Cinco amigas e suas mentes criativas
High Five Stories
Se alguém perguntasse, Finn teria dito que se sentia um pouco enganado. Mas ninguém perguntava, de todas formas. Soube que as coisas iam mudar quando no quadro da cozinha, lugar do calendário dos jogos da temporada, apareceu uma breve contagem regressiva com o título 'Estreia' escrito na complexa e perfeita caligrafia de Rachel.
Só faltava uma semana. Sete dias. Não queria dizer em voz alta para não soar repetitivo, mas nunca havia estado tão orgulhoso dela (bom, talvez quando teve os gêmeos. Sim, seguramente que nesse momento esteve mais orgulhoso. Como for, agora está incrivelmente orgulhoso e isso conta). Porém, não podia evitar se sentir enganado.
Rachel havia começado a passar cada vez menos tempo em casa e Finn se deparou uma tarde com que seu lar havia se transformado no asilo dos pais dela e de seus próprios pais. Não se importava com a companhia, afinal havia comprado uma casa grande para que todos pudessem ficar cômodos. Mas então devia compartilhar as poucas horas que tinha com Rachel, com seus pais, seus sogros e seus filhos, reduzindo seu tempo a sós a esses breves minutos em que conversavam ates de adormecerem (que cada vez era menos, conforme avançavam os ensaios e as entrevistas e Rachel voltava cada vez mais cansada para casa).
Nem sequer pensava no sexo que não estavam tendo. A essas alturas se conformava com manter uma conversa fluida com ela sem que um dos dois adormecesse (ok, ok! Um pouco de sexo também. Não tem nada de mal em querer fazer com sua esposa, né?).
- "Lembrou de pagar os impostos?"
- "Sim..."
- "E a escola de Amy?"
- "Sim..."
- "E as aulas de ballet?" – Finn não respondeu, mas soltou uma gargalhada que se viu amortecida pelo cabelo de Rachel, ande ele tinha enterrado seu rosto. "Por que ri? Se esqueceu de pagar, né?"
- "Não, eu paguei sim. É só que... isso me diverte." – mentiu.
Seu riso provinha mais da frustração do que da graça, mas não podia dizer a ela.
- "O que é isso?" – questionou ela, com um bocejo, se acomodando mais nos braços dele.
- "Essas... conversas profundas que temos sobre impostos, contas e a goteira no banheiro." – explicou ele, entrelaçando suas pernas debaixo do lençol.
Rachel soltou um risinho.
- "Eu sei. Parecemos um casal de casados com três filhos. Cheios de obrigações." – murmurou com um sorriso, enquanto sua voz ia perdendo pouco a pouco a força. Finn lhe acariciou uma de suas suaves pernas, subindo lentamente até sua coxa. "Finn..."
- "Só estou te acariciando... sem pressão..."
- "Eu sinto muito carinho, mas realmente estou cansada. Estive dançando todo o dia, quase não sinto minhas extremidades."
- "Não, eu não... claro que quero fazer isso, mas entendo que está cansada e que deve descasar, eu só... queria te acariciar."
- "Te direi que: se aceitar acordar meia hora mais cedo, podemos fazer amanhã de manhã."
- "Agora programamos o sexo também? Quer que eu compre um outro quadro maior e coloque na cozinha?" – ele disse, em tom de brincadeira, mas se entusiasmando com a ideia.
Rachel chutou ele por baixo do lençol.
- "Não diga isso, me faz sentir horrível." – ela se queixou, machucada.
- "Ok, ok... eu sinto muito. Colocarei o despertador quarenta e cinco minutos mais cedo."
- "Achei que havíamos dito meia hora."
- "Rach, o resto do meu dia consistirá em atender a seus pais e os meus, repassar números e cuidar dos bebês. Eu mereço outros quinze minutos."
-oo-
Finn pulou da cama quando o despertador o tirou de seu sono. Não havia se levantando com tanta ansiedade em meses, então correu para o banheiro para lavar os dentes e voltou a se meter na cama, se preparando para uma dose necessária de Rachel Berry.
