blaine e eu na realidade." – respondeu ele, claramente entusiasmado por compartilhar com ela aquilo com que ganhava a vida.

- "Os Jets... Isso é Futebol Americano, né?"

- "Exatamente!"

- "Treinador Hudson!" – disse ela sorrindo. "Soa bem. E claro que, com suas habilidades de liderança e de encontrar o melhor em cada pessoa, deve ir muito bem."

- "É uma longa história. Não me queixo. Digamos que não era minha primeira opção, mas... as coisas saíram bem." – Rachel não pode evitar que o seu coração afundasse um pouco ao escutar o tom de resignação em sua voz.

- "Tenho a certeza de que teria sido fantástico em qualquer coisa que se propusesse." – murmurou em tom caloroso.

- "Ainda como físico nuclear?"

- "Ainda como físico nuclear." – lhe assegurou ela e ambos soltaram uma gargalhada. Sentia falta disso. Sentia falta de compartilhar esse tipo de coisas simples com uma pessoa, ou estar com alguém sem ser vista como um ser superior. Parou em um sinal e aproveitou para olhá-lo novamente.

Finn nunca havia sido muito atrativo (nem muito pouco), mas aparentemente os anos caíram muito bem nele. Tinha o cabelo um pouco mais curto e uma leve barba de uns dias que era perfeita. Rachel pensou que deveria ser ilegal que um homem casado possuísse todo esse atrativo.

- "Claramente os anos te fez justiça, Hudson!"

- "Você não foge a regra, Berry. É sério... está linda!" – Rachel tirou o olhar dele, utilizando o tráfico como desculpa para não pensar em que Finn Hudson ainda lhe achava atrativa. Ainda assim podia sentir os calorosos olhos de Finn cravados em seu rosto, como se estivesse a analisando.

Ela também tinha o cabelo mais curto e estava sem maquiagem. Finn pensou que, na realidade, parecia como se a experiência ia brotar através da pele: não era o aspecto de Rachel que havia mudado tanto, mas sua atitude.

Aparentemente, todos naquele lugar a conhecia, desde o homem que estacionava os carros até os garçons ou a garota que atendia o caixa. (Finn inclusive pode notar alguns clientes de outras mesas trocarem olhares de assombro ao ver ela entrar, como se de trás deles viessem Marilin Monroe em pessoa). Não lhe custou recordar que Rachel Berry agora era uma celebridade e que seu rosto aparecia em umas das marquises da Broadway.

Quando retomou o fio da conversa, já havia se sentado na mesa.

- "Blaine e eu nos mudamos para cá há uns meses, quando me pediram para desenhar o cenário de volta do Cats. Estávamos trabalhando em Los Angeles, eu como desenhista e ele como treinador de Futebol e me ofereceram Cats no mesmo dia que chamaram Blaine para os Jets. Não havia desligado o telefone e já tinha mil malas prontas." – finalizou Kurt, terminando de uma vez a sua bebida e pedindo ao garçom outra rodada.

- "Muita... coincidência." – disse Rachel.

- "Tomamos como uma espécie de sinal divino." – explicou Blaine.

- "Sim, o Grilled Cheesus claramente havia colocado uma mão em tudo isso." – brincou Finn.

Rachel quase derrama sua própria bebida e Finn achou tão engraçado que não pode evitar passar seu braço pelas costas do banco e lhe acariciar o ombro de forma carinhosa. Rachel ficou imóvel. O que estava fazendo? Não se supunha que Finn tinha... algo? Não ajudava que o banco em que estavam sentados fosse muito pequeno para Finn, nem que ele se via obrigado a se sentar tão perto dela. Tão pouco ajudava que Kurt e Blaine lhe enviasse olhares confusos e que tivessem sido o casal mais carinhoso de todo o restaurante.

- "Então vocês dois estão casados?" – questionou Rachel, tratando de afastar sua mente daquele lugar estranho, uma vez mais na noite.

- "Sim, nos casamos em uma praia no Hawaii há um par de anos. Foi pequeno: nós dois, meus pais, os pais de Blaine, Finn e Amy. Blaine teve que fazer sem camisa porque havia lhe picado um inseto super venenoso." – explicou Kurt.

- "E para sempre recordará isso, no dia de nosso casamento." – murmurou Blaine amargamente. Rachel nem sequer escutou essa parte da história. Sua mente se desconectou em quando escutou o nome de Finn e dessa mulher. Amy... Finn e Amy. Essa deveria ser sua esposa, a que havia ligado no telefone e a mesma para a qual havia dado o autógrafo. Notou que Finn lhe dirigia a palavra.

- "Te perguntava se você está com alguém." – ele repetiu, ao ver o rosto desconcertado de Rachel.

- "Não, não... não estou. É difícil na realidade. Eu tentei várias vezes, mas não funciona. Vejam..." – explicou, mais falando para Finn do que para o resto. "...as pessoas do ambiente só se preocupam pelas coisas do ambiente. E francamente eu busco um parceiro para ter um lugar aonde... escapar um pouco de tudo isso. Por outro lado as pessoas fora do ambiente não entendem que as vezes temos... horários loucos, jantares, benefícios, funções especiais, entrevistas. É difícil." – finalizou com certo tom resignado.

