Cinco amigas e suas mentes criativas
High Five Stories
- "Então, patinhos ou ursinhos?" – perguntou Kurt, mostrando os desenhos que havia feito em seu computador.
- "Definitivamente patinhos. Não posso tirar da mente esse vídeo dos ursos canadenses que vimos outra noite." – respondeu Rachel, abrindo uma lata de tinta cuidadosamente e virando o conteúdo em outro recipiente menor.
- "Ok. Você pinta essas três paredes de amarelo e eu farei o mural sobre essa outra." – ordenou ele, arregaçando a manga da vela camisa dos Jets que vestia aquela tarde.
Rachel sorriu: era incrivelmente estranho ver Kurt em um look casual (ou quase desleixado nesse caso). Porém, todos esses meses trabalhando juntos na produção de Funny Girl haviam ensinado a ela que existia um Kurt diferente, que o Kurt designer era muito mais... relaxado e solto que o Kurt cunhado, o Kurt tio, o Kurt irmão e o Kurt marido.
Assim trabalham: ela o acompanha nas pequenas feiras de antiguidades e os brechós, nos quais as vezes se perdiam toda uma manhã comprando detalhes e acessórios para o set e ele a acompanhava em cada leitura, ensaio prévio, aula de ballet.
Finn e Blaine chamavam eles de 'o matrimônio' e francamente algumas vezes eram. Era um matrimônio... artístico, do mesmo modo que Blaine e Finn eram em seu próprio trabalho.
- "Pode acreditar? Há não muito tempo estávamos... redecorando essa casa para que Finn e eu pudéssemos vir morar aqui e organizando nosso casamento e nos acostumando com nossa vida em família e agora... estamos esperando bebês." – disse Rachel, emocionada, enquanto pitava distraidamente o mesmo lugar da parede em tom de amarelo neutro que ela e Finn haviam escolhido.
- "Está brincando? Eu não posso acreditar o quão rápido o tempo passou! Me parece que foi ontem essa primeira tarde em que saiu furiosa do primeiro ensaio do Glee Club." – respondeu Kurt, marcando com traços precisos o desenho na parede oposta.
- "Você teve bastante paciência comigo." – murmurou ela, com um sorriso, olhando para ele por um segundo.
Kurt lhe devolveu o sorriso.
- "Eu gosto de pensar que foi algo mútuo. Que continua sendo, na realidade." – explicou ele.
Rachel entendeu perfeitamente a que se referia. Sentiu vontade de abraça-lo, mas o som do celular de Kurt interrompeu o momento.
- "Sim? Sim, sou eu. Oh sim, Margatet, claro! Sim, estávamos esperando sua ligação com ansiedade. Amanhã? Sim, posso falar com meu marido para marcar um encontro. Perfeito. Nos vemos amanhã. Obrigado!" – disse, fechando o telefone e se sentando na pequena escada que havia usado.
- "Quem era?" – questionou Rachel, preocupada pela palidez do rosto de Kurt.
- "A... a encarregada do serviço de adoção. Parece que tem uma chance de que nos deem... de que nos deem um menino." – lhe explicou, com a voz trêmula.
- "Isso é incrível Kurt! Vão ter um filho! Devemos preparar o jantar, acho que tenho ingrediente para fazer carne assada que o Blaine tanto gosta. Oh, vai ficar tão emocionado! E podemos... se sente bem? Está pálido." – perguntou ela, transtornada.
Se aproximou dele, tentando acariciar o braço dele. Kurt olhou para ela.
- "Estou... estou aterrorizado." – lhe disse, ainda em voz baixa, enquanto duas lágrimas corriam pelo rosto.
Rachel o abraçou, apertando tão forte como seu ventre de grávida permitia.
- "Eu sei. E é normal. Eu perco a conduta duas vezes por dia. E sabe o que é o único que consegue me acalmar?" – questionou. Kurt negou com a cabeça. "Finn. Amy. Você. Não estamos sozinhos, Kurt. Se dá conta disso? Se dá conta do quão longe estamos de... da menina malcriada e o garoto com má atitude que não tinha ninguém além de seus pais? Agora... você tem Blaine e tem a nós. Tudo sairá bem." – o tranquilizou, tal como uma mãe tranquiliza um filho em uma noite de tormenta.
Sentiu como Kurt se relaxava um pouco entre seus braços.
- "Sim... sim, tudo sairá bem. Não tem do que se preocupar." – disse, mais para se mesmo do que para Rachel, enquanto deixava que pouco a pouco a emoção fosse se acalmando.
-oo-
- "Pode deixar de arrumar a gravata? Está me deixando nervosa." – se queixou Rachel, esticando para arrumar pela centésima vez naquela tarde o nó da gravata de seu marido.
- "Sinto muito, acho que é... que estou nervoso. Estou seguro de que vou arruinar isso." – confessou ele.
Rachel o olhou por um segundo, segurando uma de suas gigantes mãos entre as suas.
- "Eu sei, eu também estou nervosa. Mas devemos fazer isso bem e o nervosismo não é bom companheiro, então tratemos de... de deixar em segundo plano. Por Blaine e Kurt, ok?" – murmurou para ele, tentando acalmá-lo.