Quando a viu, porém, não teve a coragem para acordá-la. Se via tão... pacífica, dormindo prazerosamente com um leve sorriso no rosto, com o cabelo bagunçado e as mãos fortemente fechadas no travesseiro. Finn olhou para ela por um bom momento, se sentindo culpado. Não podia fazer isso. Rachel merecia o descanso e por mais que quisesse fazer amor com ela, lhe parecia injusto que fosse dessa forma.
Uma pequena batida na porta terminou de jogar por terra todas suas esperanças.
- "Finn, posso passar?" – questionou a baixa voz de sua mãe.
Finn se incorporou e caminhou até a porta, colocando a cabeça para fora.
- "Oi mamãe."
- "Oi carinho. Me diga, você vai para o escritório?"
- "Sim, devo ir hoje."
- "Te preparo o café da manhã para levar ou vai tomar conosco?"
- "Não, descerei em um segundo. Rachel ainda dorme."
- "Ok, te esperamos então." – disse sua mãe, dando um tapinha em sua bochecha.
Finn voltou para o quarto e pegou sua roupa em silencio, tratando de não acordá-la e se trocou no banheiro. Beijou ela nos adormecidos lábios e lhe acomodou o lençol, pensando em que possivelmente não se veriam até aquela mesma noite.
- "Bom dia." – disse ao entrar na copa, aonde Burt e Leroy haviam se sentado para esperar o café da manhã. Se aproximou até o pequeno curralzinho em que Chris estava dentro e pegou ele nos braços. "Oi campeão, como está hoje?"
- "O New York Times lhe deu uma pontuação de quatro estrelas para os reforços da equipe." – comentou Leroy, lhe entregando uma parte do jornal.
- "Isso é fantástico!"
- "Esse garoto Baldwin joga muito bem, né?" – perguntou Burt, esfregando os olhos, tentando tirar o sono.
- "Já vai ver ele, é incrível. É muito inteligente. Não morda a gravata, Chris!" – disse, com um sorriso, tirando a prenda da boca de seu filho. "Vão fazer algo hoje?"
- "Sim, levaremos Amy para a escola e depois iremos para o Central Park com o resto da tropa, para deixar uma manhã livre para Rachel e Kurt." – explicou Leroy.
- "Devemos ir buscar Harry na casa de Kurt, não nos esquecemos." – agregou Carole, entrando na copa com uma bandeja de panquecas e torradas, seguida por Amy e Hiram, que traziam as bebidas.
- "Podem pegar a caminhonete se quiserem, eu usarei o carro de Rachel. Assim estarão mais cômodos." – propôs Finn, antes de entrar uma panqueca inteira na boca.
Chris achou tão divertida a foram em que seu pai comia que derrubou um copo de suco de laranja.
- "Chris! Quer se comportar?" – disse Amy, com solenidade, ganhando a gargalhada do restante da mesa.
- "O que é tão engraçado?" – questionou Rachel, entrando no lugar com uma entusiasmada Fanny nos braços.
- "Não sei, mamãe. Ninguém parece importar que seu filho acaba de fazer um desastre." – explicou a menina, ofendida.
Rachel lhe deu um beijo na testa e se sentou ao lado de Finn, pegando uma torrada.
- "Por que não me acordou? Achei que tínhamos um trato." – murmurou, aproveitando que o resto da mesa se encontrava entretida com um programa de televisão.
- "Não pude fazer. Você se via tão bem dormindo, que não tive coragem de te acordar." – explicou ele, no mesmo tom, olhando por sobre as cabeças de seus filhos (que se encontravam agora em uma estranha dança na qual Fanny tentava morder as mãos de seu irmão).
Rachel sorriu e beijou Finn na bochecha, arrumando a gola da camisa dele.
- "Te devo uma então." – disse, lhe servindo café, enquanto ele colocava os gêmeos no curralzinho novamente.
- "Uma do que?" – perguntou Amy, interessada, do outro extremo da mesa.
Finn achou que os adultos continham um riso e pensou que talvez ele e Rachel não foram tão discretos como haviam pretendido.
-oo-
- "O que faz?" – perguntou Finn, surpreendido, enquanto Blaine fechou o computador com um golpe seco.
