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Ser o treinador dos Jets era menos interessante, mais difícil e mais estressante do que parecia. Estava claro que ser o encarregado de uma das maiores equipes do mundo não seria tarefa fácil e não deveria ser assim, mas Finn Hudson achava que pelo menos seria divertido.

Porem, nesse momento, Finn se deu conta do quão errado esteve. Ser treinador significava, pelo menos até então, vestir uma roupa bem arrumada, ir a reuniões, assistir a vídeos e viajar. Muitas viagens. Finn havia passado as últimas duas semanas percorrendo Universidades, buscando suas próximas estrelas, tratando de encontrar algum jovem entusiasmado que quisesse se unir a uma das categorias dos Jets.

- "Bobby Manilow não te convenceu?" – lhe perguntou Blaine, enquanto tirava a gravata e a deixava no armário do quarto de hotel.

Finn franziu a testa.

- "Não sei, faltava... algo. Mas é o melhor que vimos, sem dúvidas." – contestou, checando o cardápio para pedir o almoço.

Sentiu um vazio por dentro, uma espécie de falta. Não tinha que ser extremamente inteligente para dar conta de que sentia falta de sua família, de sua esposa, de seus filhos. Não ajudou que, ao abrir o celular, o rosto de seus três filhos brilhassem na tela, como se o chamasse para voltar para casa. Quando tinha sido a última vez que havia falado com Rachel?

- "Falou com Kurt hoje?" – perguntou para Blaine, tirando sua própria roupa e colocando em um cabideiro (pensou no pequeno gesto de desaprovação que Rachel teria feito se tivesse visto o quão amarrotado estava e imediatamente tentou arrumar um pouco, sem muito resultado).

- "Sim, mas só por uns minutos. Ele e Rachel estavam fazendo os últimos ajustes no teatro. Já estão ensaiando as mudanças do cenário. Ao parecer Harry esteve com um pouco de febre e Rachel tem uma dor nas costas. Se a dor não passasse iria ver um médico." – explicou.

Finn sentiu como tivesse engolido um bloco de gelo: a ideia de que Rachel estivesse doente quando ele estava a centenas de quilômetros de distancia o deixava doente também. Buscou o número de sua esposa no celular e esperou impaciente que ela atendesse.

- "Esse é o telefone de Rachel Berry. Não posso atender agora, então deixe seu recado depois do sinal e retornarei a ligação. Obrigada!" – disse a conhecida e imponente voz dela do outro lado da linha.

Finn suspirou: apenas em escutar a voz dela, as coisas pareciam melhores. Gravou uma pequena mensagem, tentando ser breve e deitou na cama.

Quando havia se convertido nisso? Quando haviam passado de ser mensagens na caixa postal e encontros no Skype? Desde quando ele e Rachel tinham problemas de comunicação tão graves que impediam ela de lhe contar algo tão simples e tão importante como que se sentia doente?

- "Ei, vou descer para comer algo no restaurante e revisar os papeis para a reunião das três horas. Você vem?" – questionou Blaine ao sair do banheiro.

Finn negou com a cabeça, alegando que estava muito cansado e Blaine entendeu que queria ficar sozinho. Tentou pensar nela quando seu companheiro atravessou a porta.

- "Vai ficar me olhando por mais tempo ou já pode me trazer o café da manhã?" – perguntou Rachel, ainda com os olhos fortemente fechados, como se negando a acordar totalmente.

- "Oh, não é hora para café da manhã, carinho!"

- "Que horas são?"

- "São... quase cinco da manhã."

- "Já vai?"

- "Sim. O avião sai as sete."

- "Oh... claro, tinha me esquecido." – ela disse, se aproximando mais dele inconscientemente, como se a descoberta da partida dele tivesse a acordado totalmente.

- "Vai estar bem?" – perguntou ele, ao ver o fio de insegurança nos olhos de sua esposa.

Rachel esticou seu pescoço para olha-lo, brincando com os botões de sua camisa.