- "Conta também que muitos do ambiente jogam na nossa equipe." – agregou Kurt, conseguindo um riso de aprovação do resto da mesa. Ficaram em silencio uns momentos, até que Rachel não suportou mais a ansiedade.

- "Você também está casado, né?" – inquiriu, utilizando todas suas habilidades de atuação para ocultar sua evidente desilusão. Finn a olhou intrigado.

- "De onde tirou isso?" – perguntou quase risonho. Rachel não soube o que responder ao princípio.

- "Bom... me fez autografar para Amy e depois... a ligação no carro. E Kurt disse... que foi com você ao casamento. E o anel. Não sei, acho que deduzi. Não sou tão estúpida."

- "Não é estúpida. Mas sim, tem uma tendência a ver coisas aonde não tem." – ambos estavam quase murmurando e haviam se aproximado tanto que lhes faltavam pouco para chocar as testas. Rachel soltou um risinho, claramente soltando também um pouco da tensão e o olhou diretamente nos olhos. Finn buscou seu celular.

- "O anel é por ter ganhado o campeonato juvenil do ano passado. Blaine também tem um." – ele levantou sua mão, mostrando o idêntico anel que tinha. Rachel sentiu como suas bochechas acendiam. "E Amy..." – continuou Finn. "... é minha filha. Tem quatro anos, quase cinc grande amor da minha vida. Mas não é minha esposa." – lhe explicou mostrando a foto de uma pequena menina. Era francamente linda. Seus olhos eram muito similares aos de Finn, igual que seu sorriso e tinha o cabelo escuro trançado de tal forma que parecia uma boneca.

- "Finn... é linda!" – murmurou Rachel, claramente emocionada, lhe devolvendo o pequeno aparelho.

- "Não é só linda. É muito engraçada também e... é muito linda. Sabe me encontrar o ponto certo. Ter digo, é o melhor que me aconteceu na vida." – falava com tanto entusiasmo que Rachel não pode evitar sorrir.

- "Te felicito. Estou segura de que é um pai incrível." – lhe disse, se atrevendo a beijar na bochecha dele. "Então você está... divorciado?"

- "É uma longa história." – disse Finn, tratando de fechar o tema.

- "Pelo pouco que temos conversado essa noite, todas suas histórias são longas." – respondeu Rachel, tratando de ocultar agora, o tom de reprovação em sua voz.

- "Carinho, nos encontramos há um par de horas. Temos meses para colocar tudo em dia." – sentenciou Kurt. Rachel concordou, enquanto Finn guardava seu telefone.

- "Querem que eu lhes conte histórias da Broadway? Tenho um par que são bastante engraçadas." – propôs Rachel recebendo um gesto afirmativo de Kurt. Finn não voltou a falar de Amy no resto da noite.

- "Está segura de que não é um incomodo? Posso pegar um taxi..."

- "Vamos Hudson! Suba no carro, deixa de se fazer de difícil." – lhe gritou Rachel do interior do veículo. Kurt lhe deu um empurrãozinho nas costas para lhe dar coragem e Finn terminou dando por vencido e aceitou o convite de Rachel para o levar para casa.

- "Não queria que soubesse aonde mora?" – perguntou ela, uma vez que marcou a direção no GPS e entraram no transito.

- "Não... é que pensei que você deve ser uma pessoa muito ocupada agora e estase fazendo de taxista não é muito produtivo." – contestou Finn, ainda se movendo incomodo no carro.

- "Não tinha muito que fazer as... três e meia da madrugada." – brincou Rachel, olhando para o relógio. Finn ainda continuava tenso, então ela tomou coragem e o acariciou no braço que tinha perto, lhe arrancando um sorriso. Se olharam por um momento e Rachel aproveitou para soltar o que vinha guardando há um par de horas. "Finn... me desculpe se insisti muito durante o jantar para que me fale dela. Realmente não necessito saber, se você não necessita contar."

- "Sabe de uma coisa? Todos esses anos... não havia um momento que não quisesse te encontrar, sentar com você, tomar um café e te contar tudo. Suponho... não sei porque, mas em meus piores e em meus melhores momentos sempre pensava em você. Que me diga agora que está orgulhosa de mim, ou que não tenha duvidado nem por um momento de que sou um bom pai... não sabe o quanto significa essas coisas para mim, Rach." – lhe explicou, quase em um sussurro e sem olhá-la.

Rachel sentiu por um momento que não estavam ali. Que aquilo não era Nova York, mas Lima. Que esse não era o interior de seu carro, mas o pequeno balanço que seus pais tinham no jardim traseiro, aonde ela e Finn passavam as tardes de verão trocando confissões (as vezes grandes e loucas e as vezes pequenas e estúpidas, mas sempre importantes).

