Cinco amigas e suas mentes criativas
High Five Stories
Kurt e Rachel não podem se ignorar. Não querem e não podem fazer. São tão similares, que só são capazes de se mar ou odiar, mas não de serem indiferentes um com o outro. Quando eram mais jovens e a vida girava em torno dos solos do Glee Culb (e Finn Hudson), para Kurt era praticamente impossível estar mais de cinco minutos no mesmo lugar que Rachel sem querer estrangulá-la com suas próprias mãos.
Agora, dez anos, duas carreiras e uma família depois, Kurt não imagina sua vida sem Rachel, assim como ela não imagina a sua sem ele. De uma forma estranha e graciosa continuam sendo os mesmos. Continuam discutindo, continuam se agredindo e, as vezes, Kurt sente que quer estrangulá-la. Porém, ainda depois de uma grande briga, ele compra um par de cafés na manhã seguinte e discutem durante o café da manhã sobre o último filme da Merryl Streep, do insuportável Futebol Americano que captura a vida dos homens, das cores que serão tendência nas próxima temporada, de Finn, Amy, de Blaine e de meia Lima, também do vizinho estranho que vive em frente.
Rachel o ama, disse está segura. O ama tanto como o amava naquele dia em que brigaram por esse solo de Wicked e como o amava cada noite quando deveria cantar na frente de milhares de pessoas. Kurt sabe, claro, porque a ama também. Sente falta de suas leggings de lantejoula e vestidos de boneca, mas sempre encontra algo novo para criticar.
Kurt sabe que Rachel não tinha o porque amá-lo, porque apoiá-lo, porque ajudá-lo, já que durante muito tempo ele fez o impossível para fazer ela se sentir mal. Porém, nas horas mais difíceis de sua vida, Rachel Berry esteve ali, segurando sua mão ainda quando ele não queria que ela segurasse.
Conhecem um ou outro como se conhecesse a si mesmo e Rachel sabe que se Kurt ainda não criticou a forma em que está arrumando a sala, é porque lhe passa algo, porque algo não está bem.
- "Acha que assim está bom? Não sei como vai estar a luz no inverno..." – lhe perguntou enquanto organizava a disposição dos móveis na casa.
Já pintaram as paredes, colocaram as cortinas e penduraram os quadros e em todo esse tempo Kurt não soltou mais do que alguns ruídos de aprovação.
- "Acho que esse lugar será iluminado todo o ano, então não deve se preocupar muito." – murmurou ele, sem sequer prestar atenção.
Rachel se aproximou de onde ele estava sentado, ficando ao seu lado e limpando o suor de sua testa com a suja camisa de Finn que estava vestindo.
- "Te passa algo? Não está no seu período, né?" – brincou, dando uma palmadinha no ombro dele, enquanto abria uma garrafa de água mineral.
Kurt se moveu um pouco incomodo e suspirou.
- "Como se sentira se Finn não quisesse ter filhos com você?" – lhe perguntou, sem olhar para ela, abrindo sua própria garrafa.
Rachel pensou por uns segundos antes de responder.
- "Bom... me sentiria muito mal. Realmente mal. Na merda, te diria." – contestou pensando na hipotética situação. "Finn te disse que não quer ter mais filhos? Porque se é assim, não sei o que fazemos montando essa casa." – agregou, começando a ficar brava sem motivo algum.
- "Não, Finn não é o problema!" – a tranquilizou rapidamente Kurt. "O problema é Blaine."
- "Blaine? Blaine não quer ter filhos?" – perguntou Rachel surpreendida.
- "Bom, não me disse nunca. Mas no outro dia estávamos falando com Luke e Aston, já sabe, os que trabalham comigo em Cats e eles acabaram de adotar uma menina e pensei... Por que não fazer? Estamos casados a quatro anos e... temos bons trabalhos, uma casa própria e pelo menos eu tenho muito para dar. Vejo como você e Finn são com Amy e eu também quero isso, sabe?" – finalizou, realmente apenado.
