Cinco amigas e suas mentes criativas
High Five Stories
A Rachel nervosa fez sua primeira aparição aos poucos dias de saber que estava grávida e gerou um autêntico reboliço na casa dos Hudson-Berry. Primeiro porque Finn ainda não havia caído a ficha de que ela estava esperando um filho, o que fez com que o ataque de sua esposa o tomasse definitivamente de surpresa. Segundo porque a Rachel nervosa é... intensa. No mínimo.
Tudo começou um domingo pela manhã, quando Finn acordou sobressaltado ao ouvir o estronde de algo batendo no chão.
- "O que foi? Está bem?" – questionou, assustado, buscando sua esposa na escuridão.
- "Oh, bom! Finalmente acordou." – ela disse, com a voz carregada de fúria, enquanto entrava no quarto com os braços cheios de papais.
- "O que está fazendo? São... oito da manhã. De um domingo." – respondeu ele, olhando para o relógio que repousava na pequena mesa de cabeceira.
- "Pois resulta, Finn, que acordei essa manhã com o objetivo de começar a memorizar minhas linhas e não encontro o maldito script em nenhum lado." – ela disse, controlando a voz e isso conseguiu fazer com que Finn acordasse completamente. "Tudo o que encontro são estatísticas, jogadas, reportagens e mais estatísticas. Mas nam um papel meu."
- "Olhou no seu escritório?"
- "Oh, como não me ocorreu que poderia estar lá? Sim, Finn, claro que olhei no meu escritório, foi o primeiro lugar que procurei!"
- "E na cozinha?"
- "Se estou te dizendo que busquei em todos os cantos é porque busquei em todos os cantos. Estou grávida, Finn, não incapacitada. Obrigada. E...por que continuam aparecendo todos seus papeis em qualquer lugar em que busco?" – gritou, vencida, jogando o monte de folhas que estava nas mãos no chão.
Finn se incorporou.
- "Ei, ei... tranquila. Já vamos encontrar, não se altere." – murmurou, tentativamente, tratando de acalma-la.
Rachel olhou para ele então e seus olhos se encheram ainda mais de fúria.
- "Sebe de uma coisa? Eu vou busca-los sozinha! Você apenas volte para a cama, assim meu ânimo 'alterado' não te incomoda!" – voltou a gritar, deixando ele sozinho no quarto e fechando a porta.
Finn deitou na cama e gastou o resto da manhã pensando no que havia feito de mal. Rachel não falou com ele durante o almoço e passou a maior parte da tarde revirando a casa em busca dos papeis, soltando pequenos ruídos incômodos. Só parou para preparar o jantar e receber Blaine e Kurt, que haviam sido convidados para passar o domingo com eles.
Quando Finn terminou de tomar banho, horas depois, se perguntou se deveria fazer as pazes antes de ir dormir ou se era preferível esperar até a manhã seguinte, sustentando a esperança de que uma boa noite de sono melhoraria o ânimo de sua esposa.
Se surpreendeu, porém, ao encontrá-la sentada na cama (vestida em pijama) lendo o bendito script e fazendo anotações com uma lapiseira rosa.
- "Vejo que o encontrou." – murmurou ele, aliviado, se acomodando ao seu lado da cama e programando o despertador.
- "Sim." – respondeu ela, sem olhar para ele.
- "Aonde estava?" – questionou Finn, tentando acariciar uma das pernas dela por baixo da coberta.
Rachel apertou os lábios.
- "Na casa do Kurt." – sussurrou, com expressão de nojo, como se aquele fosse a bebida mais amarga de sua vida. Finn sorriu, se aproximando mais e apoiando sua cabeça no colo dela. Rachel deixou os papeis no chão, para se concentrar em seu marido. "Não quis gritar. Não sei o que me aconteceu." – lhe disse, apenada, acariciando o cabelo dele.
- "Está grávida. Isso que acontece. É normal." – respondeu ele, fechando os olhos e apoiando sua testa no ventre de sua esposa.
- "Estou grávida." – repetiu ela, deixando que as palavras ressoasse em sua mente, cobrando sentido. Finn começou a rir do nada, o som de seu riso amortecendo contra o suave pijama dela. "o que é engraçado?"
- "Que sempre estamos nos queixando de que nunca brigamos e, na verdade, é muito estúpido. Hoje, por exemplo... o que diabos foi isso? Foi um dia horrível só porque você não falava comigo! Como poderia nos ocorrer que estava bem discutir de vez em quando?" – explicou ele, com dificuldade, entre risos.