- "Nunca ficamos separados por tanto tempo." – murmurou.

- "Se pensar bem, estivemos separados por dez anos."

- "E foram extremamente difíceis para mim." – ela respondeu, com um sinal dramático, quase brava pelo fato de que seu esposo parecia não compartilhar de sua preocupação.

Finn a rodeou mais fortemente com seus braços, a beijando na cabeça.

- "Estaremos bem, já verá. Voltarei antes que possa começar a sentir minha falta."

- "E você vai sentir minha falta?" – perguntou para ele com um murmúrio sexy, antes de beijá-lo em cheio nos lábios e se recostar sobre ele.

Naquele momento, para Finn, parecia que esses dez anos havia treinado para estar sem ela. Foi então que entendeu, enquanto se apegava aquela mensagem de trinta segundos que havia deixado no correio de voz para não se sentir tão longe, que nunca em sua vida poderia viver sem Rachel Berry.

-oo-

Não é fácil ser mãe de três filhos.

Havia meias que lavar e jantar para preparar. Ainda tinha que trocar fraldas e além disso, deveria ensinar Amy a tabela periódica do dois. Rachel soube que era assim para o resto das mães, pelo menos as que se ocupavam de seus filhos como ela. Porém, nem todas as mães se dedicavam em colocar em cena uma obra da Broadway de forma meticulosa, da forma que ela fazia. Nem todas as mães se encontravam, além de tudo, com que de repente seu esposo desaparecia de sua casa por três semanas para viajar pela metade do país em busca de jogadores.

Rachel acostumava se gabar de ser uma mulher forte, autossuficiente e na maioria dos dias realmente era. Podia fazer um milhão de coisas sem sequer parar para tomar um copo de água. Estava equivocada, sem dúvidas. Aquela tarde, sem ir mais longe, estava esgotada.

Havia praticado no teatro durante toda a manhã e teve que levar os gêmeos com ela, porque a babá não podia cuidar deles nesse horário. Havia passado o horário do almoço provando vestidos e voltou para seu lar no meio da tarde, carregando o carrinho dos gêmeos, a mochila de Amy, as sacolas do supermercado e a voz incessante de sua filha lhe contanto sobre a aula de ballet.

Se surpreendeu ao ver que Finn havia ligado duas vezes (entre o barulho dos gêmeos, da rua e seu próprio cansaço, perder o barulho do celular era aceitável). Colocou os bebês no pequeno cercadinho e enviou Amy para o banho antes de escutar as mensagens.

- "Ei Rach, sou eu!" – disse a voz de Finn e Rachel se agarrou mais ao telefone, como se com isso conseguisse com que Finn aparecesse ali, para segurá-la em seus braços e se encarregar do jantar. "Só queria... não conversamos hoje e realmente queria falar com você. Sinto muita a sua falta. De você e dos meninos também. Aqui está tudo bem, se continuarmos assim poderemos voltar em um par de dias. Só... ligue quando ouvir isso, ok? Dê um abraço nos meninos por mim. Te amo! Adeus..." – Rachel sentiu urgência em voltar a ouvir a mensagem, mas então notou que a segunda mensagem também era de Finn, então continuou escutando. "Blaine e eu devemos ir em uma reunião, então não poderei te atender até as cinco horas da tarde. Me envie uma mensagem se quiser que nos conectemos no Skype essa noite. Adeus." – não lhe escapou o tom hostil e quase frio da segunda mensagem e ao ver o relógio se deu conta de que Finn havia ligado a quase uma hora.

Se apressou a escrever, esperando que ele não estivesse muito bravo.

"Sinto muito, não ouvi o telefone tocar. O que acha das dez da noite? Colocarei as crianças para dormir nessa hora, então podemos conversar tranquilamente. Eu também sinto sua falta! Te amo! Me avise." – escreveu.

Se recostou no pequeno sofá do quarto, segurando o telefone em suas mãos, esperando a resposta.

"As dez está bem. Nos vamos." – respondeu Finn, uns minutos depois.

