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Desde o primeiro momento em que Rachel a viu, soube que essa seria, cedo ou tarde, sua casa. Havia levado Amy para uma tarde de brincadeiras na casa de uma amiga dela, quando viu, do outro lado da rua, a placa que indicava que estava a venda.

Os pequenos vasos nas janelas, a porta sem tinta, a pequena varanda e as roseiras na frente fazia com que ela fosse, sem dúvidas, a casa de seus sonhos. Guardou o número da placa no celular e entrou na página da internet que se encontrava no mesmo, quando voltou para o apartamento. O que havia de mal em marcar um encontro para ver ela, só por curiosidade?

- "Esse é o segundo quarto." – disse a corretora de imóveis, um par de dias depois, enquanto percorriam o lugar.

Era ainda mais linda por dentro do que parecia por fora. Não era nada do outro mundo, para dizer a verdade e a construção fazia ela lembrar um pouco daquele em que Audrey Hepburn vivia em "Bonequinha de Luxo". Tinha três andares e um terraço. Rachel se deparou, de repente, planejando as mudanças que poderia chegar a fazer.

- "Esse é meu número. Realmente é uma boa oferta e acho que poderia chegar a pagar muito pouco, já que ninguém está comprando casa nesse momento." – lhe explicou, enquanto a conduzia até a porta.

Rachel passou o resto do dia pensando nessa casa, nas possibilidades de se mudar para lá, o quão perto ficava da escola de Amy e do trabalho de Finn. Porém, quando Finn voltou do trabalho, não havia juntado a coragem suficiente para propor a ele.

Há quanto tempo estavam juntos? Quase um ano? Por mais que ela quisesse fazer (tanto que, há uns dias, sonhava com isso), comprar uma casa era algo sério. E mesmo que ela e Finn costumavam a passar horas falando de tudo isso, do casamento e dos filhos e das supostas casas que poderiam comprar, nunca superaram a barreira dos projetos, nunca terminavam de concretizar nada.

Naquela noite, enquanto Finn dormia ao seu lado, Rachel girou na cama para olhar melhor para ele e não pode evitar sorrir: ainda que tivesse que esperar cem anos, ainda se as coisas fossem devagar, ainda se amanhã essa casa perfeita fosse vendida... as coisas não iam mudar. Ia amá-lo sempre, em seu tempo e espaço.

-oo-

A primeira vez que Finn viu essa casa, sentiu algo estranho, quase familiar. Havia prestado atenção nela um par de vezes, quando costumava buscar Amy na casa de Sammy, mas nessa ocasião o letreiro de "A Venda" gravou em seus olhos, se filtrando em suas retinas, então anotou o número no seu celular para continuar com isso depois.

Enquanto ele e Blaine se sentaram para almoçar no meio do treino, Finn pegou seu computador e entrou na página da internet, olhando as pequenas fotos do interior da casa.

- "Buscando casas?" – perguntou Blaine, comendo o primeiro pedaço do sanduiche de frango que Kurt havia preparado aquele dia.

- "Não, só... vi essa casa ontem e gamei. É realmente linda." – lhe disse, mostrando a foto da frente.

Blaine assentiu, enquanto Finn preenchia o formulário para visita.

- "Irá ver ela? Se levar Rachel para essa casa, não conseguirá tirar ela de lá." – contestou Blaine.

- "Você acha? Nos não... nós não conversamos sobre isso realmente, então talvez eu vá sozinho e depois se considerar que pode chegar a servir para nós eu comento com ela." – lhe explicou.

Blaine encolheu os ombros, tirando importância e Finn pensou que, provavelmente, estava fazendo muitas ilusões.

-oo-

- "E esse é o segundo quarto. Tem outros dois no segundo andar e além do mais, tem um lindo terraço." – explicou a corretora de imóveis.

Francamente, Finn não estava escutando ela. Desde o momento em que colocou o pé nessa casa havia perdido a noção do tempo e espaço. Sua mente agora estava ocupada pela certeza absoluta de que faria qualquer coisa para comprá-la.

- "Já teve outras ofertas?" – perguntou para ela.

- "Bom... não sei se posso te dizer isso, mas alguém veio há uns dias. É bastante conhecida no ambiente do teatro e parecia interessada."

- "Por que alguém da Broadway iria querer morar nessa zona? Fica muito afastado, né?"

- "Não pareceu se importar. Disse que seu namorado trabalha perto e que sua filha tinha escola nesse bairro." – lhe disse a corretora e Finn sentiu como o ar escapava de seus pulmões de uma só vez.

- "Rachel esteve aqui?" – questionou, realmente surpreendido.