- "Por Blaine e Kurt." – repetiu ele, acariciando o ventre dela, distraidamente.
Rachel sorriu: esse simples contato, o das mãos do seu esposo em sua barriga, conseguia acalmá-la sempre. Não estava sozinha e nunca estaria.
- "Senhor e senhora Hudson, não?" – perguntou uma mulher no final do corredor. Ambos assentiram, se levantando ao mesmo tempo. "Margaret está esperando no escritório." – disse, apontando para a gastada porta.
Rachel segurou outra vez a mão de Finn e ambos entraram no pequeno e sujo ambiente.
- "Bom dia, perdoem a demora, mas foi uma manhã complicada." – se desculpou a mulher, se aproximando deles e estendendo uma mão. Finn recordou vagamente a senhorita Holiday e de repente se sentiu um pouco menos nervoso. "Então... Rachel e Finn, não?" – perguntou, dando uma olhada nas planilhas e apontando para as cadeiras vazias na frente da mesa.
- "Sim." – respondeu Rachel (Finn sentia como se alguém tivesse lhe arrancado a língua).
- "Você é o irmão do Kurt?" – lhe perguntou Margaret, olhando para ele através de seu enorme óculos.
- "Sim somos... irmãos de consideração. Minha mãe se casou com o pai dele há quase... quinze anos. Mas, na realidade, eu sinto ele como se fosse meu irmão por inteiro." – disse Finn, com a voz um pouco cansada pelo nervosismo.
Rachel sorriu: só Finn usaria uma expressão como 'irmão por inteiro' em uma entrevista desse tipo.
- "Sim, devem ser muito unidos se colocaram vocês como a primeira opção na lista de referências. O que tem o Blaine?"
- "Eu o conheci quando ele e Kurt começaram a sair no colégio. Fomos juntos para a universidade e trabalhamos juntos desde então." – explicou ele, pegando um pouco mais de confiança com cada palavra que dizia.
- "Como definiriam a dinâmica familiar de ambos? Como é a vida cotidiana?" – perguntou a mulher, anotando freneticamente todos os detalhes em seu computador.
- "Bom, são muito... equilibrados. Estão juntos durante muitos anos e realmente se conhecem e se amam muito. Kurt é... é a alma da casa. É a alma de qualquer lugar em que está, posso dizer. Nós trabalhamos juntos e o conheço desde o segundo grau e posso te dizer que é o melhor amigo que alguém pode ter. Blaine decai um pouco mais para a razão. Ele é mais centrado e é uma das pessoas mais leais que conheci em minha vida. Tem seus... momentos, como todo casal, mas no final do dia tudo se reduz a essa fórmula mágica que tem mantido eles juntos durante tanto tempo." – disse Rachel, com um sorriso.
Finn sentiu por um momento que devia aplaudi-la, pelo menos. Sua esposa, claramente, havia pensado isso com determinação e estava seguro de que provavelmente havia discursado durante os últimos dois dias.
- "Como descreveriam o desempenho dos Anderson com as crianças?" – questionou Margaret, no mesmo tom monótono que vinha mantendo.
- "Bom, temos uma filha de seis anos, Amy, que ama eles. Seu tio Kurt e seu tio Blaine são suas pessoas favoritas no mundo, sem exagerar."
- "Você é a pessoa favorita dela em todo o mundo." – murmurou Finn, baixinho e Rachel lançou um olhar glacial: definitivamente, esse não havia sido um comentário certeiro.
- "Kurt é muito dedicado e carinhoso com ela e Blaine tem essa forma de lhe ensinar coisas o tempo todo. Acho que aprende mais com ele do que aprende na escola." – continuou Rachel, como se nada tivesse acontecido e Finn riu com o comentário de sua esposa (bom, está bem, não havia sido totalmente divertido, mas tinha que emendar o erro anterior, ok?).
- "Por que acham que deveríamos ter os Anderson em consideração para esse menino?" – voltou a perguntar.
- "Ambos sabem o difícil que é não ter aceitação, perder uma família. Sobretudo Kurt. E sabemos com total segurança de que vão ama-lo incondicionalmente, como amam uma ao outro. Não tem melhor lugar para colocar um menino (e sobretudo um que teve que enfrentar a adversidade) como esse lugar. Vão cuidar dele, vão educa-lo e vão amá-lo como merece e mais ainda." – disse ela, tomando as rédeas do assunto mais uma vez.
- "Tenho entendido que você tem experiência no assunto, não senhora Hudson?" – questionou, agora sim tirando o olhar do computador e tirando também o óculos. Rachel assentiu com a cabeça. "Entenderá então porque é tão... complicado as vezes, entregar um menino a um casal de homossexuais, ainda quando parecem a melhor opção."