Rachel se aproximou mais, o abraçando forte e apoiando sua cabeça no ombro do rapaz. Kurt deixou cair a sua sobre a de Rachel, buscando conforto.
- "Por que não... por que não falam com meus pais? Talvez isso ajude Blaine a dar-se conta que não é nada do outro mundo." – propôs ela.
- "Não acho. Já não somos meninos de dezesseis anos confusos com a sexualidade. Estamos casado, Rachel. Casados. Todo mundo sabe que parte do matrimônio é ter filhos. E mesmo que muitos passam por alto ou não consideram importante, eu... eu quero. Realmente desejo." – disse, perdendo todas as forças e soltando um par de lágrimas.
Rachel o abraçou mais forte, deixando com que sua camisa, pouco a pouco, molhasse com as lágrimas de Kurt e não pode evitar soltar algumas também.
- "Quero que me escute e que me escute bem." – lhe disse, segurando ele pelas bochechas para olha-lo nos olhos. "Você merece tudo, Kurt. Merece tudo o que deseja. Não pare até conseguir. Se Blaine não é capaz de ver os assombrosos pais que seriam... algo está mal." – Kurt a olhou por um segundo, antes de sorrir timidamente e beijá-la na testa.
- "Sabe? Esse sofá fica muito ruim nesse canto." – disse depois de uns minutos, enquanto se dirigia para lá energicamente.
Rachel sorriu, ficando de pé e se aproximando dele.
-oo-
- "Posso levar tudo, então?" – perguntou Amy, enquanto ela, Finn e Rachel empacotavam as coisas de seu quarto.
- "Sim boneca, mas deve ver se tem brinquedos que não usa mais. Coloque eles nessa caixa." – lhe contestou Finn.
Rachel havia se mantido em silencio a maior parte da tarde e ele estava começando a se preocupar. Se levantou com dificuldade entre os brinquedos de Amy e se aproximou de Rachel, segurando ela pelos ombros e a guiando até a sala.
- "O que te passa? Está bem? Não está se arrependendo, né?" – lhe perguntou, olhando para ela de forma inquisitória.
- "Não, claro que não! Por que me arrependeria?" – respondeu ela sinceramente, mas sem mudar a expressão de preocupação.
Finn voltou a olhar para ela, mais aliviado e fez um gesto com a cabeça indicando para que ela prosseguisse. Rachel abraçou a si mesma e soltou um pequeno suspiro.
- "Essa manhã Kurt e eu estivemos conversando e... não sei, não posso tirar da cabeça." – lhe explicou, apoiando no encosto do solitário sofá que adornava a quase vazia sala.
- "Sobre o que conversaram?" – perguntou Finn, a imitando.
Rachel ia responder quando o som de um punho batendo na porta a interrompeu.
Quando abriu, deparou com o triste rosto de Kurt do outro lado.
- "Olá. Lamento incomodar porque sei que estão ocupados com a mudança, mas... me perguntava se poderia ficar aqui essa noite." – disse para eles, trocando olhar com ambos.
- "Claro. Entre, estava indo preparar o jantar." – respondeu Rachel, acariciando o braço ele, quando Kurt passou ao seu lado.
Rachel olhou para Finn, indicando para que deixasse os dois a sós e ele se desculpou, indo para o quarto de Amy.
- "O que aconteceu?" – perguntou Rachel preocupada, apontando para a cadeira da cozinha, para que ele se sentasse, enquanto ela preparava duas xícaras de chá.
- "Discutimos. Eu fui. Não muito mais do que isso." – respondeu Kurt em voz baixa, olhando suas próprias mãos como se acabasse de descobri-las.
- "Desejaria poder fazer algo. Sério." – lhe disse Rachel, colocando as duas xícaras de chá na mesa e se sentando ao lado dele.
- "Já está fazendo." – respondeu, segurando a mão dela por cima da mesa.
Pela segunda vez na tarde, o som de alguém batendo na porta interrompeu a conversa.
- "Kurt está aqui?" – perguntou Blaine, levando o mesmo olhar triste que seu marido, quando Rachel abriu a porta.