- "Sim! Não sabia que você era o marido dela." – lhe contestou, risonha.

- "Aonde eu assino os papeis?" – murmurou ele, se aproximando da cozinha e apoiando no balcão.

Ainda quando a casa estava vazia (e ainda quando Amy e Rachel não estavam ali) já se sentia como em casa.

-oo-

Fazia muito tempo que não se sentia nervoso e Finn entendeu que era lógico que fosse assim: acabava de fechar um contrato pela sua primeira casa e havia ocultado de Rachel.

Odiava ocultar as coisas de Rachel (sobretudo porque cedo ou tarde ela terminava se inteirando) e essa era, realmente, uma verdade enorme. Supôs que Amy não estaria em casa, já que nesse dia tinha suas aulas de ballet e pensou que se Rachel fosse matá-lo, era melhor que fizesse sem a presença de sua filha.

- "Rach? Está em casa?" – perguntou, jogando as chaves no pequeno móvel e deixando a bolsa no chão.

- "Sim, aonde poderia estar?" – respondeu ela risonha, saindo das profundezas da geladeira e se aproximando dele, o abraçando pelo pescoço.

- "Está fazendo algo importante ou pode vir comigo um segundo?" – murmurou, tratando de esconder o nervosismo, depois de beijá-la.

- "Hummm... depende de onde quem me levar. Se é para me esquartejar e me jogar no leito do ria, acho que vou recusar."

- "Acredite, não será você o cadáver." – disse, mais para ele do que para ela, enquanto subiam na caminhonete e pegavam o transito.

-oo-

- "Está com os olhos bem fechados?" – lhe perguntou, tampando com uma de suas enormes mãos.

- "Sim Finn, estão. Não tenho nove anos." – contestou ela, entre intrigada e risonha.

- "Quantos dedos tenho?"

Não sei. Mas provavelmente são cinco, porque é seu número favorito." – Finn sorriu, enquanto colocava os cinco dedos no bolso, para tirar a pequena chave.

- "E... pode abrir." – disse, quando estiveram parados na aconchegante cozinha.

Rachel sentiu como o choro a invadia quando reconheceu o lugar.

- "Como... como soube?" – foi tudo o que foi capaz de formular, enquanto sentia como Finn se aproximava dela.

- "Não o fiz. Eu vi... e a vendedora me disse que você esteve aqui..." – tentativamente ele colocou suas mãos nos ombros, enquanto ela olhava ao seu redor com um olhar mais indecifrável que Finn havia visto. "Rach... sei que comprar essa casa é uma decisão de dois e entendo se quiser me matar..."

- "Comprou ela?" – o interrompeu, sem olhar para ele.

- "Sim. Bom, faltam alguns papeis, mas tecnicamente, é nossa. Veja, sei que não é nova e que provavelmente temos que trabalhar nela, mas é nossa. E tem espaço para nós, para Amy e para arrumar um pequeno estúdio e mais quarto, caso... já sabe... a família aumente." – finalizou, colocando todo seu esforço para fazer ela entender que havia pensado realmente nisso.

Rachel se virou lentamente, olhando ele nos olhos e Finn viu como um grande sorriso se formava em seus lábios. Ambos soltaram uma gargalhada de alívio ao mesmo tempo e ela ficou na ponta dos pés para beijá-lo. Finn segurou ela pela cintura, a levantando, deixando que ela aprofundasse o beijo. Sentiu ela sorrir contra seus próprios lábios e sentiu também o sabor salgado de suas lágrimas se misturando com o inconfundível sabor de Rachel.

- "Está feliz, então?" – perguntou para ela, chorando também um pouco, quando ela sentou no balcão da cozinha e limpou o rosto no dorso da mão.

- "Sinto que vou ter uma parada cardíaca a qualquer momento." – contestou ela, rindo desaforadamente, segurando fortemente as bochechas dele e o beijando novamente.

Quando mais tarde, se recostaram no chão do terraço para ver o por do sol, Finn pensou que terá anos para convencer ela a instalar um salão de jogos no terceiro andar. Que em um par de horas poderá informar sobre as taxas de juros, contratos e vendas de seus dois apartamentos. Que em algum dos dias seguintes escolheriam a cor do novo quarto de Amy ou a disposição dos móveis e que provavelmente Kurt vai querer dar uma mãozinha em tudo isso.

Porém, nesse momento, abraçar Rachel, enquanto o sol da primavera se punha sobre os tetos das casas vizinhas, parece mais urgente, mais necessário e mais prazeroso do que aquelas milhões de coisas que lhe ocorriam agora.

Capítulo 15

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