- "Essa máquina ficou sem bateria há um bom tempo. Esteve olhando pela janela por quarenta e cinco minutos." – ele lhe explicou, com um sorriso, remexendo nos papeis de seu próprio escritório. "Me deixe adivinhar... Rachel?"
- "Mas que fuxiqueiro você é!" – respondeu Finn, com um tom sarcástico, conectando a maquina e ligando novamente.
- "De vez em quando convém que você e eu compartilhamos noventa por cento de nossos problemas, ou que pelo menos todos derivam do mesmo lugar." – pontuou Blaine, jogando uma pilha de papel no cesto de lixo.
Finn sorriu um pouco.
- "É só que... Rachel e eu não temos..."
- "Alto lá! Não diga mais... por favor. Não necessito saber tanto." – disse seu companheiro.
- "Quem te entende?"
- "Isso não importa. Sei ao que se refere, afinal. Tanto Rachel como Kurt estão trabalhando muito e ambos temos filhos que ocupam grande parte de nosso tempo..."
- "Você se esquece que, além do mais, eu tenho meus pais e os dela em minha casa. E essa manhã praticamente riram na minha cara por nossa pobre vida sexual. Sabe, agora que eu penso, você me deve uma. Estou abrigando seus sogros, afinal de contas."
- "Ok, ok... sabe o que faremos? Você vai até o restaurante da rua Oito com a Wallace, o que tem os cartazes verdes e dirá que vai indicado por mim. Leve Rachel para almoçar e talvez consiga algo em troca." – Blaine disse, dando um pequeno cartão com o nome do local.
- "Obrigada. Farei isso. Mas não acha que com isso será suficiente. Eu sou o que tenho que tolerar Burt escutando Mellancamp as vinte e quatro horas do dia." – Finn pode ouvir a gargalhada de Blaine ao fechar a porta atrás dele.
Tirou a gravata (Rachel gostava mais quando usava a camisa aberta) e escolheu seu prato favorito do menu vegetariano do restaurante (Lasanha com molho de aspargos e morando com chocolate para a sobremesa).
Entrou quase correndo em sua casa, se certificando de que não havia ninguém e subiu os lances da escada. Seus desejos, porém, se viram destruídos quando abriu a porta do estúdio e se deparou com sua esposa (seminua) e Mercedes, trabalhando no vestuário.
- "Ei, veja, o branquelo nos trouxe o almoço." – disse Mercedes, com entusiasmo, deixando de lado os alfinetes que tinha na mão e pegando as sacolas que Finn carregava.
- "O que faz aqui?" – perguntou Rachel, se virando para olhar para ele e colocando o roupão.
Finn teve que engolir o nó que acabava de se formar em sua garganta para poder falar.
- "Nada, eu só... não me sentia bem e... pensei em comprar o almoço quando voltava do escritório." – balbuciou, colocando as mãos nos bolsos e tratando de ocultar o tom de decepção em sua voz.
Rachel olhou de forma confusa por um segundo, como se o examinasse e então sorriu.
- "Você é incrível!" – murmurou, se aproximando dele e ficando nas pontas dos pés para beijá-lo nos lábios.
Finn suspirou, tentando desfrutar o beijo o máximo possível (seguramente teria que se atracar a isso por um bom tempo).
- "Frutas com chocolate? É um romântico, Finn!" – disse Mercedes, colocando as marmitas plásticas sobre a pequena mesa e se sentando para comer.
- "Está seguro de que é só isso?" – questionou Rachel, olhando para Finn nos olhos, como se a sobremesa tivesse servido de sinal sobre as intenções de seu esposo.
Finn sorriu um pouco, apoiando sua testa na dela e beijando novamente.
- "Desfrute do almoço, eu estarei lá embaixo." – murmurou, lhe acariciando o longo cabelo.
Porém, quando estava por se separar, Rachel o segurou pela bochecha e o beijou fortemente, separando um pouco seus lábios e o empurrando contra ela.
- "Guarde isso para mais tarde." – sussurrou, com um meio sorriso, dando uma palmadinha carinhosa no traseiro dele.
Finn pensou, enquanto comia um triste sanduiche de frango e via as notícias, que talvez esse dia não era exatamente ruim.