- "O que você quer. Blaine? Já te disse que não voltarei para casa até que mude de opinião." – lhe respondeu Kurt, sem sequer se virar, enquanto tomava um gole de chá.
- "Poderia pelo menos me escutar?" – inquiriu Blaine, se sentando na cadeira que segundos antes Rachel havia abandonado.
Ela foi até o pequeno corredor que havia perto do local, encontrando com a figura de Finn na escuridão.
- "O que é que tenho que escutar? Que depois de nove anos juntos, não sabe se quer ter um filho comigo? Porque isso eu escutei perfeitamente bem há umas horas, Blaine. Não necessito que repita." – lhe disse, de forma sarcástica, ainda sem olha-lo.
Blaine passou a mão pelo cabelo e Rachel pode sentir como a mão de Finn formava um punho, como se quisesse bater nele nesse preciso momento. Ela o segurou pelo braço para tranquiliza-lo e levou um dedo aos lábios em sinal de silencio.
- "Não é você o problema Kurt. Tão pouco sou eu. Sim, tenho dúvidas a respeito da minha capacidade como pai, mas isso todos tem, não?" – lhe disse, quase em tom de brincadeira, enquanto aproximava mais a cadeira. Kurt não respondeu, mas continuou tomando seu chá e Blaine interpretou isso como um sinal para que continuasse. "Estou assustado. Me assusta o mundo lá fora, Kurt. Me assusta esse mundo que ainda não nos aceita, não nos entende. Me preocupa expor um menino a essa dor, a essa situação."
- "Blaine, isso é Nova York, não é Lima. Se tem um lugar no mundo que é... tolerante e respeitoso sobre nossa condição é esse. Em segundo lugar, você foi quem, em todos esses anos, me disse que essas pessoas só são ignorantes, que tem que educá-las, que não tem que temê-las. Aonde está esse discurso agora? O que aconteceu com ele?" – lhe perguntou, bravo, enquanto ficava de pé para se afastar dele o máximo possível.
- "Kurt..."
- "Não Blaine, não tem desculpas. No momento em que nos casamos, você sabia que esse dia chegaria. Sabia!" – o recriminou, sem poder contar as lágrimas. "que hipótese é essa que nosso filho será descriminado por ser nosso filho? Como pode dizer algo assim quando conhece a Rachel, quando ela é nossa melhor amiga e ambos sabemos que ela é o que é graças aos seus pais, o amor que tem por ela? E como pode dizer isso, quando nem a mim, Finn, Amy sermos de uma família heterossexual, nos salvou de passar mal, de sofrer?" – lhe disse, quase aos gritos, enquanto secava as lágrimas com um sofisticado pano.
Blaine o olhar por um segundo... e então sorriu. Se aproximou de Kurt ou pelo menos até aonde ele permitiu.
- "Tem razão. Tem toda razão. Me perdoe por ser... um coverde." – murmurou.
Kurt se aproximou mais.
- "Isso significa que quer ter um filho?" – lhe perguntou sorrindo um pouco.
- "Isso significa que se quiser que formemos uma maldita família Weasley, mas na versão gay, eu farei. Terei um filho ou terei cem, tantos quanto você quiser." – respondeu Blaine, em tom de brincadeira, mas esperando que Kurt entendesse o lado sério de sua resposta.
Ele olhou por um segundo, analisando, até que sorriu enormemente e o abraçou.
- "Está bem... voltarei para casa." – lhe disse, ainda sorrindo, enquanto ambos voltavam a chorar. "Já podem sair, sabem? Sei que estão escutando." – gritou para Finn e Rachel e eles entraram no lugar.
- "Se redimiu no final, mas estava a quinze segundos de te dar uma porrada." – disse Finn para Blaine, conseguindo uma gargalhada do restante.
Mais tarde, depois de um jantar em família que terminou com Rachel e Kurt entoando seu famoso dueto de Happy Days Are Here Again/Get Happy, Finn entrou na cozinha para encontrá-la lavando os pratos e murmurando a canção. Se aproximou de Rachel, a abraçando pela cintura e beijando no pescoço. Ela sorriu instintivamente.
