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Não é fácil ser uma menina de seus anos e muito menos se sua mãe está esperando gêmeos. Não é fácil ter seis anos, deixar de ser filha única e ter que se colocar no papel de irmã mais velha de dois bebês. Não é fácil, em resumo, ser Amy Hudson.

Amy havia sido, até então, a rainha da casa. A preferida de seus avós, de seus tios e (sobretudo) de seus pais. Não a mal interprete, as vezes pode ser esgotante, mas definitivamente Amy não tinha muitas queixas. Agora se encontra, porém, com que tem coisas que estão mudando.

Primeiro sua mãe já quase não pode fazer nenhuma das coisas que acostumavam fazer juntas. Só praticavam ballet uma vez na semana e já não dançavam juntas, agora Rachel toca algumas músicas no piano enquanto Amy ensaia seus movimentos. Deixaram de ir ao parque, porque Rachel se casa muito rápido e quase não dá pra sentar as duas no mesmo sofá quando se sentam para ver um filme.

Seu pai a bombardeia com discursos do que significa ser irmã de alguém e o tio Kurt já quase não tem tempo para ela, agora deve cuidar de Harry durante todo o dia.

Porém, Amy Hudson não é mole. Não senhor! Ela não se deixa depimir (É essa a palavra? Deve perguntar ao tio Blaine). Ela aguenta tudo, porque sabe que valerá a pena quando esses bebês chegarem, quando tiver alguém com quem compartilhar as coisas.

Ela realmente gostava de Harry. As vezes é chato, porque não falava muitas palavras e é um pouco estranho, mas faz coisas assombrosas como chupar o próprio pé ou tentar comer o babador que o tio Kurt coloca. Amy suspeita que se ter um primo é tão incrível, ter irmãos deve ser ainda mais fantástico.

Mamãe lhe explicou que no princípio pode ser que não seja muito divertido, que necessitará de ajuda e Amy não pode evitar se sentir importante. Sua mãe vai necessitá-la. Os bebês vão necessitar de sua irmã mais velha e mamãe sempre diz que devem amá-la muito, porque sempre se movem quando Amy fala com eles.

Mas então, um dia, tudo muda. Um dia tem vontade de chorar, com muita força e não sabe porque. O faz, então (mamãe sempre lhe dizia que é bom deixarmos nos levar por nossas emoções, que não está mal chorar. Amy se pergunta porque quase nunca vê ela chorar, mas talvez é porque mamãe parece ser a pessoa mais feliz do mundo).

- "Vai me dizer o que está acontecendo?" – lhe perguntou Finn, se ajoelhando ao lado de sua cama e limpando o rosto dela. Ela negou com a cabeça, se escondendo atrás dos cachos pretos. "Quer que chame a mamãe?" – lhe perguntou no mesmo tom.

Amy assentiu e Finn se retirou do quarto, para buscar sua esposa.

- "O que foi, pulga?" – disse Rachel, momentos depois, deixando um copo com água na cabeceira da cama e se sentando (com certa dificuldade) na beirada da cama.

- "Não sei." – respondeu a menina, sinceramente, enquanto bebia a metade do copo em um gole.

Rachel sorriu ao reconhecer o gesto da menina.

- "Bom... porque você acha que está tão triste?"

- "Esse é o problema, mamãe. Não me lembro o que foi que me incomodou primeiro."

- "Não lembra ou não quer me falar?" – disse Rachel, com um tom cúmplice.

- "Por que não ia querer te falar?"

- "Não sei, talvez... está brava comigo, ou com papai. Ou te incomoda algo dos bebês. É normal, Amy. Não deve... se reprimir." – disse sua mãe, lhe acariciando o cabelo.

A menina meditou por um segundo.

- "Não, não estou brava com vocês. Nem com os bebês." – respondeu depois de pensar um pouco no assunto.

- "Bom, vejamos então. Estava brava ou triste essa manhã?"

- "Não, realmente não. Você me fez essas panquecas de maça e papai me deixou levar minha foto autografada pelos Jets para a escola e... não, não estava brava."