- "Não há famílias perfeitas." – soltou Finn, surpreendendo a si mesmo por ter dito isso em voz alta. Margaret o olhou de forma inquisitória e ele pensou que deveria se explicar. "A mãe biológica da minha filha morreu durante o parto. Tinha vinte e três anos quando isso aconteceu e de repente me deparei com que deveria enfrentar sozinho uma tarefa para a qual não estava preparado. Se não fosse por minha família (em especial por Kurt e Blaine) não poderia fazer. Eles foram meu maior suporte durante muitos anos e tenho a segurança de que serão dois pais exemplares porque... porque me ajudaram a me converter em um. Não exemplar, claro, mas... bom, eu tento pelo menos. O ponto é que eles desejam, merecem e serão incríveis nisso porque já são. São excelentes tios e companheiros e... irmãos." – finalizou ele, agora surpreendido de que tivesse sido capaz de formular tudo isso.
Por um segundo, por um milionésimo de segundo na realidade, lhe pareceu ver que Margaret sorria.
- "Obrigada pelo tempo de vocês." – disse para eles, voltando a estender a mão e abrindo a porta do escritório.
- "Como fomos?" – perguntou ele, nervoso, quando ambos voltavam para o carro.
- "Eu acho que estivemos fantásticos." – murmurou Rachel, com voz carregada de emoção, enquanto esticava sua mão para acariciar a nuca dele.
Finn soltou um suspiro de alívio.
- "E me diga, quanto tempo ensaiou seu discurso?"
- "Carinho, nunca zoe sua esposa grávida." – lhe disse, com um sorriso, enquanto ambos sentiam como a tensão desaparecia aos poucos.
-oo-
- "Trate de não jogar tantos brinquedos no chão, Amy. Já quase não posso ver eles com essa barriga de grávida. Estou indo, pare de bater!" – gritou Rachel, desesperada, enquanto Kurt continuava batendo na porta de entrada como se quisesse derruba-la.
- "Boa tarde, meu nome é Kurt, esse é meu esposo Blaine e esse... é seu sobrinho." – lhe disse, enquanto Rachel abriu a porta, lhe mostrando o pequeno menino que olhava com o rosto cheio de assombro desde a profundeza de seu carrinho.
Rachel olhou primeiro para Kurt, depois para Blaine e de novo para o menino, com a boca aberta de assombro.
- "Como... quando... o que?"
- "Se nos deixar entrar pode ser que te contemos." – disse Blaine, com o maior sorriso do mundo.
Rachel abriu passagem, para que eles entrassem.
- "Amy! Finn!" – gritou Kurt, enquanto o resto se sentava na sala da casa dos Hudson.
- "Por que tanto alvoroço?" – questionou Finn, descendo a escada com Amy trepada em suas costas.
Ambos soltaram um gritinho de assombro quando viram o menino.
- "Lhes apresento a Harry Anderson-Hummel." – disse Blaine, com ar solene, enquanto apontava o pequeno que repousava em seu carrinho.
- "Tem sete meses e está desejando ter uma prima maior, com toda sua alma." – Kurt disse para Amy.
A menina se aproximou do carrinho lentamente.
- "Oi Harry, sou Amy e sou sua prima. Me alegro muito que está aqui, porque já estava cansando de ser a única menina." – lhe disse, segurando uma das pequenas mãozinhas.
Harry soltou uma gargalhada, esticando para tocar a roupa de penas que Amy vestia nesse dia (ela e Rachel estavam brincando de se disfarçar. Ela mais que nada).
- "É lindo, meninos. Felicidades!" – disse Rachel, com a voz carregada de emoção, enquanto acariciava a suave cabeleira preta do menino.
Era realmente lindo: tinha uns olhos marrons enormes, parecidos com os de Blaine e o pequeno nariz em forma de botão. Vestia uma pequena camisa e um casaco e Rachel soube no mesmo instante que Kurt já havia colocado mãos no assunto.
- "Um novo jogador de Futebol Americano!" – brincou Finn, batendo nas costas de Blaine e ganhando um olhar ameaçador de seu irmão. Se aproximou de Kurt, o abraçando fortemente. "Te felicito. Você merece mais do que ninguém." – murmurou para ele.
- "Aparentemente... foi seu discurso que conseguiu conquistar a Assistente Social. Então... obrigado!" – disse Kurt, com a voz carregada de emoção.
- "Leve como um reembolso por todos esses anos em que Amy e eu fomos uma dor de cabeça." – brincou Finn, batendo nas costas dele.
Rachel rompeu em choro, se sentando no sofá dramaticamente.
- "O que foi, carinho?"
- "Eu só... estou tão feliz! Vejam, olhem bem até aonde nós chegamos!" – disse, colapsando nos braços de seu marido.
- "Posso carregá-lo?" – pediu Amy.
- "Te direi para ir buscar seus brinquedos preferidos e trazer, o que acha? E uma manta também." – lhe disse Blaine, tirando Harry do carrinho e dando para Finn, que o sentou em uma de suas longas pernas e começou a balança-lo.
Amy saiu correndo até seu quarto, para voltar com os braços cheios de brinquedos. Blaine esticou a manta no tapete e espalhou os brinquedos, pegou Harry nos braços novamente e se sentou no chão, seguido por Amy.
Ficaram ali toda a tarde, brincando, rindo e escutando Rachel e Kurt entoar algumas músicas, dando a Harry as boas vindas a família, como só eles podiam fazer.