- "Terminaram com o quarto de Amy?"
- "Sim. Custou um pouco que ela desprendesse de alguns brinquedos, mas lhe assegurei que conseguiriam um bom lugar."
- "Talvez essa maratona de Toy Store não foi uma boa ideia." – respondeu Rachel, conseguindo com que Finn sorrisse. Se virou quando terminou com os pratos, olhando ele nos olhos e acariciando a testa. "Me alegro que tudo tenha terminado bem entre Kurt e Blaine." – murmurou para ele.
- "Não tem uma ideia da quantidade de cenas como essa que tive que suportar nos últimos dez anos." – brincou ele, a arrastando vagarosamente para o quarto.
- "De qualquer forma, eu devera a Kurt por todos esses meses em que me escutou chorar por você." – contestou ela, se jogando na cama, sentindo como cada osso do seu corpo pedia um descanso.
Finn a imitou, deitando ao lado dela sem torar a roupa ou os sapatos e a abraçando.
- "É muito cômodo." – murmurou ela, se acomodando ao lado dele e acariciando a parte de baixo de sua barriga, naquele mesmo pedaço de pele que aparecia entre o final da camisa de Finn e o começo de sua cueca.
Outro dia, isso levaria ele a pensar no carteiro, mas estavam tão cansados que aquelas carícias só conseguiam levá-lo para esse lugar tranquilo e prazeroso que precede o sono.
- "Você sabe que eu quero ter filhos com você, né? Que não digo isso para te satisfazer. Que na verdade quero ter." – questionou ele, quase de forma preocupada.
Rachel sorriu.
- "Claro que eu sei. Me comprou uma casa para um batalhão, então acho que captei essa indireta." – murmurou ela, risonha, enquanto sentia como o corpo de Finn se relaxava ao seu lado.
- "O que quero dizer é que eu estou pronto. Acho que desde o dia em que te conheci estou pronto, mas suponhamos que agora estou entendendo. Eu estou pronto e quero fazer só quando você estiver pronta, quando quiser." – lhe explicou.
Rachel usou toda a força que lhe faltava para se apoiar em um dos cotovelos, olhando ele nos olhos.
- "Eu estou pronta." – lhe disse, com o sorriso mais brilhante e mais lindo que Finn jamais havia visto. Não pode evitar sorrir também e arrumou uma mecha do longo e escuro cabelo dela atrás da orelha, para vê-la melhor. Rachel pressionou um pouco os lábios, como se estivesse pensando em algo. "Digamos... digamos que não nos apressaremos. Que deixaremos que as coisas sigam seu curso como até agora. Não buscaremos um filho, simplesmente... deixaremos de evitar." – propôs, vendo como os olhos de Finn se iluminavam a medida que entendia o que Rachel acabava de lhe dizer.
- "Soa tão bem que me dá vontade de te beijar." – murmurou, usando a mão que tinha na lateral de seu rosto para atrair ela até ele, chocando seus lábios repetidas vezes.
- "Te amo! Ainda se não me desse essa incrível casa e se... se não quisesse ter filhos comigo... ainda assim te amaria." – disse ela, se acomodando novamente na posição anterior.
- "Te diria que te amo mais, mas estou muito cansado para discutir. Digamos que nos amamos em partes equivalentes, o que acha?" – questionou Finn, fechando os olhos e sentindo como Rachel assentia ao seu lado, bocejando.
Antes de dormir, pensou que se planejar o não planejamento da possível chegada de seus hipotéticos filhos o deixava tão feliz, o dia em que ele e Rachel finalmente tivessem um (ou dois... ou quatro... ou cinco, cinco é seu número da sorte, afinal) iam ter que lhe fazer um transplante de coração ou uma lavagem cerebral, ou algum tratamento legal desse tipo.
Não haveria maneira de que pudesse ser mais feliz (se alguma de suas filhas herdar os olhos ou o sorriso de Rachel estava completamente perdido. Nunca seria capaz de dizer não para elas).