- "Bem... o que aconteceu na escola? Aconteceu algo que poderia ter te chateado?" – Rachel viu como o rosto de sua filha se iluminava por um segundo, como se tivesse entendido algo, para corar segundos depois (sentiu um breve calafrio ao dar conta do quão parecida Amy era de Finn).

- "Sim... pode ser que algo que aconteceu na escola me deixou triste." – confessou, se escondendo um pouco.

- "Quer me contar?"

- "Bom... lembra do Tommy?"

- "Tommy? Sim, lembro. É o filho daquele guitarrista, né?"

- "Sim, ele. Bom, realmente não gosto dele. É muito mal educado e sempre me incomoda e essa semana zuou de mim falando que eu conhecer os jogadores dos Jets era mentira. É estúpido por acaso? Meu pai é um dos treinadores, claro que eu conheço." – explicou, brava, com um gesto dramático que Rachel reconheceu como próprio. Amenina tomou outro gole do copo antes de continuar. "Mas hoje levei a foto para mostrar a ele e que parasse de me incomodar e então o encontre... o encontrei com Sammy. No ginásio." – Rachel intuiu aonde iria a conversa e sentiu como o coração revirasse.

- "Ele beijou ela?" – perguntou.

- "Como sabe?" – questionou a menina, surpreendida.

- "Só sei." – respondeu sua mãe, simplesmente. Abraçou um pouco mais sua filha. "É isso que te incomodou?"

- "Não... bom, não sei. Quero dizer... porque Sammy se interessaria por ele? Ele é... chato. E é um menino, nós não brincamos com meninos. E não deveria ter beijado ele, isso... isso no se faz." – se queixou ela, tratando de não chorar.

Rachel sorriu.

- "Não existe a possibilidade de que, na realidade, tenha te chateado que ele não te beijou?" – murmurou, com tom cúmplice.

Então Amy soltou as lágrimas que estava contendo.

Rachel se recostou ao lado dela, na pequena cama, a abraçando, deixando que se desabafasse.

- "Achei que ele gostasse de mim, porque sempre... sempre me incomoda e sempre me busca para brincar e me convidou para o aniversário dele e não convidou Sammy. Por que... por que beijou ela?" – perguntou, apenada, aos prantos e o coração de Rachel se rompeu em mil pedaços.

- "Acredite carinho, que eu entendo exatamente como se sente." – lhe disse. A menina se incorporou para olha-la nos olhos, com um gesto questionador e Rachel pensou que compartilhar sua própria história com Amy, nesse momento, era justo. Fez um gesto, convidando ela para se recostar novamente e a menina obedeceu. "Quando papai e eu nos conhecemos éramos muito jovens. Ainda estávamos na escola."

- "Eu sei, os dois estavam nesse clube..."

- "O Glee Club, sim. Nos conhecemos antes, na verdade. Bom, eu conhecia ele, para ser mais sincera. Ele era... a estrela do colégio. Era o melhor jogador da equipe, o capitão e tinha essa incrível e assombrosa namorada."

- "Uma namorada?" – questionou Amy, realmente surpreendida.

Lhe custava imaginar seu pai com uma namorada que não fosse Rachel (mesmo quando sabia da existência de Laura, sua mãe biológica).

- "Sim, uma namorada. Quinn, para ser mais exata." – explicou Rachel.

Amy soltou uma gargalhada, como se achasse a história muito engraçada.

- "Está inventando!"

- "Não, não estou! Como pode duvidar assim de mim?" – brincou Rachel, tocada pelo riso de Amy. "Sabe? Melhor não continuar. É melhor assim, se não vai acreditar em mim."

- "Não, por favor, continue! Quero saber, mamãe, por favor!" – rogou.

- "Ok, ok. Em resume, papai tinha uma namorada e eu estava sozinha. Então ambos nos unimos ao Glee Club e as coisas mudaram um pouco. Eu estava... bom, acho que então eu já estava apaixonada por ele e tinha a impressão de que ele também sentia coisas por mim, mas continuava saindo com Quinn e as coisas entre nós não ia funcionar. Éramos muito diferentes. Ele era uma celebridade na escola e eu não era... ninguém. E então, sabe o que aconteceu?" – perguntou. A menina negou com a cabeça intrigada. "Ele me beijou."