Rachel também riu: não havia nada mais contagioso do que ver seu marido assim, rindo, com uma expressão quase infantil no rosto.
Finn se virou no colo dela, para olha-la nos olhos e pegou uma das mãos que estava acariciando seu cabelo.
- "Estaremos bem." – lhe disse, olhando para ela, tratando de transmitir um pouco de serenidade.
- "Já estamos." – respondeu Rachel, deslizando um pouco na cama para ficar a sua altura e poder beija-lo.
-oo-
A Rachel hormonal apareceu pela primeira vez após os três meses de gravidez e Finn deparou consigo mesmo se sentindo aliviado: tem algo melhor do que uma esposa incrivelmente sexy, incrivelmente grávida e incrivelmente (e constantemente) atraída por você? A resposta é não.
Porém, Finn teria preferido que o lugar de aparição da Rachel hormonal não tivesse sido o teatro no intervalo da encenação de 'Lago dos Cisnes' do ballet de Amy.
- "Façamos!" – lhe murmurou, sedutoramente no ouvido, aquela tarde.
Finn olhou para ela confuso por um segundo. Rachel realmente estava falando o que achava ter escutado?"
- "O que... o que quer fazer?" – respondeu ele, tratando de afastar sua mente daquele lugar complicado em que havia entrado.
- "Quero que me leve ao banheiro e tenhamos sexo durante exatamente quinze minutos." – explicou ela, com a mesma voz, lhe acariciando a perna (e... um pouco mais acima disso).
Finn engoliu em seco.
- "Rach, não sei se..."
- "Está se negando por acaso? Oh, já entendo! Não acredita estar a altura..." – Rachel não havia terminado a frase e Finn já havia segurado a mão dela, a guiando até o banheiro mais próximo.
Foi sujo (literal e metaforicamente), rápido, rude e assombroso. Finn não havia terminado de se introduzir nela e Rachel já estava colapsando sobre ele, mordendo o ombro da jaqueta que ele vestia para reprimir um grito.
- "Isso... foi incrível!" – murmurou ele, com a voz entrecortada, tratando de recuperar a compostura e saindo dela.
Rachel sorriu, como uma careta de autossatisfação no rosto.
- "Isso foi fantástico!" – disse para ele, arrumando a gola da camisa e beijando ele novamente, dessa vez de forma mais doce.
- "E a senhora Jackson disse que se continuo melhorando , talvez possa me dar um protagonismo na próxima apresentação e acho que posso fazer. Só deveríamos ensaiar um pouco mais, isso é tudo." – explicou Amy, uma hora depois, segurando as flores que seu pai havia lhe dado, enquanto o trio voltava para seu lar, já que a obra havia terminado.
- "Quando é a próxima apresentação?" – perguntou Finn, com um tom de esperança na voz que fez com que Rachel sorrisse.
- "Bom, começaremos a preparar 'O quebra-nozes' para o Natal." – respondeu sua filha.
Finn suspirou, desiludido.
- "Sabe?" – Rachel disse, quando ambos deitaram na cama essa mesma noite. "na semana que vem tem uma reunião de pais na escola de Amy. Ouvi que os banheiros de lá são... bastante utilizáveis." – murmurou, se recostando sobre ele e beijando o mesmo ombro em que havia mordido horas antes.
Finn sorriu: a Rachel hormonal ia levá-lo a morte prematura.
-oo-
A Rachel insegura é mais esporádica e Finn a conhece com a palma da sua gigante mão. É sempre a mesma cena: ambos deitam para dormir depois de um dia agitado, cansados e abatidos, e ela encontra a maneira de se acomodar em seus braços (não é que ele coloque muito resistência, tão pouco). Solta um par de suspiros até que Finn, rendido, faz a pergunta esperada.
- "O que foi carinho?" – questionou essa noite.
Aqui, as respostas são infinitas e variadas. 'Estou preocupada porque acho que teremos uma menina e sei que você quer um menino', 'Estou preocupada porque teremos gêmeos e não sei se você quer ter gêmeos', 'Estou preocupada porque vou ficar difícil, porque vou ser uma mãe ruim, porque não poderei com tudo, porque provavelmente terei estrias, porque não poderemos ter sexo por quarenta dias, porque o amarelo que escolhemos para o quarto dos bebês não combina com o tapete' e quem mais sabe o porque do que.