Isso era tudo? Nenhum 'te amo, sinto sua falta'? Nem sequer alguma dessas carinhas que Finn costuma colocar no final de cada mensagem?

Rachel tentou não tirar conclusões precipitadas: sentia muita falta dele para ficar brava com ele. O choro de Funny a tirou rapidamente de todo o pensamento que não tivesse a ver com seus filhos.

-oo-

- "Então?" – disse Blaine, se levantando, enquanto Finn jogava sua maleta no chão do carro alugado.

- "Los Angeles contratou ele." – murmurou.

Seu companheiro bateu no volante e passou as mãos pelos curto cabelo.

- "Era o melhor. Definitivamente Jones era o melhor. Não vai sequer negociar?"

- "Não, firmaram essa manhã. Deveremos esperar dois anos."

- "Então suponho que... devemos ir para o Texas, né?"

- "Sim. Vamos voltar para o hotel e assim podemos reservar os boletos."

- "Mais outra semana fora de casa." – disse Blaine, ligando o carro e Finn pode sentir a amargura em sua voz.

Se sentiu culpado. Estiveram reunidos com Dave Jones no dia anterior e Finn não quis fechar o contrato só porque Jones não lhe caia bem. Agora que pensava em retrospecto, tinha sido estupidez. Acabam de perder uma chance incrível só porque ele não havia gostado que o garoto pedisse mais dinheiro. Quem não faz isso, afinal?

- "Pode falar com Rachel?" – perguntou Blaine, tratando de iniciar uma conversa.

- "Só por mensagens. Essa noite conversaremos por Skype." – lhe explicou, checando outra vez seu telefone.

- "Não vai gostar de saber que ficaremos outra semana." – disse Blaine, esfregando a testa.

Finn sentiu como seus pulmões se fechavam: uma semana mais fora de casa, significava que não poderia ir com Rachel ao jantar beneficente do Museu de Ciências.

Por um momento lhe pareceu que o assento do desgastado carro o engolia. Estava frito.

-oo-

Devia se arrumar para falar com ele? Afinal ele a veria, não? Sim, talvez não era demais arrumar um pouco o cabelo ou...

- "Rach? Está aí?" – questionou a voz de Finn do computador.

- "Sim, estou aqui." – ela disse, sorrindo, se sentando no sofá e colocando o aparelho em seu colo (o plano de se arrumar ficando esquecido).

- "Oi." – murmurou Finn, com um meio sorriso, olhando incomodo para a câmera como se ela não lhe agradasse.

- "Oi." – respondeu ela, soltando um suspiro (desde quando esteve contendo o fôlego? Possivelmente desde a última vez que ela e seu marido haviam falado). "Aonde está?"

- "Na varanda do quarto. Blaine já está dormindo e não queria acordá-lo. Como estão as crianças?"

- "Bem. Sentem muito a sua falta. Amy tirou boas notas no exame de ciências."

- "Tem exames de ciências no primário?"

- "Aparentemente sim. Chris está começando a nascer os dentes, então morde tudo o que tem na frente. Seu alvo preferido é Funny, sem dúvidas." – o riso estrondoso de Finn encheu o local e por um momento Rachel fechou os olhos, imaginando que ele estivesse ali, ao seu lado no sofá.

- "Como vai a obra?"

- "Incrivelmente bem, mas não perfeita."

- "E te conhecendo, isso é ruim."

- "Todos estão fazendo um trabalho impressionante, já verá. O senhor Schue vai ter um infarto quando ver no que nos convertemos."

- "Fala como se tratasse de uma música para as regionais!"

- "Bom, não está muito longe. Brittany e Mike maravilhosos no palco, Santana e Tina fazendo o coro e eu roubando cada solo. Não tem muita diferença, né?"

- "Não, tem razão." – ele disse, sorrindo.

Se olharam por uns minutos, como se tentassem memorizar seus rostos para quando a conversa terminar e ambos tivessem que voltar para uma vida sem o outro.