- "Sei quanto significa, Finn... porque aconteceu o mesmo comigo essa noite. Me reencontrar com vocês hoje, com você sobre tudo, foi muito especial. Quase...muito especial. Coincidência, diria eu." – explicou ela, no mesmo tom. Finn se atreveu a olhá-la, com uma expressão de incerteza lhe cruzando o rosto. Rachel pensou que era justo lhe explicar, que Finn entenderia. "Uma menina veio me ver essa noite, Inês. Ela me recordou enormemente a pessoa que eu era nessa idade, sabe? Seu olhar... era como se os sonhos e os projetos saltassem aos olhos. Quando estava por sair no palco, me disso algo que fez com que pensasse em você pelo resto da noite." – finalizou. Pensou que se Finn queria saber mais, se animaria a perguntar. Sorriu ao ver ele se mover em seu banco, expectante.

- "O que te disse?" – murmurou, como se Rachel estivesse contando a história mais importante do mundo. Ela sorriu ainda mais ao se dar conta de que sentia muitíssima falta disso nele, a forma em que Finn costumava olhar para ela (aquela forma terna e calorosa em que olhava agora).

- "Quebre a perna!" – respondeu Rachel, esperando que Finn captasse tudo o que aquilo indicava. Esse lhe devolveu um sorriso cúmplice e Rachel sentiu que o coração escapava do peito. Ficaram em silencio uns segundos, até que Finn soltou uma gargalhada, enquanto coçava a cabeça de forma nervosa. Essa era outra das coisas que ela sentia falta nele.

- "Posso saber o que tanto te causa graça?" – perguntou, ainda que já tivesse se contagiado com o entusiasmo de Finn.

- "Me perguntava em que momento havíamos nos convertido nesses adolescentes despreocupados novamente. Haveria sido na segunda ou terceira bebida?" – questionou ele ainda risonho, mas com uma óbvia nota de seriedade na voz. Rachel suspirou aliviada. Ao menos ele também havia estado sentindo as mesmas coisas que ela havia sentido nas últimas horas.

- "Eu, melhor, tratava de entender em que momento nos convertemos nesses adultos incômodos com... obrigações, trabalhos e responsabilidades." – agregou ela no mesmo tom.

Finn a olhou confuso.

- "Lamento que tenha sido assim para você, eu... eu não me senti incomodo em nenhum momento. Isso posso jurar." – murmurou ele, quase doído.

- "Nem sequer quando te interroguei?"

- "Nem sequer quando me inventou uma esposa falsa, me convertendo em um pedófilo e cometedor de incestos. Nem sequer nesse momento." – confessou ele.

- "Eu tão pouco..." – respondeu ela, desligando seu carro. Finn não pode ocultar sua decepção ao ver que já haviam chegado em sua casa.

- "Não sei o que tem seu carro Berry, mas aparentemente aqui não se pode ser desonesto. Acho que me expus completamente." – disse, com um sorriso nervoso. Rachel se virou no banco do motorista para ver ele melhor.

- "Não fomos sempre assim? Honestos mesmo se doesse?" – inquiriu em tom cúmplice.

Finn concordou com um sorriso. Estava tão bem embaixo dessa luz, com essa expressão no rosto, que Rachel não pode evitar esticar sua mão para lhe acariciar a bochecha. Finn não se surpreendeu, não abriu os olhos assustado, não saiu do meio, nem deu sinais de desconforto. Se inclinou um pouco sobre a mão de Rachel, deixando que ela lhe acariciasse também a parte de trás de seu ouvido. Tinha sentido tantas saudades dela nesses anos, que quase era doloroso. Era como se até esse momento não tivesse sido capaz de se dar conta que aquele vazio que sentia podia apenas ser preenchido por ela, por seu sorriso contagioso, por sua voz, por suas mãos. O som de uma alarme rompeu o momentâneo silencio e Finn franziu a testa ao sentir que Rachel abandonava o contato.

- "Te convidaria para entrar, mas amanhã as nove levo a Amy ao colégio, então..."

- "Não, está bem. Entendo." – respondeu Rachel, tratando de ocultar sua desilusão. Finn desceu do carro e quando já estava por entrar no prédio, voltou sobre seus passos até aonde Rachel estava.

- "O que acha de um desses dias, depois de deixar a Amy na escola, nós tomarmos um café?" – propôs se apoiando na janela aberta.

- "Como posso dizer que não a esse olhar sedutor, Hudson?" – brincou Rachel. Pegou um pedaço de papel de sua bolsa e uma caneta e escreveu seu endereço. "Não dê a nenhum fanático ou terei que me mudar de novo."

- "De novo?" – perguntou sorrindo. Rachel fez um gesto com a mão e ligou o carro. Finn a beijou na bochecha e se aproximou da porta de sua casa. Até que o carro de Rachel se perdeu de vista, não teve coragem de entrar.

Rachel foi dormir com a impressão de que nada (nem a nominação para um Tony, que possivelmente receberia em um par de semanas) poderia superar a alegria que havia lhe trazido ter Finn de volta em sua vida.

Capítulo 2

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