Aquela noite, porém, a resposta conseguiu acender algo em Finn.
- "Sei que não te interesso mais. Estou preocupada porque estou ficando enorme e não vai me querer." – murmurou ela, contendo a angustia de sua voz e as lágrimas que forçavam para sair.
Finn se virou na cama para olha-la nos olhos. Ali estava, essa era a Rachel Berry. Essa Rachel não era muito diferente da que havia querido operar o nariz, mudar sua aparência. Não era muito diferente da que pensava que valia somente por sua voz, por seu talento.
- "Quero que me escute e que me escutem bem." – ele lhe disse, limpando as lágrimas que conseguiram escapar. Rachel olhou para ele. "Nada, nada nesse mundo me fará mudar de opinião sobre você. Eu te amo, Rachel. Me casei com você e me casaria novamente se fosse necessário. Acho que poderia ter me casado com você justo depois daquela primeira vez em que cantamos 'Don't Stop Believing'. Me apaixono por você dia após dia e a cada dia mais. E você... você está carregando meus filhos! Não tem nada que te faça mais linda para mim do que isso." – confessou.
Rachel sorriu, enterrando sua cabeça no espaço vazio que ficava entre o pescoço de Finn e o travesseiro.
- "Eu também te amo. Mesmo que esteja perdendo cabelo." – murmurou ela, beijando o pescoço dele.
Finn sorriu também.
- "Bem, isso é bom." – ele disse, se voltando a dormir. De repente, a realidade caiu sobre ele como um bloco de cimento. "Espera... estou perdendo cabelo?"
-oo-
A Rachel ansiosa e emotiva é a mais problemática, porque é a que consegue prender mais a atenção de Finn.
- "Finn... acho que é hora." – murmurou uma tarde, perto dos seus meses de gravidez, ficando de pé de sobressalto.
Finn olhou confuso.
- "Hora de que?"
- "Dos bebês, Finn!" – gritou Rachel, segurando o ombro dele e sacudindo um pouco.
Finn demorou um milésimo de segundo para entender do que falava e ainda menos para entrar em pânico.
- "Os bebês! Como é possível se... se faltam... não temos nada pronto...?"
- "Finn! O carro! Agora!" – ela ordenou, voltando a sacudi-lo, buscando sua atenção.
Se alguém perguntasse a Finn como fez para chegar ao hospital em quinze minutos quando se tratava de uma viagem de pelo menos meia hora, ele nunca poderia explicar (bom... talvez as oito multas que recebeu depois poderiam servir como exemplo).
- "Falso alarme." – murmurou Rachel, ao sair da pequena sala do doutor Rawson em uma cadeira de rodas.
Finn sentiu como a alma voltasse ao corpo.
- "Bom, porque não estávamos prontos." – ele se alegrou, ajudando ela a ficar de pé (realmente estava ficando enorme. Finn não podia acreditar que dentro de algo tão pequeno como Rachel estivesse se formando dois bebês, mas não queria conhecer os detalhes também).
- "E os bebês?" – questionou Amy entusiasmada, umas horas depois, quando ambos voltaram do hospital com as mãos vazias.
- "Ainda não, pulga." – disse seu pai, se jogando no sofá e fechando os olhos cansados.
- "Vou para meu quarto então." – respondeu a menina, com um gesto dramático e um tom decepcionado.
- "Vou preparar o jantar." – agregou Rachel, com menos dramatismo mas com mais decepção e Finn teve uma reviravolta no coração ao ouvir o tom de voz de sua esposa.
- "Não vai ler o script essa noite?" – perguntou ele ao deitar ao lado dela essa noite, buscando suas mãos na escuridão.
- "Não, estou cansada." – murmurou.
Estava chorando. Finn a conhecia tanto que podia saber mesmo assim, na escuridão, mesmo quando ela usava todo seu talento de atriz para ocultar. Acendeu a luz do abajur que estava na cabeceira, tentando olha-la nos olhos.
Rachel escondeu seu rosto no travesseiro, escapando de seu marido. Ele se sentou no chão, justo ao lado dela, lhe acariciando o cabelo.
- "Realmente queria que chegassem hoje, né?" – lhe perguntou.
Rachel se virou para olha-lo.
- "Com toda minha alma. Não posso... não posso esperar mais, Finn. Quero que saiam. Quero ter eles." – chorou ela, apenada.
Ele se aproximou mais, apoiando sua testa na dela.
- "Eu sei, carinho."