- "Como foi hoje?" – Rachel questionou, se arrependendo instantaneamente ao ver a expressão do rosto de Finn.

- "Mal. Jones assinou com o Los Angeles."

- "Carinho, eu sinto muito. Não tem chance de...?"

- "Não, nenhuma. Deixamos ele escapar. Eu deixei ele escapar, na verdade."

- "Finn, duvido que tudo seja sua culpa..."

- "Mas é. Tivemos ele em nossas mãos e eu deixei ele ir porque não me caia bem..."

- "Não pode trabalhar com alguém que te cai mal. Se não te convencia, então... tomou uma boa decisão." – ela disse, esfregando as mãos com aquele creme de coco que costumava usar (Finn pode sentir o cheiro de coco no mesmo instante, mesmo quando sabia que isso era impossível).

Entendeu porque Rachel dizia o que dizia. Soube qual era sua intenção. Porém, aquilo só conseguiu deixá-lo ainda mais bravo.

- "O ponto é que não poderemos voltar antes. Devemos viajar para o Texas." – lhe disse, com ar de pouca importância.

Rachel se congelou então, olhando ele nos olhos (ou na câmera? Havia diferença?).

- "Então estará fora outra semana." – disse.

- "Sim. Estarei aí duas semanas antes da estreia, mas não poderei..."

- "Ir no jantar de Gala do Museu. Está bem, entendo. Pedirei a Kurt para me acompanhar outra vez." – ela finalizou, como se ele estivesse dizendo que não havia leite de soja no supermercado e não que faltaria outra semana mais em seu lar.

- "Não te incomoda então?"

- "Sim, incomoda sim, mas... não posso fazer nada, né?"

- "Rach... é meu trabalho, não posso..."

- "Eu sei Finn e entendo. Mas não pode me pedir que não fique brava, porque..."

- "Por que não poderei ir ao estúpido jantar de gala com você? Lamento arruinar seus planos, carinho. Sinto muito." – ele disse, com meio sorriso e a voz carregada de sarcasmo.

- "Não! Não me interessa o estúpido jantar de gala Finn! Me interessa que meu esposo estará fora por outra semana, quando eu o necessito aqui comigo, quando sinto falta dele!" – ela soltou, rompendo em choro. Por um momento a imagem ficou desfocada, enquanto ela, enquanto ela colocava o computador na pequena mesinha de centro. Rachel suspirou, tratando de se acalmar antes de voltar a falar. "Sabe de uma coisa? Acho que deveríamos dormir. Claramente está bravo pelo que aconteceu com ele garoto e está descontando em mim, entendo. Conversamos... conversamos em outro momento."

- "Rach, eu..."

- "Adeus Finn." – disse a voz dela, antes de se desconectar.

Finn fechou o computador e recostou no sofá, olhando para os carros que passavam pela avenida, vinte andares mais abaixo.

Estava destinado a cometer erros. Estava destinado a deixar passar oportunidades. Nesse momento, ter perdido Dave Jones lhe pareceu uma estupidez ao lado da desnecessária briga que acabara de ter com Rachel. Fechou os olhos tratando de terminar com esse dia, de dormir até a manhã seguinte. Tinha dias em que tudo devia sair errado.

A centenas de quilômetros dali, Rachel se recostou no sofá e se tampou com a fina manta. Não tinha forças para subir as escadas. Não tinha forças para colocar o pijama. Definitivamente não tinha forças para deitar em sua cama, na cama dos dois, sozinha e sem ele. Aquela não era a noite. Chorou um bom tempo até que adormeceu, como naquela noites quando (aos seus dezesseis anos) ia dormir pensando nas poucas chances de que Finn se fixasse nela.

Se tivesse sentido menos saudades dele, se nesse momento não tivesse estado tão triste, teria sido capaz de ver os três quartos do copo cheio. Essa noite, porém, não podia. Mesmo quando suas costas a estava matando, dormiu no sofá. Havia dias, definitivamente, em que tudo deveria sair errado.

Capítulo 16

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