- "Ele te beijou?"

- "Sim. Eu estava ajudando ele a melhorar sua voz em uma tarde e ele... me beijou. Foi fantástico. Foi... o melhor beijo que alguém me deu na minha vida." – lhe disse.

- "O que sentiu?" – questionou Amy, ainda mais intrigada.

- "Te direi que: espere para ter seu primeiro beijo e depois comparamos. Não quero arruinar a surpresa."

- "E o que aconteceu depois? Ele se deu conta de que eram almas gêmeas e... se apaixonaram e viveram felizes para sempre?" – perguntou a menina, se sentando e olhando ela nos olhos.

Rachel pensou que, definitivamente, haviam visto muitos filmes românticos juntas.

- "Sim... sim, isso foi mais ou menos o que aconteceu." – lhe disse, se sentando ao lado dela. "Não deve se sentir mai, Amy. As coisas sempre acontecem, eventualmente. Já terá centenas de homens brigando por você. Acredite." – a consolou Rachel.

Amy assentiu, com um sorriso no rosto.

- "Mamãe?" – lhe disse, quando Rachel se dirigia para a porta. "Não conte pro papai." – pediu, um pouco envergonhada.

- "Coisas de meninas?" – respondeu Rachel, com tom cúmplice.

- "Coisas de meninas." – respondeu Amy.

Não chorou mais por Tommy ou por Sammy. Amy Hudson foi dormir aquela noite ouvindo o riso de seus pais, pensando no quanto eles se amavam e o quanto amavam ela. As coisas não podia ser melhores para ela, não havia motivos para chorar. Ia ser uma boa irmã mais velha e depois ia ser a namorada de alguém e algum dia, talvez, seria a mãe de outra pessoa, ou até esposa. Dormiu pedindo com todas suas forças para que, algum dia, alguém a amasse pelo menos a metade do que seus pais se amam.

Isso não era pedir muito, né?

-oo-

- "Por que chorava?" – questionou Finn, enquanto ele se barbeava e Rachel tomava banho de banheira.

- "Não sei se posso te falar." – respondeu ela, com tom suspeito, fechando os olhos e relaxando.

- "Está brincando?" – ele disse, ofendido.

- "Não, não estou. Prometi a ela que não te contaria. São coisas de meninas, Finn." – ele se virou para olhá-la, inquieto. "Promete que não vai fazer alguma estupidez?"

- "Prometo."

- "Bom. Digamos que hoje romperam o coração dela pela primeira vez." – explicou ela, sem dar mais detalhes.

- "Um menino? Rompeu o coração dela? Tem seis anos, carinho."

- "Eu sei, mas ainda assem lhe doeu. O amor não conhece idade, Finn."

- "Eu sei mas... seis anos? Não é um pouco prematuro? E quem é esse cara, afinal?"

- "Não é um cara, é um menino de seis anos, como ela. Não penso em te dizer quem é, porque sei que vai assustar ele."

- "É esse Tommy, né? O filho do guitarrista."

- "Como sabe?"

- "Eu só sei. Pressinto."

- "Ok, Finn Hudson, the mentalist."

- "Seis anos é… é muito pequena Rach!"

- "Deve ir se acostumando com a ideia de que ela está crescendo, carinho. Todos crescemos."

- "Eu sei, Mesmo que as vezes... as vezes eu gosto de pensar que tem algo desses garotos ainda, sabe?"

- "De você e de mim? Claro que tem!"

- "Bom, é bom saber."

- "Sabe? Pode entrar na banheira se quiser." – ela disse, com o mesmo sorriso cúmplice com que havia falado com sua filha umas horas antes.

- "Vi o que fez aí, Rachel Berry e gostei." – respondeu ele, deixando a toalha que estava na cintura cair e entrando ao lado dela.

- "Algum dia vou te preparar aquelas bebidas sem álcool, já verá."

- "Não gosto. Só era uma desculpa para passar um tempo com você."

- "Eu sabia!"

Capítulo 12

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