- "Não, não sabe. Você estava contente de que eles não haviam saído ainda." – se queixou, batendo no ombro dele, como se estivesse o culpando por aquilo.
Finn não ficou bravo.
- "Não, não estou. Sim, me aliviou um pouco porque, francamente, não estamos prontos ainda. Não terminamos de comprar as coisas, de arrumar o quarto, de programar os horários. Mas isso não quer dizer que eu não estou tão decepcionado como você. Claro que estou." – ele explicou, deixando que aqueles sentimentos que havia reprimido durante todo o dia aflorassem.
- "Está chorando?" – ela perguntou, abandonando totalmente o tom hostil.
Ele assentiu, escondendo o rosto no peito de sua esposa.
- "Eu realmente queria..."
- "Eu sei, eu sei. Já virão. Ele e ela." – murmurou Rachel, o abraçando.
Finn parou então, levantando o olhar.
- "Como... como sabe?" – questionou, enquanto um pequeno sorriso se formava no rosto.
- "Sinto muito, sei que não queríamos saber, mas uma enfermeira deixou escapar e não podia... não tolerava não te dizer. Está contente? Não está chateado?" – perguntou ela, apenada.
Finn negou com a cabeça, enquanto encurtava a distancia que os separava para beija-la nos lábios. Ela sorriu, o abraçando forte (tanto como lhe permitia a enorme barriga).
- "Está contente então?" – voltou a perguntar, enquanto limpava as lágrimas dele com o polegar.
- "Claro que sim! Rach... um de cada um!" – murmurou Finn, deitando ao lado dela e apoiando sua testa na barriga dela, tal como havia feito minutos antes com a testa dela. "E Amy... Amy vai ficar tão feliz!"
- "Eu sei. Não é estranho como ela... predisse tudo?"
- "Talvez deva colocar ela para trabalhar com Blaine nos números e as táticas dos jogos."
- "Nem se atreva."
- "Era só uma sugestão."
- "Ei, Finn." – ela disse, mais seria, tentando chamar sua atenção.
- "Sim?"
- "Obrigada por ter paciência comigo."
- "Carinho, é meu trabalho..."
- "Não, não é. Você é... é o esposo perfeito e me faz sentir muito culpada. Você sempre me entende e me... me ajuda e é tão paciente. E eu só te trato mal e fico brava com você por nada e fico... ansiosa e insuportável." – confessou, começando a chorar novamente. Finn soltou uma gargalhada. "Porque está rindo?"
- "Porque está se desculpando pelas vezes em que ficou ansiosa ou emotiva ou... o que for, ficando emotiva. É... sinto muito carinho, mas é engraçado." – se explicou ele, contendo o riso.
- "Sim , acho... acho que é engraçado." – ela cedeu, votando a abraça-lo. Ficaram em silencio outra vez, enquanto ela lhe acariciava o cabelo e ele a barriga. Foi Rachel a que faltou, antes de que ambos dormissem. "Sabe, carinho? Está bem se você quer ficar... emotivo, ou ansioso. Ou inclusive hormonal." – ela brincou.
Finn sorriu.
- "Oh, não se preocupe carinho, eu realmente faço isso. Pergunte para Blaine e Kurt, eles poderão te contar um milhão de histórias patéticas em que eu rompo em choro, ou chuto um par de móveis." – ele brincou também, sentindo como os bebês se moviam dentro da barriga de sua esposa (nunca ia se cansar disso. Nem em mil anos).
- "Ficou hormonal com eles também?" – murmurou ela, antes de adormecer, com o esboço de um sorriso no rosto.
Finn ficou ali o resto da noite, com a metade de seu corpo na beirada da cama, com sua testa apoiada sobre ela, odiando mais do que nunca o som do despertador que, na manhã seguinte, o obrigou a se separar deles para começar seu dia.
- "O que faz?" – ela questionou, assustada, quando o viu pegar o pequeno apagador do quadro mágico em que estava a lista com os possíveis nomes.
- "Bom... já podemos apagar isso, não? Funny Carole para a menina e Christopher Leroy Hiram para o menino..."
- "E como ficam os próximos? Não vai querer começar com todo o processo de novo, né?" – Finn meditou por um segundo as implicâncias do que Rachel tentava dizer.
- "Não... tem razão." – concordou, deixando o apagador e correndo para preparar o melhor café da manhã do mundo (pelo menos o que ele era capaz de preparar, de todas as formas).